terça-feira, 16 de abril de 2013

Web Doce Amor

                                  Capítulo 16




Minha cabeça latejava. Minha têmpora palpitava fortemente, me fazendo levar a mão até a testa e apertá-la fortemente na inútil tentativa de fazê-la parar de doer. O quarto rodou algumas vezes e uma ânsia me invadiu.
Lembrete: exagerar na tequila nunca é bom. E não havia ressaca pior do que a dessa bebida, definitivamente.
Levantei lentamente tentando evitar uma dor maior, mas fracassei. Olhei para os lados. Não tinha a mínima idéia de como havia parado ali. Não me lembrava de ter entrado no quarto, de ter colocado minha camisola, não lembrava de...
CÉUS! O que eu havia feito ontem? Fora um sonho ou eu realmente havia beijado Fernando Roncato?
Meu estômago revirou com a possibilidade e no instante em que percebi que não seria capaz de guardar todas aquelas coisas ruins dentro de mim, corri em direção ao banheiro, batendo a porta ferozmente e me joguei no chão em frente à privada. Joguei tudo aquilo que me fazia mal para fora, sentindo um gosto terrível em minha boca logo após.
Lembrete: nunca mais beber tequila. Ou beber tequila e beijar impulsivamente as pessoas.
“Luinha? Tá tudo bem ai?” escutei a voz de Fernando vindo do outro lado da porta. Meu estômago se voltou contra mim novamente e não pude conter o vômito novamente.
“Luinha?!” o garoto repetiu, batendo insistentemente na porta. Eu jamais sairia dali novamente. Era meu lar permanente a partir daquele momento.
Bati em minha cabeça, inconformada com a minha burrice. Eu beijei o Fernando! Eu havia o beijado! Beijei o garoto que vivia sobre o mesmo teto que eu! “Luinha, vamos lá, me responda!” seu tom de preocupação era perceptível. Cheguei à conclusão que eu seria a pessoa mais infantil – se já não era – se não encarasse aquela situação com maturidade. Lide com seus atos e as conseqüências dele. Ninguém mandou você ser uma bêbada louca e impulsiva. Levantei-me do chão e fui em direção a pia para escovar os dentes e tirar aquele gosto horrível da boca. Joguei água fria em meu rosto, a fim de acordar definitivamente e me dar um pouco de razão para encarar toda aquela situação. Com que cara eu o olharia? O que eu diria?
Eu estava perdida... Era melhor começar a procurar um apartamento naquele instante ou dormir no curral com o Churrasquinho e companhia.
“Oi... Eu estou bem...” falei com a voz vacilante assim que abri a porta do banheiro e vi um Fernando apenas de samba-canção, fazendo meus pensamentos se embaralharem ainda mais.
“Tem certeza?” ele me encarou profundamente, procurando a verdade em meus olhos. Será que eu era tão previsível assim?
Afirmei com a cabeça e andei a passos largos até o quarto, fechando a porta com força em seguida.
Fechei uma pálpebra contra a outra fortemente. Eu queria que tudo desaparecesse. E que no momento seguinte em que eu abrisse meus olhos, eu repararia que tudo não passava de um sonho confuso e sem nexo.
Os abri. Merda. Eu realmente estava perdida.
Eu queria esquecer tudo que havia acontecido, mas a cena de Fernando com seu corpo semi-nu estava dificultado.
O cheiro dele parecia estar grudado em mim desde ontem, seu beijo perseguia cada pensamento pacífico meu, o som do seu coração batendo contra seu peito batucava em meu ouvido, e seus olhos me impediam de ter qualquer razão naquele momento. Eu podia sentir todas as sensações de ontem ao fechar os olhos. E meu coração dançava inquieto dentro de mim.
Eu na verdade não queria esquecer. Queria guardar aquela cena – por mais distante e obliqua que me parecia – para sempre.
