Capitulo 2
" Baby close your eyes and listen to the music drifting through a summer breeze"
Por
volta das seis e meia da manhã, Ben nos levou (eu, Melzinha e Flávia)
de volta para a casa de minha avó. Isso porque eu estava praticamente
dormindo no meio do gramado do campo de futebol. Pessoas normalmente
ficam sociáveis e comunicativas depois de alguns goles.
Eu fico autista e totalmente anti-social. Certo, não totalmente, já que Ben me fez companhia a noite toda.
É
ótimo conversar com ele. Por ser mais velho, seu papo é diferente dos
que eu estou acostumada com Chay, por exemplo. Ele tem uma visão mais
ampla do futuro, leva as coisas um pouco mais a sério, diferente do
restante de meus amigos.
Quando chegamos em casa, ele abriu a porta
do carro para que eu descesse, me deu um beijo de boa noite e me pediu
para sonhar com ele. Acho desnecessário pedir, já que obviamente eu
sonharia.
Subimos a grade, pulamos na sacada, abri a janela que daria para o quarto.
Nós entramos dando risadas abafadas sobre nada, eu exclamava um ‘shhh’ o tempo todo.
“Calem a boca, minha avó pode acordar...” eu cochichei rindo, vendo Melzinha tropeçar sobre seus próprios pés.
“Ela
já está acordada” de repente a luz do quarto foi ligada, e ai percebi
que minha avó estava sentada no sofá que ficava num canto do quarto.
“Onde
você estava, Lua?” sua voz era visivelmente seca e grossa. As meninas
me olhavam desesperadas e eu não sabia o que fazer. Minhas mãos
começaram a tremer de nervosismo e eu pensava no que dizer.
“Nós...
Nós ficamos com fome e resolvemos ir no Paddley Café comer alguma
coisa...” falei a primeira coisa que veio a minha cabeça. A feição de
minha avó me assustava, ela estava extremamente irritada.
“Não minta
para mim, garotinha. As coisas podem ficar bem piores do que já estão!
Pensa que não vi o Pontiac do seu amigo Suede as deixando aqui?” sua voz
já estava exaltada e eu dei um passo para trás, segurando a mão de
minhas amigas, que tremiam igualmente a mim.
Sabíamos quais seriam as conseqüências se nossos pais soubessem que chegamos às seis da manha em casa, no carro de um garoto.
“Vovó, por favor...” eu involuntariamente comecei a chorar, pois sabia o que iria acontecer.
“Você
me deixa sem escolhas, Lua. É minha responsabilidade cuidar de vocês, o
que os pais de Flávia e Mel vão pensar de mim?” ela levantou
bruscamente da cadeira. “Estou ligando para os pais de vocês agora.” Eu e
as garotas suspiramos desesperadas ao mesmo tempo, e Melzinha apertou
meu braço.
“Vó, por favor, não faça isso!” supliquei. Sabia que não
adiantava nada do que eu dissesse, então poupei as palavras. A minha
família (assim como a das meninas) era muito tradicional. Cheia de
regras, assim como a maioria de nossa época. Se você não cumprisse as
regras, você era punido. Simples assim.
Já não me recordo as tantas vezes que fui punida por não cumpri-las.
E
assim foi feito. Minha avó ligou para nossos pais, que apareceram
minutos depois em sua casa. Os pais de Mel estavam visivelmente
irritados e foram bruscos ao levar minha amiga para casa. Os de Flávia
pediram desculpa pela impertinência à minha avó, e sem uma palavra a
levaram. Sabia que ela não sofreria tanto com as conseqüências, já que
afinal, ela estava com o primo.
E eu? Bem, são nessas horas que desejei nunca ter nascido.
Meus
pais chegaram em seu Mercury Convertible , e o primeiro a sair do carro
foi meu pai. Ele estava com um robe azul escuro por cima de
provavelmente um pijama. Seus cabelos grisalhos estavam penteados para
trás, como sempre, e seu bigode preto se destacava em seu rosto sereno.
Ele tinha um charuto em suas mãos, e assim que entrou no hall da casa de
minha avó, minha mãe veio logo atrás, seus longos cabelos castanhos
presos em um coque, e uma expressão vazia, mas seus olhos eram cheios de
desgosto, isso era visível.
