Capítulo 20
“Vamos logo, Luinha!” Fernando gritou e bateu na porta de madeira pela milésima vez.
Eu
encarava meu guarda-roupa, totalmente descrente por ver que nada
parecia dar certo em mim. Tudo parecia me engordar cinco quilos ou mais.
Pensei em abrir a porta e dizer ao garoto que eu havia desistido de
sair.
Fernando me chamara para um encontro, alegando que nunca havia
me levado em um, oficialmente. Então saíriamos para jantar, mas o lugar
estava rondado pelo mistério que Fernando fazia.
“Eu sou horrível,
Fernando! Nada parece cair bem em mim!” resmunguei, escondendo meu rosto
desanimado entre as mãos. Através da porta, pude escutar uma risada
estridente.
“Você não está mesmo dizendo isso para mim, está?” o tom
debochado em sua voz era visível. “Você nunca é horrível, Lua” agora
adiquiriu um tom sério. Pelo seu timbre, podia perceber que estava
sorrindo. E eu, que não podia conter um a cada gesto seu, não contive um
singelo sorriso no canto de meus lábios.
Voltei meus olhos ao
guarda-roupa, procurando algo descente. Era injusto fazer Fernando
esperar todo aquele tempo pelo meu ego totalmente pessimista. Se ele não
me achava horrível, era isso que importava. Meus olhos pousaram sobre
um vestido vermelho e ele me pareceu perfeito por alguns instantes.
Após
vestida, fui em direção ao espelho pendurado em cima da escrivaninha.
Maquiei-me de forma simples, sem muitos exageros. Uma sobra clara nas
pálpebras, rímel para alongar meus cíclios e um blush para me dar um
toque corado. Por fim, predi meu cabelo em um rabo-de-cavalo alto,
deixando minha nuca e a abertura da frente de meu vestido à mostra, sem
esquecer do perfume.
Respirei fundo, já sentindo o nervosismo me
atacar. Eu estava indo para um encontro. Um encontro com Fernando
Roncato. Se me contassem, no passado, que isso aconteceria, eu
provavelmente riria da pessoa louca com a imaginação fértil. Destranquei
a porta e girei a maçaneta lentamente, com o coração palpitando dentro
de mim.
Dei de cara com a figura perfeita de Fernando recostado na
parede em frente ao meu quarto, de braços cruzados e feição relaxada.
Usava uma camisa social preta, de mangas dobradas até o cotovelo e com
dois botões da frente desabotoados, mostrando parte de seu peitoral
forte. A calça larga e rasgada nos joelhos desmanchava toda aquela
expressão formal, assim como o coturnos nos pés. Os cabelos foram
propositalmente bagunçados, deixando-o ainda mais charmoso Para
completar, um sorriso brincava no canto de seus lábios, e seus olhos
conquistadores me observavam cautelosos. Da cabeça aos pés. Admito que a
timidez me acertou em cheio, com aqueles olhos brilhantes e insistentes
sobre mim.
“Como você tem a capacidade de dizer que é horrível?”
perguntou ele, indignado. Olhei para minhas sapatilhas vermelhas, vendo o
garoto se aproximar de mim, tomando meu queixo em suas mãos e me
obrigado a encará-lo. “Você está linda. Como sempre” sorriu, dando-me um
selinho em seguida, sem se importar em estarmos dentro de casa.
“Pronta?”
Assenti e então fomos em direção à saida da casa. Tio
Lewis estava na sala, sentado no sofá e com um cachimbo em mãos.
Escutava Billie Holiday, totalmente alheio a qualquer coisa que pudesse
acontecer a sua volta.
“Pai, estamos saindo, okay?” Fernando parou
em frente ao sofá, sendo ignorado pelo pai, que olhava para um ponto
fixo na parede, sem expressão alguma no rosto “Pai?” chamou-o novamente,
vendo agora o mais velho encará-lo com surpresa.
“Sim?” sorriu
abertamente, como se estivéssemos acabado de chegar ali. Olhei para
Fernando, que agora substituira o olhar divertido de antes, por um
totalmente... triste.
“Estamos saindo...” Fernando olhou para a vitrola, depois para os pés e depois para o pai.