“Venha tomar café, Luinha” ouvi novamente a voz grave do garoto me chamando do lado de fora do cômodo. Eu realmente não teria paz. Eu jamais seria capaz de esquecer.
Suspirei profundamente e vesti um jeans de cós alto e uma camisa branca, a qual amarrei as bordas até o umbigo.
Abri a porta e fui em direção à cozinha em passos vacilantes e indecisos. Encarar Fernando sóbria não seria uma tarefa fácil.
“Bom dia” ele disse sorridente assim que coloquei os pés no cômodo. O garoto fazia algumas panquecas e aquele avental o caíra incrivelmente bem.
“Dia...” falei simplesmente, sentando-me na mesa e mantendo cabeça baixa. Fernando cantava uma musica que não pude reconhecer, demonstrando total alegria naquele dia. Eu poderia fazer o mesmo se a timidez não estivesse me controlando. Notei que tio Lewis não se encontrava ali, o que me fez afundar em discórdia por ter que encarar Fernando sozinha.
“Fiz panquecas de banana. Espero que goste” ele veio em minha direção com uma frigideira na mão, e colocou a comida em um prato posto à minha frente. Sorri vergonhosamente enquanto ele colocava uma panqueca para si e sentava na cadeira oposta a mim.
“Hoje tem festa na casa do Micael” Fernando disse alheio, e percebi sua tentativa de quebrar aquele clima pesado entre nós.
“Hm” enfiei um grande pedaço de panqueca na boca, evitando ter que dizer – ou fazer – qualquer besteira.
A vontade de olhá-lo estava me consumindo por dentro e tudo aquilo me parecia uma tortura horrível. Ao mesmo tempo em que tudo parecia muito errado, uma sensação de que era mais que o certo me atordoava.
Eu odiava essa bipolaridade.
“Luinha...” Fernando me chamou após alguns minutos constrangedores e silenciosos, onde escutávamos apenas o barulho dos talheres trincando nos pratos.
“Sim?” respondi alheia, tentando não transparecer meu nervosismo.
“Sobre ontem...” gelei. Meus músculos travaram no mesmo instante em que as palavras do garoto atingiram meus ouvidos.
“Esqueça Fernando” falei imediatamente, interrompendo qualquer oração que possivelmente sairia da boca dele. “Nós dois estávamos bêbados, não devemos levar em conta esses atos inconseqüentes. Você me chamou para morar aqui, e para isso dar certo, não devíamos ter feito o que fizemos ontem. Está errado!” eu vomitei as palavras em uma velocidade incrível, ficando até mesmo sem ar. Coloquei uma mão em minha testa, esfregando-a nervosamente.
Eu estava lutando contra mim mesma dizendo aquelas palavras. Tive vontade de sair correndo daquela casa e morar debaixo de uma ponte só para repetir o acontecimento da noite anterior.
Meu coração parecia chamar por ele, meus lábios formigavam para ir de encontro com os dele...
Fernando não disse uma palavra. Não me encarava também. Sua cabeça estava escorada no pulso e seu olhar direcionado ao centro da mesa. Uma expressão vazia em sua face, a qual triturou todos meus órgãos vitais. Parecia que quanto mais eu queria remediar aquela situação, mais besteiras eu fazia. Eu merecia morrer, essa era a grande verdade universal.
“Me desculpe” falei em meio de um suspiro. “Eu só estou muito confusa, Fernando. Tente entender. São milhares de coisas acontecendo ao mesmo tempo ultimamente, e o que eu menos preciso no momento é de uma complicação a mais...”
“Eu entendo. Fique tranqüila, Luinha. O que eu menos quero é tornar as coisas mais difíceis pra você...” ele disse, ainda encarando o centro da mesa.
Abaixei minha cabeça, me sentindo uma total idiota. Como eu poderia tratá-lo daquela maneira? Que tipo de pessoa eu era?