“Obrigada por ter ligado, Carmen” minha
mãe se dirigiu à sogra, mas sem tirar seus olhos de mim. “Vamos para o
escritório” ela desviou seu olhar e passou por mim, indo em direção à
sala atrás de nós. Assim que meu pai e eu passamos pela porta, ela a
fechou.
O escritório estava do mesmo jeito que meu avô deixara
antes de falecer. Estantes gigantescas sem espaço por entre os livros.
Uma janela de vidro enorme, como a do meu quarto, ficava a fundo, e uma
mesa de madeira rústica se encontrava no centro. Meus pais se sentaram
nas duas cadeiras em frente à mesa, e quando eu fiz menção de me sentar
também:
“Você fica em pé” minha mãe disse friamente, e eu continuei
onde estava. Não ousei olhar em seus olhos. “O que você pensa que está
fazendo com a sua vida, Lua?”
“O que a senhora quer dizer com isso?” falei calmamente, ainda sem mudar a direção dos meus olhares.
“Voltando
para casa às seis da manhã, trazida ainda por um garoto! Não me importa
o fato de ser um dos filhos do senhor Suede, o que pensa que falarão de
você?” sua voz começava a ficar alterada.
“Não me importa o que pensam...” continuei serena.
“Mas
me importa! Não quero que achem que minha filha é uma vadia!” ela
começava a gritar. Olhei boquiaberta para minha mãe, incrédula com o que
dizia.
“Não exagere, Mary...” meu pai tirou o charuto para se pronunciar pela primeira vez.
“Não
estou exagerando, John. É o que as pessoas pensam!” ela respondeu
alterada, se virando para meu pai. Dirigiu-se a mim novamente. “Se você
não se importa com a reputação sua e de sua família, alguém tem que se
importar por você, Lua. Você está ficando sem limites! E minha casa não
tem espaço para rebeldes...” ela se aproximou de mim, e apontou o dedo
em minha direção.
“Quer dizer que vai me expulsar?” Perguntei cínica.
“Quer
dizer que você vai ficar sem ver seus amigos inconseqüentes por um bom
tempo. Incluindo Flávia Suede e Mel Franco” ela respondeu entre dentes.
“Você não pode fazer isso!” falei mais alterada que o normal.
“Sim,
Lua, eu posso. E a menos que queria ficar sem seu carro, e sem vir à
casa de sua avó por um bom tempo, acho melhor me obedecer” Mary
continuou autoritária. Tive vontade de pular em seu pescoço, sem ligar
pelo fato de que foi ela quem me deu a luz. Eu e minha mãe nunca fomos
aquele exemplo de mães e filhas perfeitas dentro de quatro paredes,
claro que em publico, ela como esposa de um dos donos da cidade, tinha
que manter as aparências e fingir ser a mãe perfeita.
Sim, meu pai
era um dos donos da cidade. Por ser dono da maior fabrica, a que
inclusive mantinha a situação econômica e política estável dentro de
Bolton. Então ele era um senhor de muito respeito, talvez era mais
respeitado que o próprio prefeito. E eu, como filha pródiga dos
poderosos da cidade, deveria me portar como tal. Deveria. Mas como nunca
gostei de seguir padrões, minha mãe tentava de todos os meios me
colocar na linha. Inutilmente, é claro.
Mary passou por mim
elegante e superior, abrindo a porta do escritório, passando por minha
avó e indo direto à saída da enorme casa.
“Vamos, minha filha...”
meu pai colocou uma mão em meus ombros, me fazendo acordar dos meus
pensamentos revoltantes. Olhei-o decepcionada. Meu pai nunca dizia algo
quando minha mãe me punia, ele simplesmente se calava e me olhava
afundar.
Ele deu de ombros e me guiou até a saída da casa, onde minha avó nos esperava.
“Boa
noite, mamãe” ele deu um beijo na testa de sua mãe e saiu. Eu não me
despedi, apenas olhei-a com o mesmo olhar que lancei a meu pai, e ela
retribuiu como se pedisse desculpas. Tarde demais.
O caminho até a
minha casa foi silencioso. Havia uma maré de repulsa entre mim e minha
mãe. Eu estava com minha cabeça encostada no vidro gélido da parte
traseira do carro, e o via embaçar de acordo com a minha respiração.
Assim
que passamos pelo portão de bronze gigante e pelo jardim de extensão
interminável, meu pai parou o carro em frente à nossa casa e entregou a
chave ao motorista, para que ele o estacionasse na garagem.