“Oh sim! Divirtam-se!” acenou com a cabeça e voltou a olhar para qualquer lugar, tragando profundamente o cachimbo.
Fernando
se dirigiu à porta e eu o segui. Quando eu já estava na varanda, vi o
garoto encostado em um pilar, com a cabeça apiada no braço. Eu não podia
ver seu rosto, mas não precisava fazê-lo para saber que não estava bem.
Olhei para trás, vendo tio Lewis com a mesma expressão de antes, e
eu duvidava que ele estava prestando atenção em qualquer outra coisa que
não fosse a parede. Então coloquei minha mão em seu ombro direito e
recostei minha cabeça no esquerdo, sentindo um perfume incrível vir de
seu pescoço. Pela pouca iluminação e o braço que tampava, não podia ver
seu rosto muito bem.
Abaixei minhas mãos para sua cintura, abraçando-o fortemente.
“Não
agüento mais vê-lo assim...” falou fracamente. “Desde a morte da minha
mãe, chega uma hora do dia que ele simplesmente... sai desse mundo” sua
voz mostrava toda sua agonia e era como se eu pudesse sentir tudo o que
Fernando sentia, já que meu coração parecia estar comprimido dentro de
mim. Lembro-me bem do dia em que Rose, a mãe de Fernando, faleceu. Não
fazia mais que dez meses...
Era uma noite chuvosa e os três -
Rose e Lewis - voltavam da cidade para o sítio. Um caminhão desgovernado
atravessara a pista e, tio Lewis para desviar, jogara o carro em
direção ao acostamento. Devido ao asfalto molhado, acabou por derrapar e
perder totalmente o controle do carro. O pai quebrara a clavícula e
teve alguns cortes profundos no braço, mas, infelizmente, a mulher não
teve tanta sorte... Meu pai, John, foi o primeiro a saber. E o primeiro a
nos contar. Estávamos todos em minha casa, na piscina, apenas os seis,
conversando sobre tudo e nada, totalmente alheios ao mundo.
Foi a
cena mais triste da minha vida. Fernando pareceu perder o chão, o brilho
pareceu sumir de seus olhos. No começo, não acreditou. Após alguns
instantes, vendo que John não estava brincando, desabou em choro ali
mesmo, sendo abraçado por todos nós.
Micael teve que o segurar pelos ombros para que seus joelhos não cedessem.
“Não
precisamos sair, se você não quiser...” sussurrei perto de seu ouvido.
Fernando suspirou. Finalmente desencostou a cabeça do braço e me
encarou.
“Não. Eu quero sair com você. Quero muito” segurou meu
rosto com suas mãos. “Você me faz esquecer disso tudo. Que isso tudo
acontece ou... aconteceu...” seus olhos estavam extremamente vermelhos.
Agora foi a vez das minhas mãos irem de encontro com seu rosto. Não
gostava de vê-lo naquela situação, não gostava nenhum pouco. Fernando
fechou os olhos e eu colei nossas testas, de modo que nossas respirações
se misturaram.
“Então vamos. Afinal, esse é o nosso primeiro
encontro. Temos que estar animados!” fiz uma careta, fazendo-o sorrir e
me dar um beijo na testa em seguida.
“Vamos” estedeu a mão e eu a peguei sem hesitar.
Andamos
em direção ao carro amarelo e entrei assim que Fernando abriu a porta
do mesmo para mim. Ao invés de virar a esquerda em direção à Bolton, o
garoto virou a direita e eu fiquei sem entender. Olhei-o desentendida, e
o garoto apenas sorriu de lado e me olhou pelo canto do olho, tentando
prestar atenção na estrada.
Já estava escuro e não havia muito movimento.
Fernando ligou o rádio e me contagiei com a voz de Johnny assim que eu a escutei.
“Love
is a burning thing” começamos a cantar juntos. “And it makes a firery
ring bound by wild desire” Fernando me olhou rapidamente. “I fell in to a
ring of fire” com uma mão ele fazia gestos engraçados e a outra
manobrava o volante. Eu não conseguia parar de rir das caras e bocas que
o garoto fazia.