Terminei de comer minha panqueca e levei minha louça até a pia, lavando-a em seguida. Totalmente sem graça, fui silenciosamente até o quarto em que estava hospedada. Joguei-me na cama, de modo que meu rosto ficasse totalmente escondido pelo travesseiro.
Eu não sabia o que fazer, e estava cansada de não saber de nada. Cansada de não saber definir meus sentimentos, de não saber o que eu realmente queria. Cansada de ser tão racional a ponto de esquecer minhas emoções.
Você é uma verdadeira idiota, meu subconsciente me dizia, e não havia como negar.
Após alguns minutos me martirizando, fui em direção à janela – que antes estava fechada – e a abri. O sol radiante invadiu todo o quarto e uma paisagem em especial chamou minha atenção.
Fernando sentado debaixo da copa de uma grande árvore, com os joelhos dobrados apoiando uma folha de papel, uma caneta em uma mão e um cigarro na outra. Bradock deitado ao seu lado fazia força para manter os olhos abertos.
O garoto deu uma tragada profunda e encostou a cabeça no troco da planta, fechando os olhos em seguida.
Instigava-me o que ele poderia estar pensando. Provavelmente me amaldiçoava em pensamento, ou simplesmente procurava por um momento de paz, sem minhas palavras sem nexo para atordoá-lo.
Abriu os olhos e expirou a fumaça do tabaco, começando a escrever algo na folha de papel em suas pernas. Colocou o cigarro em seus lábios, e ao mesmo tempo em que escrevia, inspirava o fumo. Ele parecia ainda mais charmoso daquela maneira misteriosa.
Seu rosto nada aparentava como sempre, e uma vontade louca de poder ler o que escrevia me abateu. E outra de correr em sua direção e agarrá-lo novamente, sem pudor algum. Entretanto me contentei a observá-lo de longe, sozinho em sua abundante perfeição.