Subi os
degraus de pedra correndo, abrindo ferozmente as portas desenhadas de
madeira, que dava lugar a um hall maior que o da minha avó.
O chão
era tão bem encerado que eu podia ver minha imagem ao passar por ele. As
paredes eram pintadas elegantemente em um tom bege, e logo a frente
podia-se ver uma escada gigante e bifurcada, que dava para o segundo
andar. Por baixo das escadas, haviam portas e portas, que davam para as
duas cozinhas, para uma sala de jantar, uma sala de reuniões, a
biblioteca, quartos dos empregados, sala de estar. Até hoje acho que não
pude conhecer a casa inteira, de tão imensa que era. Eu achava
exagerado, claro, por ser apenas eu, meu pai, minha mãe e minha irmã
mais nova, Jamie. Certo que abrigávamos os empregados, mas não tinha
necessidade de ter tantos.
“Meredith, leve Lua até seu quarto,
arrume sua cama e depois o tranque. Ela ficará lá dentro até dizer que
irá se comportar a partir de agora. Ela não tomará café da manhã, leve
apenas um chá e algumas bolachas a ela às três da tarde, e nada mais”
Mary ordenou à minha criada assim que entregou seu casaco a ela.
Meredith era minha segunda mãe. Talvez nem segunda, já que a considerava
mais minha mãe do que Mary. Fora ela quem me viu andar pela primeira
vez e ouvir minhas primeiras palavras.
Meredith me olhou assustada após as palavras de minha mãe e eu apenas dei de ombros.
“Não escutou, Meredith?” Minha mãe repetiu, grossamente.
“Sim senhora” a baixinha de no mínimo cinqüenta anos, respondeu rapidamente.
Subi
uma das escadas com passos pesados, sem mesmo olhar para Mary. Ao fim
da escada, havia uma nova bifurcação. Para os dois lados, havia milhares
de portas, cada uma levava para um quarto, ou uma sala diversa. Virei
para o lado direito, onde caminhei até chegar em uma das ultimas portas
do corredor. Era uma porta bege e imensa. Abri-a.
Dei de cara com o
meu velho quarto. Ele era imenso, outra coisa que pensava ser exagero.
As paredes tinham um tom rosa claro, com persianas enormes, e quadros de
diversos artistas espalhados por elas. Havia uma cama de casal no meio,
com rendas que caiam sobre o teto, tampando-a. Uma escrivaninha enorme,
com vários livros, bonecas da minha infância, retratos de meus
amigos...
Mais em frente havia um closet e uma porta que dava para meu banheiro.
“O
que você fez dessa vez, Lu?” Meredith me acompanhou entrando no quarto,
enquanto eu coloquei minha trouxa de roupas em cima de um sofá ao lado
da cama.
“Apenas cheguei em casa às seis da manhã no carro de
Benjamin Suede” falei como se aquilo fosse a coisa mais banal do mundo, e
para mim realmente era.
“Apenas? Você ainda acha isso pouco, Lu?
Até parece que você não conhece sua família...” Meredith dizia
rapidamente enquanto arrumava a minha cama. Até parece que eu ia
dormir...
“Tanto faz...” desdenhei e logo que Meredith terminou, me joguei naquela cama fofa.
“Você
subestima seus pais demais Lua, um dia os castigos não serão apenas te
trancar no quarto” a governanta parou de pé a minha frente com os braços
apoiados na cintura e uma cara de brava.
“Até lá, estarei bem longe
daqui, Meredith, fique tranqüila...” falei sem muita empolgação, e abri
meu livro Sonho de Uma Noite de Verão de Shakespeare, que eu havia
começado a ler um dia atrás.
Eu via muito de mim na personagem
Hérmia, onde seu pai a obriga a casar com Demétrio. Hérmia recusa-se a
fazer a vontade do pai e por isso é ameaçada pela morte, conforme a lei
ateniense que não dá à mulher direito de escolher o marido e pune com a
morte a desobediência.
Eu não estava sendo obrigada a casar com
ninguém, muito menos sendo ameaçada de morte. Mas eu sentia que toda a
minha liberdade de escolha, e principalmente minha liberdade para viver,
eram limitadas por meus pais. Hoje não era o primeiro castigo que eu
levara. Já ficara sem comer por dias a fio. Eu me recusava a admitir que
estava errada, afinal, eu não estava. Eu tinha o direito de viver minha
adolescência conforme eu escolhesse.