Eu não tinha a mínima ideia de onde ele estava me
levando, entretanto, amava todo aquele clima de suspense. De uma coisa
eu sabia: não seria em Bolton. Obviamente. O que me deixava ainda mais
intrigada.
Fernando não desencaixou sua mão da minha uma hora sequer, apenas quando precisava trocar de macha para frear ou algo assim.
Eu gostava do modo como elas ficavam bem encaixadas.
O olhei de esgoela, e o vi encarar a estrada com um sorriso simples, mas que fazia todo o meu mundo paralisar...
Reconheci
Salford antes mesmo de ver a placa com um grande ‘Welcome to Salford’.
Uma cidade à 16 quilômetros de Bolton, no máximo. Era um pouco menor que
nossa cidade, mas eu podia afirmar que era melhor. Fazia divisa com
Manchester, sendo separadas apelas pelo rio Irwell, e as pessoas dali
eram muito mais legais que as de Bolton. Quero dizer, pelo menos são
mais liberais e não se metem tanto na sua vida. Não posso generalizar,
entretanto, tendo em vista que todos que eu conhecia eram bratinados e
de esquerda.
Meus olhos se surpreenderam e encararam os de Fernando imediatamente, e ele apenas deu de ombros.
O
carro foi parando, após alguns minutos, em frente à um restaurante
chamando Actal’s Restaurant, um recinto muito fino e famoso por ter as
melhores massas da região. É um restaurante tipicamente romântico, onde
noventa e oito por cento dos clientes são casais.
Eu continuava com o
olhar surpreso, totalmente atônita pelo fato de ele ter me levado
àquele lugar. Quero dizer, ele precisava me tirar de Bolton apenas para
me levar a um encontro? Isso me soava exagero...
O restaurante era todo de vidro, com luzes amarelas e mesas decoradas.
“Reserva
para Fernando Roncato, por favor” ele falou com a atendente loira que
ficava atrás de um pequeno balcão na entrada. Pediu para aguardarmos
enquanto olhava em um caderno.
“Fernando, não acredito que me trouxe aqui!” sussurrei entre dentes. “Esse restaurante é muito chique! E caro!” ele riu.
“Nosso
primeiro encontro tem que ser... Romântico, Luinha” continuou rindo e
eu rolei os olhos. “Também seria romântico se você me levasse para um
piquenique no parque!” rebati. O garoto passou o braço pelos meus ombros
e beijou minha bochecha, sem mais palavras.
“Podem me seguir, por
favor” a atendente sorriu e a seguimos até uma mesa perto do blidex, o
qual possuía uma vista para o rio Irwell.
Como eu previa, havia
apenas casais – todos muito finos – e havia um saxofonista tocando em um
pequeno palco ali perto, tocando um blues apaixonante.
A mesa era decorada com forros brancos e vermelhos, com um arranjo de velas e flores em cima.
Sentamos-nos
e a moça já nos entregou o cardápio. Espantei-me ao ver os preços
absurdos e encarei Fernando imediatamente, e ele mantinha uma expressão
tranqüila... Divertida, até.
“Vou querer um Hacienda Monasteiro, por
favor” o garoto pediu um vinho com um sorriso e me espantei ao ler o
preço do mesmo. Quando a garçonete terminou de anotar os pedidos e foi
em direção ao balcão, me virei para o garoto.
“Um vinho de duzentas e setenta libras? Está louco ou ganhou na loteria?” perguntei entre dentes, com a sobrancelha arqueada.
“Dá
para largar de ser chata e não estragar nosso encontro?” ele disse em
meio de risos e eu bufei. “Só curta o momento, Luinha” Fernando deu uma
piscadela e sorriu sapeca. Dei de ombros e em seguida pedi bruschettas
com tomate e manjericão. Nosso vinho chegou e começamos a bebê-lo no
mesmo instante.
Fernando contava-me suas historias de criança, de
quando beijava todas as menininhas e depois puxava seus cabelos.
Totalmente louco, devo acrescentar.
Eu contei de quando eu era
totalmente viciada no filme A Bela e a Fera e sempre atrapalhava o
namoro das minhas tias no sofá da minha avó. Eu sempre fazia birra para
que elas – juntas dos namorados – vissem o filme comigo. Totalmente
mimada, por sua vez.