“Obrigada, Fernando. Até na festa” entreguei o capacete a ele e fui em direção aos grandes portões da casa de Mel. Escutei o motor da moto roncar e soltar uma grande quantidade de fumaça assim que ganhou movimento.
Eu havia combinado com minha amiga de nos aprontarmos juntas para a festa na casa de Micael, enquanto os garotos arrumavam todos os preparativos.
A minha tarde fora bastante silenciosa e torturante. Fernando e eu não trocamos mais palavras durante o dia todo e eu me arrependi de ter dito tanta coisa. Mas era melhor daquele jeito. Daqui uns dias eu arranjaria meu apartamento e tudo mudaria.
O porteiro me deixou entrar e eu trilhei o caminho conhecido por entre os jardins até a entrada principal da casa. Melzinha me esperava na porta com um grande sorriso e me abraçou fortemente assim que estávamos a poucos centímetros de distância. “Como está, cachaceira?” ela disse entre risos enquanto me empurrava para dentro da casa.
“Se melhorar estraga” falei irônica e aos risos, já subindo as escadas em direção ao quarto da garota. Nenhum sinal da mãe de Melzinha e eu agradeci mentalmente por isso. Com todos os conflitos internos eu não seria capaz de escutar todas as baboseiras moralistas e me comportar educadamente. E o que eu menos precisava naquele momento era que Mel fosse proibida de andar com a filha revoltada dos Blanco. Minha amiga me emprestaria uma roupa de festa, já que tudo o que eu havia levado da minha casa eram roupas velhas.
No mesmo tempo em que nos trocávamos, Melzinha me contara que todos haviam visto a minha cena com Fernando e ficaram radiando de felicidades. Bem que eu escutei vários gritos exaltados enquanto nos beijávamos... Contou também que eu adormeci no peito do garoto de tão alcoolizada que estava, e o mesmo me carregou em seu colo até o quarto, me deitando com todo o carinho e cuidado do mundo, de acordo com as palavras da minha amiga.
Claro que não pude deixar de sorrir abobadamente e meu coração saltou só de lembrar de tudo
“Não vai acontecer de novo, Melzinha” falei um tanto desapontada, sabendo que não precisava fingir seriedade perto dela. Eu poderia ser sincera e demonstrar o quão chateada eu estava com aquela situação.
“Pare de besteira, Lua! Por que não?” me perguntou inconformada enquanto terminava de colocar uma meia-calça nas pernas.
“Não é certo, Melzinha” falei um pouco alheia, procurando alguma roupa que me agradasse no guarda-roupa da garota. “Eu estou sob o mesmo teto que ele, o que você espera disso?” perguntei, pegando um vestido vermelho e preto e colocando-o em frente ao meu corpo.
“Um amor louco, intenso e selvagem” ela forjou uma cara sonhadora, me fazendo cair na risada e jogar uma almofada em sua cabeça.
“É disso que eu estou falando! O que eu não preciso agora é algo louco ou intenso e muito menos selvagem!” comecei a me despir para colocar a roupa escolhida. Mel era realmente uma sonhadora louca, aquelas típicas mocinhas de livros românticos.
“Você é muito boba, isso sim. Eu com um garoto louco por mim daquele jeito, estava feita!” ela se jogou na cama. Rolei os olhos.
“Você tem um garoto louco por você para começar. E outra, Fernando não é louco por mim. Foi uma coisa de momento Mel, tire essa ilusão da sua cabeça” eu queria me convencer de que aquilo era tudo ilusão, apenas para não ter que encarar o fato de ser uma idiota e estar correndo de algo que era tudo o que eu sonhava.
“Não vou mais discutir com você. Quando se realizar da burrada que está fazendo, a gente conversa” Melzinha se deu por vencida e agradeci mentalmente por não ter que me torturar com aquele assunto por mais algum tempo. Se já não bastasse toda a minha alma se revoltar contra mim, agora Mel também se rebelava. Era melhor deixar tudo como estava, e em questão de minutos eu já teria esquecido o assunto. Assim eu esperava.