Meredith saiu do quarto
após recolher algumas roupas sujas no banheiro, e conforme minha mãe
mandara, trancara a porta, seguido de um sussurro de desculpas.
Seria
uma longa e tediosa tarde. Eu não diria o que minha mãe queria ouvir,
logo eu não sairia dali. Teria tempo suficiente para terminar minha
comédia, e quem sabe começar um novo livro.
Eu posso ser considerada
como estranha. Enquanto minhas amigas lêem revistas de moda como Elle
ou Vogue, e sonhavam em ser como Marilyn Monroe, eu lia livros que
apenas nossos pais liam e sonhava com faculdade. De acordo com meus
planos, eu passaria na Escola de Direito de Cambridge.
Perdi
noção do tempo enquanto lia, mas provavelmente não eram três horas, já
que Meredith ainda não havia trago meu lanche de consolo. Mas fui
acordada de minha concentração com um barulho na janela.
“Psiiiu” escutei. Olhei para os lados procurando pela origem do barulho.
“Psiiu!” Mais um barulho pode ser ouvido, tinha certeza de que alguém jogando pedras na minha janela. Clássico.
Levantei-me
depressa da cama, e coloquei um robe, já que eu estava apenas de trajes
íntimos, e abri a enorme janela do meu quarto. Dei de cara com Chay e
Micael parados no jardim em frente.
“Que diabos vocês estão fazendo aqui?” falei baixo mas num tom bravo, olhando para os lados desesperada.
“Flávia
me contou o que aconteceu ontem!” Chay disse alto e eu conseqüentemente
fiz um gesto para que ele falasse baixo. “Desculpe, tenho que acostumar
a sussurrar. Bom, ela me contou e conseqüentemente imaginamos que você
estaria de castigo... Para variar...” ele e Micael soltaram um risinho.
Rolei os olhos.
“E daí, Suede? Não é a primeira vez que fico de castigo” falei impaciente.
“Isso
é obvio, Lu...” ele disse rindo, e parando quando viu que falava alto
de novo. Começou a cochichar. “Mas estamos de férias, e temos que
comemorar!” ele abria os braços de um modo retardado, fazendo eu e
Micael rir.
“Suede, nós já todos os dias, Suede. E veja no que deu, estou engaiolada...” bufei e apoiei minha cabeça em minhas mãos.
“É
para isso que estamos aqui, Lu” Micael começou. “Um dia lindo de verão
como esse você não pode ficar enfurnada nessa casa mal assombrada” ele
fazia caretas enquanto dizia. “E vamos combinar que sem você as coisas
ficam meio sem graças...”
“Own Micael! O problema é que... Você sabe, se Mary descobre...”
“Ela não vai, Lu! A trazemos antes do sol se pôr” Chay prometeu.
“Anda,
ponha uma roupa e pegue seu biquíni... Maiô... Seja lá o que vocês
chamam aquilo” ele fazia gestos confusos com a mão. Suede sempre
atualizado.
“Okay, esperem um segundo!” Falei empolgada. Eu
simplesmente amava fazer coisas escondidas e proibidas. Era tudo tão
mais emocionante. Fui correndo para o closet escolher uma roupa. Se Chay
disse para pegar um biquíni, provavelmente iríamos à alguma cachoeira
ou rio. Coloquei um short de cós alto, uma camisa branca e amarrei-a
para cima do umbigo. Calcei minhas sapatilhas vermelhas preferidas e
finalmente, coloquei um chapéu breton branco sobre meus cabelos. Meu
maiô estava vestido por baixo da roupa.
Antes de pensar em como
sair dali, resolvi escrever um bilhete à Meredith. A mulher simplesmente
enfartaria se entrasse em meu quarto e não me visse lá. Eu pediria que
ela me acobertasse enquanto eu estava fora, ela sempre fazia isso, mesmo
que isso custasse seu emprego. Ela era a favor de toda a minha
filosofia de “curtir minha adolescência”.
Deixei o bilhete em cima da escrivaninha de madeira e fui em direção à janela novamente.
“Vocês
pensaram em como eu vou descer?” Interrompi a conversa dos dois garotos
lá em baixo. Eles se entreolharam. “Não me digam que...”