Perdi a conta de quantas taças já havíamos
tomado. Acho que já tínhamos tomado demais... Acho não, tenho plena
certeza. Já gritávamos e riamos escandalosamente, fazendo todos os
casais requintados nos olharem com reprovação, e isso nos fazia
sussurrar coisas nada agradáveis sobre os mesmos.
“Bando de
caretas!” Fernando sussurrou, não tão discretamente. “Acham que são os
donos do mundo, esses burgueses idiotas.” Eu adorava esse jeito
esquerdista do garoto. Ele era tão idealista quanto eu, e se brincar era
até mais. Tinha tanta vontade de mudar o mundo que desejava ser
americano para participar da guerra que começava no Vietnã.
Completamente louco, penso eu.
“Não esqueça que eu faço parte dessa sociedade, Fernando” brinquei e ele fez uma careta engraçada.
“Você
não é como eles. Na verdade, você não é nem um pouco burguesa, vamos
combinar, Luinha. Exceto pelas roupas que você usa, talvez. E pelo modo
educado que você come e fala...” forjou uma cara pensativa. “Certo,
talvez você seja, mas não é como eles! Vamos lá, eles não são felizes
seguindo todas aquelas regras ridículas e sem sentido! NEM AO MENOS
FICAM BÊBADOS!” ele gritou, atraindo ainda mais olhares chocados.
Rebeldes,
eles deviam pensar. Provavelmente se perguntavam por que diabos jovens
tão “sem classe” como nós estavam no mesmo restaurante que eles, tão
etiquetados.
“Senhores, poderiam falar um pouco mais baixo? É que
vieram reclamar...” a mesma moça que antes nos atendeu, agora nos
reprimia um tanto receosa. Talvez temia que nós a atacássemos.
Olhei
para Fernando. Ele olhou para mim. Sustentamos o olhar por um tempo,
sabendo o que viria depois. Gargalhamos tão alto no momento seguinte, e
com tanta veemência que, se eu estivesse sóbria, repreenderia os
escandalosos.
A atendente olhava para os lados, totalmente assustada com a situação, o que nos fazia rir ainda mais.
A mulher nos deixou tendo ataques e entrou em um cômodo perto do balcão.
“Acho
que ela vai nos expulsar” Fernando disse entre risos, e eu era
realmente anormal por achar graça naquela cena. Era meu primeiro
encontro com o garoto e seriamos expulsos do restaurante.
“Vamos
embora” sugeri e já fui me levantando da cadeira, enquanto Fernando me
encarava surpresa. “Vamos logo!” o puxei pela gola da camisa e ele me
seguiu aos tropeços.
“Espera!” ele me freou e eu o observei ir até a
mesa. Tirou uma nota do bolso traseiro de sua calça e colocou em cima
da mesa. Em seguida tirou a garrava de vinho do balde de gelo e veio
correndo em minha direção.
“Saudações! Desculpem-nos por
envergonha-los e estragar a maravilhosa noite de vocês” Fernando ia
falando e, assim que vi a garçonete voltar com um homem alto e robusto,
puxei seu braço e começamos a correr em direção ao carro. Sabíamos que
nenhum dos dois tinha a minha condição de dirigir, mas simplesmente
tínhamos que fugir dali.
Entramos no carro às pressas e aos risos,
vendo o segurança correr em nossa direção, no mesmo instante em que
Fernando deu a partida no carro e uma fumaça saía dos pneus que cantavam
no chão. O carro andava em grande velocidade e Fernando apenas a
diminuiu quando tínhamos certeza de estar bem distantes do Actal’s “MEU
DEUS!” gritei em meio de risos, sentindo meu coração disparado por tanta
adrenalina. Fernando ainda ria e parou assim que o sinaleiro mais a
frente se tornou vermelho. “Quanto de dinheiro você deixou na mesa?”
perguntei curiosa.
“Cinco libras” ele deu de ombros e meus olhos
saltaram das órbitas. Quero dizer, só o vinho que pedimos era duzentas e
poucas libras! “Não mereciam mais que isso mesmo...” rolou os olhos, me
fazendo concordar e cair no riso. O relógio do rádio indicava três
horas da manhã e não havia sinal de uma alma viva na cidade.