A casa estava lotada, como era de se esperar. Todas as festas que os quatro garotos lançavam eram sempre um sucesso. Não havia um adolescente que perderia se embebedar e dançar loucamente quando eram chamados. A geração inconseqüente.
Havia um grupo bratinado¹ no jardim de entrada da mansão, os quais fumavam haxixe em um bong. Reparei que Micael estava sentado na roda do tal grupo e pegou o bong das mãos de um garoto alto, roupas desgastadas e de rastafari no cabelo. Inalou a fumaça de dentro do objeto, jogando a cabeça para trás com uma expressão de total prazer. “Já começou” Mel sibilou entre dentes, enquanto reparávamos no movimento antes de entrarmos.
Ao passar os olhos pelo movimento da rua, totalmente alheia, meus músculos travaram assim que avistei um carro conhecido.
Aquele carro que sempre me passava serenatas em minha casa estava estacionado em frente à casa de Micael. Tentei digerir aquela informação, um possível porquê daquele veiculo estar ali, mas nada veio em minha mente. Não fazia sentido ele estar ali, afinal, não tinha conhecimento de nenhuma pessoa que fosse do circulo social do meu amigo e que possuísse aquele carro.
“Mel!” puxei-a pelo braço e apontei em direção ao veículo.
“O que tem?” ela perguntou desentendida.
“É o carro que sempre me passa serenata!” eu gritei, totalmente chocada e nervosa.
Escutei Melzinha soltar um gritinho chocado e apertou minha mão. Olhei-a desesperada e ela me devolveu igual.
Ela me puxou pelo braço e passamos rapidamente pelo jardim e adentrando a casa. A música estridente pulsava das caixas de som, uma luz vermelha fora colocada no teto, deixando aquele ambiente ainda mais boêmio.
“DO YOU LOVE ME?” Mel gritava enquanto passava por entre as pessoas. Eu andava na ponta dos pés e esticava o pescoço a procura de um rosto desconhecido. Eu teria que achá-lo! Era como se minha vida dependesse daquilo. Eu precisava conhecer aquele que melhorava minhas noites.
Vi George Stuart, o galã da Windsor School e primo de Micael vir com dois copos de bebidas em nossa direção, empurrando-as em nossas mãos. George era realmente bonito. Alto, cabelos ligeiramente loiros e bagunçados, olhos verdes e um corpo admirável. Sua camisa branca estava aberta e a gravata envolvia seu pescoço, dando-o um ar ainda mais descolado.
“Como estão, garotas?” ele gritou, passando um braço em meu ombro e o outro no de Mel. Senti seu hálito forte, com uma mistura de álcool e erva.
“Muito bem” minha amiga respondeu, tomando toda a vodka no copo em um só gole, dando um rugido logo após. “MAIS!” ela gritou veemente, levantando o copo para cima e indo em direção ao bar.
“Que animação é essa?” George fez uma careta confusa, ainda olhando Mel se afastar. Eu também não sabia o que havia acontecido com minha amiga, então simplesmente dei de ombros. Mel me assusta às vezes.
“Onde está todo mundo?” perguntei, não vendo um sinal nos meus amigos ali no hall da bagunça. Tudo que pude ver era um emaranhado de pessoas loucas. Garotas em cima das mesas, outros fumavam narguilé num tapete ali perto, os garotos corriam atrás das garotas, nada de muito diferente.
“Ali fora, para variar” o garoto apontou para a varanda com a cabeça e eu rolei os olhos. Obvio, meus amigos tinham essa incrível mania de não se misturarem. Não que fosse frescura, nós simplesmente preferíamos curtir isoladamente.
Fui em direção aos fundos, com George ao meu alcance. Dei um grande gole na bebida que ele me dera e meus olhos continuavam ágeis, passando por todos os cantos da casa. Nenhum sinal de um estranho candidato.
“RAFINHA!” escutei alguém gritar pelo meu nome e um corpo escurecer minha visão com um abraço.
“Como vocês são rápidos!” falei após sentir o bafo de cerveja de Chay em meu rosto. O garoto tinha os olhos confusamente bêbados e imaginei que eles estariam bebendo desde a hora que Fernando viera para arrumar os preparativos.
“Sempre somos. Agora é a hora da bêbada mestre se juntar à nós” ele disse me puxando pelo braço e me levando à beira da piscina, onde todos da turma estavam sentados em torno de um bong como o que vi na entrada da casa.
Arthur estava inalando a substancia e vi uma expressão de prazer e relaxamento tomar conta de seu rosto. Soltou um grito logo após. Vi uma caixa de isopor ao lado do garoto e presumi que havia (muitas) bebidas ali dentro.
Tomei rapidamente todo o álcool do meu copo e fui rapidamente em direção à caixa, enchendo-o novamente de vodka pura.