“Calma, Lu.
Nós somos gênios, claro que pensamos nisso” Chay, o pseudo-gênio disse,
com um sorriso enorme estampado no rosto. Ele acenou com a cabeça para
Micael, e este saiu do meu campo de visão, indo não sei onde. Chay ainda
sorria abobadamente e eu me indagava o que diabos esses dois armavam.
De repente Micael apareceu com uma escada de madeira maior que si mesmo (e que mal conseguia carregar, devo frisar).
“Roubamos a escada do seu jardineiro” Suede falou num tom infantil.
Rolei
os olhos e esperei Borges colocar a escada defronte à minha janela. Dei
uma ultima olhada no quarto antes de descer por ela.
“Você chama
isso de plano vindo de um gênio? Garotos, até um garoto de seis anos
pensaria em algo assim...” falei assim que Micael me ajudou a descer os
últimos degraus.
“Oh Lu, nós não tivemos muito tempo para pensar em
algo genial, okay? Essa casa tem muitos seguranças, então tivemos que
ser rápidos, e a pressa é inimiga da perfeição” Chay tagarelava enquanto
andávamos por entre os arbustos do jardim. “Micael caiu naquele galpão e
fez o maior estardalhaço, ouvimos vozes e viemos correndo.
Provavelmente estão procurando por intrusos” ele dizia de peito estufado e eu parei imediatamente.
“Eles os viram?” perguntei desesperada.
“Não
temos certeza... Na verdade acho que não, seus seguranças são bem
bobões” Suede disse abafando o riso. Segurei o meu, e voltei minha
atenção para como sairíamos dali. Estávamos nos fundos de minha casa,
onde havia uma imensa piscina, espreguiçadeiras e uma quadra de tênis
mais a fundo. Não haviam saídas por ali.
“Você é um retardado, sabia
Suede?” falei vagamente, coloquei meus óculos na altura do meu nariz
enquanto observava o jardim. Chay reclamava qualquer coisa e nenhum
plano vinha na minha mente.
“Vamos ter que pular o muro, Lu...” Chay disse. Certo, isso era obvio.
“Primeiro temos que passar pelos seguranças, Chay...” Micael deu um tapa em sua cabeça. Pelo menos alguém pensava comigo.
“Vamos ter que passar pelos arbustos da lateral...” apontei para aquelas plantas que ficavam encostadas nos enormes muros.
“Arbustos me dão coceiras...” Chay fez uma careta e olhou suplicante para mim.
“Sem
mais opções, vamos” peguei em sua mão e fomos em direção aos muros
laterais. Se passássemos por entre os arbustos, seria humanamente
impossível de sermos vistos.
Quando chegamos na parte mais baixa
dos muros que rodeavam a casa, Chay e Micael se abaixaram e apoiei-me
com os pés em cima de cada um, dando impulso para que eu conseguisse
pular. Eu quase caí ao chegar do outro lado do muro, e meus óculos
saltaram para dois metros longe de mim. Em menos de dez segundos, os
dois já me faziam companhia na calçada.
“Vou me coçar pro resto do
dia” Chay disse entre dentes enquanto tirava pedaços de folhas de seus
cabelos. Ele vestia uma larga calça jeans e uma regata branca simples.
Micael, o que se vestia melhor em minha opinião, estava com uma calça
igualmente larga, uma blusa preta colada em seu esbelto corpo, e uma
boina cinza na cabeça, juntamente com um óculos aviador para completar
seu charme.
“Pare de reclamar e vamos” Micael repreendeu o amigo, e nós três fomos em direção ao seu conversível azul.
Estávamos
na rodovia que saia da cidade. Micael dirigia, eu estava ao seu lado e
Chay ia no banco de traz. Não parou de reclamar sobre como cada parte de
seu corpo coçava irritantemente, até estragar uma música do Johnny Cash
que tocava no rádio, ele conseguiu.
Eu adorava essa estrada. Tudo
ao nosso redor era muito verde, e os campos de margaridas deixavam a
paisagem ainda mais perfeita.
O vento insistia em bagunçar meus cabelos, enquanto os de Micael continuavam impecáveis, provavelmente por causa do gel.
Chay estava deitado nos bancos, enquanto eu e Micael embalávamos uma conversa empolgante sobre música.
Meia
hora depois, Micael virou à direita num caminho para fora da rodovia.