“Quer
voltar para Bolton agora?” ele me perguntou alheio, enquanto eu olhava
atentamente para o farol, esperando-o mudar sua cor para o verde. Voltei
minha atenção para o garoto.
“Acho que seria perigoso pegarmos a
estrada agora... Além de estar tarde, nossas condições não são das
melhores...” falei apreensiva, vendo o garoto fazer uma careta e dar de
ombros.
Fernando ligou o rádio, em uma estação que tocava um
especial ‘Flashback’, com música da década de 20. A voz de Louis
Armstrong consumiu todo o silencio do carro, e eu continuava a observar o
garoto do meu lado, que me olhava na mesma intensidade. Acho que o
sinal já havia ficado verde, mas não nos importávamos. Não havia um
movimento sequer, de qualquer maneira.
“Quer dançar comigo?”
Fernando disse calmamente, com a voz um pouco falha. Seus olhos estavam
vermelhos e seus cabelos mais bagunçados do que nunca e um pouco suados.
“Aonde?” perguntei confusa, vendo o garoto encostar a cabeça na beirada do banco, bem próximo de mim.
“Na
rua...” ele disse despreocupado, com um sorriso no canto dos lábios.
“Agora?” hesitei. Fernando já se moveu do banco e saiu do carro,
rodeando-o e parando do lado da minha porta. Eu o encarava atônita
através do vidro e o vi abrir a minha porta, erguendo sua mão para que
eu saísse do veiculo.
“Você é louco, Roncato” ri e segurei sua mão.
Antes que pudéssemos ir para o meio da rua, Fernando aumentou o som num
volume não permitido pela Lei do Silêncio, e eu reconheci Dream a
Little, Dream of Me do Louis. Era um blues totalmente gostoso de se
ouvir, e dançar com Fernando me pareceu muito convidativo naquele
momento. Estávamos bêbados e o mundo não nos importava. Já havíamos
infringido varias regras naquele dia, mais uma não iria fazer a mínima
diferença.
Ele me conduziu até o meio da rua, em frente ao carro e em cima da faixa de pedestres.
Fez uma reverência, curvando-se. Eu peguei as pontas de minha saia e devolvi o gesto com um sorriso.
Ele se aproximou lentamente de mim, colocando sua mão delicadamente em minha cintura, enquanto a outra se encaixava na minha.
Toquei
seu ombro com sutileza e encostei nossos rostos gentilmente. Começamos a
mover nossos corpos lentamente de acordo com o ritmo que a musica nos
permitia. Girávamos com cautela e sem pressa, sentindo os ventos frios
do outono tocarem nossa pele, nos fazendo colar ainda mais nossos
corpos.
A respiração quente do garoto batia em minha bochecha,
fazendo meus olhos se fecharem lentamente. Seu cheiro era entorpecente e
sentir seu hálito entrar em contato com a minha pele me deixava ainda
mais tonta.
Aconcheguei meu rosto em seu pescoço, e escutando seus suspiros em meu ouvido à medida que eu depositava leves beijos ali.
Suas mãos apertavam minha cintura levemente e nossos pés continuavam a se mover na mesma sintonia.
A rua seria demasiada escura se não fosse pelas luzes do semáforo que mudavam constantemente.
Movi minha mão, que antes se encontravam no ombro forte do garoto, para seus cabelos, entrelaçando-os em meus dedos.
Fernando
moveu seu rosto, beijando lentamente meu lóbulo, depois minha maçã do
rosto, passando pela minha mandíbula e, por fim, tocou meus lábios com
doçura.
Sua respiração se misturava com a minha, devido à
proximidade de nossas faces, e eu não ousei abrir meus olhos... Estava
tudo perfeito daquela maneira. Passamos a nos beijar lentamente,
sentindo nossos gostos se misturarem e nossas línguas se encontrarem com
calma. Fernando tinha gosto de vinho, o que deixava aquele beijo ainda
melhor...
As mãos do garoto agora passeavam pelas minhas costas, e se já não bastasse, me causava arrepios gostosos.
Dei uma mordida de leve em seu lábio inferior antes de nos afastar.