[coloquem essa música para tocar agora]

“Oh, você só pode estar brincando!” gritei assim que A voz invadiu meus ouvidos. “).toUpperCase()), EU TE AMO!” apontei para meu amigo, que estava do lado da vitrola que tocava a musica. O garoto riu e veio em nossa direção.
Vi todas as pessoas de dentro do cômodo se movimentarem lentamente de acordo com a musica. Umas garotas se moviam sensualmente para os meninos, outras simplesmente se mexiam sozinhas, curtindo o som abalar seus sentidos.
“Well, since my baby left me, I found a new place to dwell” cantei lentamente, seguindo a voz do meu Rei e movendo meus quadris de acordo com os acordes do piano. Fechei meus olhos e deixei-a simplesmente me levar.
“It's down at the end of lonely street at Heartbreak Hotel” minhas mãos percorriam meu corpo involuntariamente, e eu não tinha a mínima noção de como as pessoas estavam me vendo naquele momento. Eu queria apenas sentir aquela música tomar conta de mim.
Tomei mais um grande gole da vodka, sentindo-a rasgar minha garganta como sempre.
Senti um cheiro forte de maconha ali perto e vi um baseado entre os dedos de Chay. Apenas estendi minha mão e o garoto entregou o fumo a mim.
Fechei os olhos e traguei o quanto pude do fumo enrolado em papel de palha e estendi-o de volta para Chay.
Meus quadris continuavam a se movimentar e eu pude sentir que estava flutuando. Não contive um sorriso em meu rosto, seguido de uma gargalhada. Tudo estava mais leve, suave, e tive a certeza de que nada poderia me afetar naquele momento.
Senti duas mãos envolverem minha cintura em movimento e logo em seguida, um corpo sendo colado ao meu. Meus sentidos estavam totalmente vagos, mas o sexto me dava a certeza de quem estava ali. Seu cheiro era inconfundível. Seu toque era único.
Se antes meu coração já palpitava confuso, agora ele queria sair do meu peito, de tão forte que batia.
Seu corpo se movimentava na mesma sincronia que o meu, e eles pareciam se encaixar perfeitamente.
Sua respiração falha batia de segundo em segundo no meu pescoço descoberto. Meu corpo tinha vontade própria, minha mente havia sido completamente embaralhada pelo efeito do baseado e eu simplesmente cedi às vontades do meu coração escandaloso.
Envolvi os braços de Fernando – os quais permaneciam firmes envolta da minha cintura – e entrelacei nossas mãos. Joguei minha cabeça para trás, encaixando-a no ombro do garoto. Estava tudo cada vez mais embaralhado, e meu corpo ficava cada vez mais leve. Tive medo que a gravidade pudesse me tirar dos braços de Fernando.
“You make me so lonely baby” o escutei sussurrar bem próximo do meu ouvido, fazendo todos os cabelos da minha nuca se arrepiarem. “I get so lonely, I get so lonely I could die” depositou alguns leves beijos por trás da minha orelha, e o toque de seus lábios úmidos e quentes me fez delirar. Tive medo de não ter controle sobre minhas ações nos próximos minutos.
“Por que está fazendo isso comigo?” me permiti sussurrar, ainda de olhos fechados e sentindo sua boca me causar sensações incríveis. Escutei o garoto soltar um riso abafado pelo meu pescoço.
“Eu sou um tremendo egoísta, Luinha” ele disse no mesmo tom, apertando-me ainda mais contra si. “Eu simplesmente não consigo ficar longe de você...” sibilou calmamente, beijando meu ombro dessa vez. Cravei minhas unhas em suas mãos.
“Mas... Não é certo” as palavras pareciam ser um mero suspiro. Milhares de coisas passavam pela minha cabeça, mas elas simplesmente me pareciam confusas demais. Minha língua estava mole, o que dificultava ainda mais minha tentativa de falar.
“Se fosse errado, meu coração não estaria dizendo que isso é a coisa mais certa da minha vida...” outro beijo. Me encolhi.
Por mais tonta e confusa que eu estivesse, suas palavras encaixaram-se em mim perfeitamente. Meu corpo gritava para ficar perto do dele, minhas mãos imploravam para estarem entrelaçadas nas dele, meus lábios pulsavam pelos dele. “Me prova que isso não é errado...” sussurrei, virando-me de frente à ele, encarando o mar de perfeição que eram aqueles olhos.
Fernando olhou para nossas mãos ainda entrelaçadas, e levou a minha direita até seus lábios. Depois, simplesmente me deixou ali sozinha, totalmente confusa e absorta, sentindo meu coração se debater contra mim. Falou algo para Chay, Micael e Arthur, os quais riram e o seguiram para dentro da casa. Passaram pela multidão e subiram a escada que ficava no meio do hall. Encarei Mel, que estava visivelmente bêbada e totalmente bratinada, e ela simplesmente gargalhou. Impressionante como lombrados² são incrivelmente felizes. Meu olhar passava ansioso pelo salão, encontrando apenas pessoas incrivelmente animadas. Nenhum sinal dos garotos. Meus pés já batiam impacientes contra o chão.
Resolvi acabar com aquela vodka em meu copo e colocar mais. Ela pelo menos me acalmava.
Após longuíssimos cinco minutos – que não só pelo efeito do baseado, realmente pareciam longos – vi uma movimento dos garotos dentro da sala. Apertei meus olhos para ver melhor, mas enxergava apenas alguns borrões.
Algumas pessoas se afastaram, rodeando os garotos. E eu ainda não descobrira o que diabos eles estavam fazendo.
Vi Chay subir em cima do sofá com uma guitarra em mãos, assim como Arthur e Fernando. Micael estava de pé com uma máquina fotográfica mãos. Eu não entendi aquela cena muito bem, até escutar Fernando falar em um microfone improvisado.
“Olá pessoal” ele disse e todos gritaram e levantaram seus copos para o ar. “Estou aqui apenas para cantar uma musica especial para a garota mais linda dessa festa” gritou e olhou em minha direção. Meu queixo foi até o chão e minhas mãos tremeram. Vi Mel correr em minha direção e dar me dar um leve empurrão. Todos da sala direcionaram seus olhares à mim, me deixando extremamente envergonhada.
Fernando começou os primeiros acordes de uma musica que eu ainda não havia reconhecido, e corri para dentro do hall, empurrando qualquer pessoa que se pusesse na minha frente sem a menor educação.