Era uma estradinha de terra, que guiava até dentro de uma densa mata.
“Falta
muito, Micael?” perguntei curiosa, observando as grandes árvores. A
floresta era bastante úmida, e eu segurei meu chapéu para que ele não
voasse.
“Já estamos chegando...” ele disse com um pequeno sorriso,
enquanto dirigia concentrado. Chay se sentou novamente e apoiou os
braços entre o meu banco e o de Micael.
“Este lugar é o máximo. Eu e
os garotos o descobrimos esses dias. O pessoal já deve estar ai...”
Chay disse esboçando aquele enorme e lindo sorriso em seus lábios. Eu
amo o jeito como Chay sorri, é tão verdadeiro e... feliz. Sorri de volta
e voltei a prestar atenção as arvores e animais ao meu redor. Após
alguns minutos, pude ver uma luz mais a frente, e a medida que
chegávamos mais perto, pude perceber que a estrada acabava ali. Vi mais
dois carros estacionados perto das arvores, onde Micael também
estacionou o seu.
Os meninos saíram do carro, e Chay abriu a porta para que eu descesse também.
“Vamos!” disse ele empolgado, pegando na minha mão e seguindo Micael para dentro da mata novamente.
Depois
de uma caminhada de cinco minutos, eu pude ouvir risos histéricos de
pessoas logo a frente. Passando por mais algumas arvores, vi um pequeno
lago, onde meus amigos nadavam. Estavam Flávia, Melzinha, Fernando e
Arthur. Esperava ver outra pessoa em especial, mas ele não estava lá.
“Até
que enfim, Lu! Achei que esses loucos tinham seqüestrado você!”
Melzinha gritou, e eu ri, olhando para os garotos do meu lado. “Anda,
vem nadar!” ela ria, enquanto Arthur jogava água na mesma.
Comecei a
tirar meu short, tirei meu chapéu e a camisa logo em seguida. Vi Chay e
Micael também se despiram (com gritos histéricos de Melzinha e Flávia a
fundo) e fomos os três correndo em direção ao lago.
“Ai meu Deus, isso ‘tá muito alto!” eu gritava de cima da arvore, onde via meus amigos lá embaixo.
“Anda
logo, Lu! Todos nós pulamos, e viu? Ninguém morreu!” Arthur gritava,
mas nem assim eu me encorajei. Havia uma corda amarrada em um galho da
arvore, e na ponta da corda estava amarrado um pneu. Todos meus amigos
já haviam pulado, mas meu medo de altura era maior.
“Eu pulo com você, Lu” Fernando apareceu atrás de mim.
“Você é louco? Essa arvore quebra com dois obesos como nós!” falei histérica e rindo logo após.
“Obesidade
aqui eu só vejo em você, agora deixa a frescura de lado e vamos” nem
tive tempo de protestar ou reclamar. Fernando segurou firmemente em
minha cintura com uma mão, e a outra ele levou até a corda. Deu um salto
e voamos em direção ao lago. A ultima coisa que vi antes de cair, foi a
cara de deboche dos meus amigos.
Dei um impulso para cima, voltando a superfície e respirando. Chay e Arthur riam histericamente.
“Você precisava ver a sua casa de desespero, Lu!” Chay disse entre suas risadas.
“Há-Há,
muito engraçado, Chay. Um dia te coloco em um quarto muito escuro, sem
luz nenhuma, e você vai ver como é bom sentir medo” ameacei. Suede
morria de medo de escuro, isso todo mundo sabia. Ele fechou a cara
imediatamente e resmungou alguma coisa que não pude escutar.
Brincamos de ‘briga de galo’ (eu e Micael ganhávamos todas), depois improvisamos um piquenique nas margens do rio.
“Certo,
agora que todos estão de barriga cheia, é hora de vocês cantarem para
gente” sugeri, guardando o resto das comidas dentro da cesta que Flávia
havia trago. Os meninos concordaram, e Arthur foi rapidamente pegar os
violões dentro do carro. Logo mais ele voltou e entregou um dos violões à
Fernando.
Os quatro, Fernando, Chay, Micael e Arthur, faziam parte
de uma banda, o McFly. Eles tocavam apenas por diversão, nós sempre
fazíamos musicas juntos, até que um dia Melzinha sugeriu que eles
formassem uma banda. Eles gostaram da idéia, e desde então compõem suas
próprias musicas.