“l send you red roses by the dozen
I’ll call you sweet little things like turtle dove
I’ll whisper pretty things in your ear
The kinda things a girl likes to hear
Baby, if you’ll give me all of your love”

Ele começou com aquela música animada, e assim que cheguei à uma distancia relativamente próxima, não contive um grito surpreso e alegre.
I’ll bring you pounds and pounds of chocolate candy
To prove it’s you that i’ve been thinking of
Tear up all the pictures i own of every pretty girl i’ve ever known
Baby, if you’ll give me all of your love”

Fernando cantava e olhava diretamente em minha direção, com um sorriso dócil e maroto ao mesmo tempo, enquanto suas mãos ágeis tocavam a guitarra. Pude perceber os olhares incrédulos garotas ao meu redor, mas eu pouco me importava. Minha atenção estava totalmente voltada para o garoto perfeito à minha frente.
“I’ll take you dancin’ every night until you’re ready to drop
I’ll kiss your sweet red cherry lips until you holler stop
Every night i’ll serenade you ‘neath your window
If you need me just a whistle and i won’t need a shove
I’ll hug you squeeze you tight as i can
It ain’t gonna be no one-night stand
Baby, if you’ll give me all of your love”

Os flashes da câmera de Micael eram constantes, e hora ou outra se dirigiam à meu rosto atônito. Eu não sabia se ria, se gritava, se pulava – nos braços de Fernando – se cantava... Todos ao meu redor dançavam loucamente – a não ser certas meninas que ainda me olhavam chocadas, provavelmente se mordendo de inveja por ter um garoto como Fernando cantando para mim – e tudo o que eu queria era me jogar em seus braços.
“If you will give me, if you will give me all your love”
Eu definitivamente daria tudo, tudo o que ele quisesse.
Não tive controle sobre meus atos, e assim que Fernando colocou a guitarra em cima do sofá, me vi correndo em sua direção e pulando em seu colo.

“Você não pode ser lindo desse jeito” eu disse, vendo os flashes de Micael baterem sobre nós. Eu não me importava. Que esse momento fosse registrado não só em minha mente, como nas fotos.
As mãos do garoto envolveram minha cintura fortemente, e eu – com o pouco espaço que me restava – segurei seu rosto em minhas mãos.
Com sua face a milímetros de mim, sibilei:
“A partir de hoje, meu amor é todo seu” sussurrei e juntei nossos lábios sem pedir permissão.
Todas as sensações do primeiro beijo, por mais que o álcool percorresse minhas veias, bombardearam-me de uma vez só. Já não conseguia explicar a força com a qual meu coração pulsava dentro de mim, o frio cabuloso que meu estômago passava, os milhares de impulsos nervosos que percorriam cada parte do meu corpo, fazendo-me levar alguns choques elétricos ao longo dos segundos.
Nunca me senti tão leve, tão viva, tão completa... Tão livre. Em Fernando eu tinha minha expressão de liberdade... Eu acabara de chegar àquela conclusão.
“Me leve para casa...” falei após partir – com muito esforço – nossos lábios. “Quero dizer, para sua casa” ri baixinho.
Fernando soltou um risinho e me apertou ainda mais contra seu corpo, afundando seu rosto em meu pescoço. O senti respirar profundamente e soltar o ar ali mesmo, fazendo-me contrair.
“Isso está acontecendo mesmo ou eu fumei demais e estou delirando?” ele perguntou divertido. Não contive o riso.
“Bom, se não for real eu devo ter fumado tanto quanto você e só me lembro de ter dado um simples trago” envolvi meus dedos em seus cabelos e os puxei levemente, fazendo carinho.
Estávamos em cima de um sofá e não nos importávamos. Haviam dezenas de pessoas ao nosso redor e não nos importávamos. Nada parecia importar, tudo parecia muito banal...
Senti uma de suas mãos vagarem pelo meu braço lentamente até chegar na minha mão, agarrando-a firmemente. Suspirou.
“Vamos” me encarou com ternura antes de descer do sofá e me ajudar a fazer o mesmo.
Pessoas e mais pessoas batiam em seu ombro enquanto ele passava por elas, riam e o parabenizávam, enquanto eu mantinha minha cabeça baixa, totalmente tímida perante aquela situação. Temia que os olhares ferozes das garotas me matassem... Ou tirasse Fernando de mim.

Já no jardim, após andar rapidamente pelo hall e chegar aos risos, caminhamos de mãos dadas até a calçada. Procurei por sua moto tão conhecida por mim, mas nenhum sinal dela.
“Onde está sua moto?” perguntei alheia, vendo-o mexer em um dos bolsos da jaqueta de couro.
“Não estou de moto” ele disse simplesmente, com um pequeno sorriso escondido em seus lábios. Olhei-o confusa. Fernando, então, simplesmente puxou-me pela mão e continuou a andar pela calçada. Eu continuava absorta e confusa.
“Fernando, como pretende nos levar embora?” perguntei curiosa, rindo de sua expressão divertida. O garoto andava muito rápido e eu já estava sem fôlego por tentar acompanha-lo.

Após algumas passadas, Fernando parou de andar subitamente e tirou de dentro do casaco uma chave de um carro. O vi então andar em direção a um veículo. Congelei. Soltei suas mãos enquanto o via encaixar a chave na fechadura do carro. Senti minhas pernas bambearem e minha cabeça girar.
Eu realmente havia fumado mais do que devia e não me lembrava por isso. Eu estava tendo um delírio, essa era a única explicação.
“O que foi?” ele disse marotamente, com um sutil e divertido sorriso na face. Analisava minha expressão totalmente chocada com delicadeza.
“Esse... Esse carro... É... Seu?” as palavras pareciam ser mais difíceis de serem ditas do que nunca e eu pensei ter pedido o poder da fala. Um nó havia sido feito em minha garganta. Olhei para o lado, dando de cara com a placa do veiculo, apenas para constatar que aquilo era uma verdadeira alucinação. Eu estava certa. Era o carro. Fernando balançou a cabeça negativamente, me deixando ainda mais confusa.
“É do meu tio, na verdade. Mas eu sempre o pego para dar voltas à noite...” ele disse se aproximando de mim lentamente.
“Dar voltas... Aonde?” me atrevi a perguntar, enquanto o garoto continuava a se aproximar e me deixar cada vez mais tonta.
“Eu costumo sempre parar em frente a uma casa...” ele continuou maroto, com os olhos penetrados nos meus. Estremeci.
“E o que você faz?” minha voz saiu num sussurro. O rosto de Fernando estava a milímetros do meu, e falar alto me pareceu extremamente desnecessário. Eu tinha certeza que, há essa altura do campeonato, ele já podia escutar a zona que meu coração fazia dentro de mim.
“Tento mostrar à uma pessoa o quão difícil parece ser não me apaixonar por ela...” seus lábios sussurraram próximos aos meus, calando todas as dúvidas que eu possuía até aquele momento.

Fernando era o autor das serenatas.
Fernando era quem me dava paz em noites turbulentas.
Fernando era quem me acalmava após me rebelar com Marry.
Era por ele que meu chamava o tempo todo, mesmo nos momentos em que eu me forçava a não escutar...



Continua...

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