Nunca fizeram shows por aí, sempre cantavam suas musicas apenas para mim e as meninas. Eles eram realmente ótimos.
“Essa aqui é só o esboço de uma musica que ainda ‘tô tentando escrever...” Fernando disse, começando a melodia de sua musica.
“Recently I've been
Hopelessly reaching
Out for this girl
Who's out of this world
Believe me”
As
vozes dos garotos se combinavam em perfeita sintonia. Enquanto Fernando
cantava, ele trocava olhares com os outros meninos, que vez e outra
riam.
“She's got a boyfriend
He drives me round the bend
Cos he's 23 he's in the marines
He'd kill me
And so many nights now
I find myself thinking about her now”
Assustei-me
um pouco ao ouvir esse trecho da musica. Apenas no trecho em que dizia
“Porque ele tem 23 anos”... Era só coincidência, isso era obvio. Ben não
era o único garoto com 23 anos na cidade, pensei. Fernando cantava de
cabeça baixa, olhando atentamente para as cordas do violão, enquanto
Chay e Arthur trocavam olhares.
“Cos obviously she's out of my league
But how can I win
She keeps dragging me in
And I know I never will be good enough for her (no, no)
I never will be good enough for her.”
Eu
particularmente estava amando a musica. E aparentemente, as meninas
também, já que olhavam abobadas para Chay e Micael. Eu era fã da voz e
das letras de Fernando, apesar delas serem totalmente o oposto do que
ele era. Sempre cantava músicas com letras de amor, sobre uma certa
garota, mas Fernando não era o tipo de homem apaixonado. Pelo que
conheço do meu amigo, nunca namorara, dizia sempre que queria ‘curtir
sua adolescência’ (não como eu, isso era óbvio). Nunca o julguei, só o
chamo de mentiroso toda vez que ele termina de compor alguma canção.
“Vocês são ótimos!” bati palmas empolgada e dei um abraço em cada um.
Continuamos ali por mais um tempo, cantando músicas do Elvis junto com os garotos, e vendo o céu ficar cada vez mais escuro.
Quando
o sol estava para se pôr, Micael e Chay me levaram para casa como
prometido. Ajudaram-me a pular o muro, e eu fiz todo o trajeto de volta
até o meu quarto, sem ser notada por nenhum dos seguranças fardados que
rodeavam a mansão.
Meu quarto estava intacto, uma bandeja com
bolachas em cima da cama. No bilhete que escrevi à Meredith, havia uma
resposta: “Meus cabelos estão ficando brancos mais rapidamente por sua
culpa, Lu.” Ri e logo depois me joguei na cama, pegando uma bolacha da
bandeja. Ninguém seria capaz de me afastar daqueles seis. Nem Deus, nem
mesmo minha mãe. Eu preferia morrer a me separar.
Continua.
Escrito por : Carla
q perfeito Samy eu amei cara..ela escreve bem :) OBS: As suas sempre vão ser as minhas preferidas, mais ela e a Isa mandam bem sim ;)
ResponderExcluirmuito perfeito, tbem to amando, obrigada amor, sim elas mandam muito bem
ExcluirSamy a web q mo galera tipo curti mesmo aqi no teu blog é quem eu realmente amo?
Excluirnossssaaa mto show essa web...sou mto fã dela!!! Posta mais Samy....posta mais.....rs parabensss gata vc arrazaaa!!!
Prefiro vc Samy.....desculpa mas as suas sao mil vezes MELHORES...pf posta mais das suas webs....nao nos deixe pf samy.....
ResponderExcluirbjos sou sua fã!
Com certezaaa total!!!
Excluiressas ate nem foram taaoo ruins masss as suas samy dao de mil a 00000....
nossa, obrigada amores :D e eu não vou deixar você..não se preocupe :D..chegar da escola eu posto
Excluirnaum gostei muito dessa web pq os capitulos são muito grande procura diminuir um pouco e escrever mais capitulos mais ta muito linda
ResponderExcluirnão sou eu quem faço amor...
Excluirpois é...fica cansativo ler uma coisa taooo grande...chega a ficar desorganizado ...as q vc posta Samy sao bem organizadinhas...e essas n...por isso q da preguiça de ler!!! rsr
Excluirkkkkkkkkkkkkkkkkk
Excluir