O
garoto me abaixou lentamente, com as mãos firmes em minha coluna, em um
passo encantador. Voltou-me à posição normal, deixando nossos rostos
próximos novamente. Meu nariz estava encostado no seu, e eu os rocei
levemente.
Senti os lábios de Fernando tocarem os meus novamente,
separando-os no mesmo instante. Ele trilhou o mesmo caminho de antes até
chegar em meu pescoço, onde beijava sem pressa. Eu suspirava baixinho
em seu ouvido, e aquilo parecia o estimular. Minha respiração já
começava a se descompassar, e minhas mãos agora puxavam seus cabelos com
certa força. Fernando me puxou ainda mais contra seu corpo, e estremeci
ao senti-lo tão perto de mim.
Senti algo gelado tocar meus joelhos e
percebi que havíamos chegado perto do carro. Nossa dança havia parado,
mas Fernando continuava com o corpo colado no meu. Sentei no pára-choque
do veículo e abri um pouco as pernas para que o garoto ficasse entre
elas.
Puxei seus cabelos, de modo que o garoto deixasse meu pescoço e
me encarasse. Olhei profundamente naqueles olhos maravilhosos antes de
colar nossos lábios pela milésima vez. Nosso beijo foi tomando
velocidade ao longo dos segundos e o corpo de Fernando já forçava
bastante contra o meu, então me deitei no capô. Dobrei uma de minhas
pernas, em uma posição mais agradável, e senti o peso do corpo do garoto
sobre o meu.
Partiu o beijo e me encarou, seus olhos cheio de
desejo e paixão. Sua mão,que antes se encontravam em meu pescoço, desceu
lentamente pelo meu corpo, explorando cada parte do mesmo. Andou por
meu colo, barriga, até parar em minhas coxas.
Voltou a me beijar, e
eu mantinha minhas mãos estavam espalmadas em seu peito. As do garoto
começaram a subir, trilhando um caminho por debaixo do meu vestido. Eu
não me importava. Estava até segura por atingir esse ‘novo nível’. Eu
simplesmente estava com uma incrível atração física naquele momento, e
meu corpo implorava para estar colado no do garoto.
Suas mãos
passaram lentamente por uma de meus glúteos, demorando um tempo
considerável ali. Depois subiram para a minha cintura, apertando-a com
acuidade. Nossos corpos se moviam de acordo com nosso beijo, o que me
permitia sentir a paixão de Fernando mais embaixo.
O garoto passou a
beijar meu pescoço, arrancando suspiros pesados da minha garganta. Meu
coração, assim como minha respiração, estava totalmente descompassado,
decidindo se continuava a bater ou não.
Fernando desceu seus lábios
lentamente, dando atenção agora para meu colo descoberto devido ao
decote. Com a mão livre, ele desabotoou mais um botão, deixando agora
parte do meu sutiã vermelho à mostra. Beijava com desejo a parte
descoberta de meus seios, me deixando um tanto quanto entorpecida. Tanto
que eu já fazia movimentos contra seu corpo, mostrando o quanto eu
estava gostando daquela situação.
Puxei novamente seus cabelos,
trazendo sua boca de volta, eu precisava daqueles lábios contra os meus,
eu precisava sentir seu gosto novamente.
Senti sua mão, que antes
estavam em minha cintura por debaixo do meu vestido, se juntar com a
outra em um trabalho de desabotoar outro botão do meu vestido. Certo, eu
estava adorando aquele momento. Estava louca de paixão e desejo, mas o
fato de estarmos no meio da rua e, para piorar, em cima do capô de um
carro, me fez despertar de toda aquela loucura entorpecente. Separei
nossos lábios.
“Fernando...” tentei começar, mas o garoto colou nossas bocas novamente. Ri no meio do beijo, mas não desisti.
“Fernando, estamos no meio da rua” falei rapidamente, antes dele me interromper novamente. Ele riu contra meus lábios.
“Quem se importa?” ele disse ligeiro, apenas para poder me beijar novamente.
“Eu
não me importo... Mas já está tarde e...” hesitei por um instante.
Fernando me olhou penetrante e eu olhei para seus lábios vermelhos e
inchados. “Estamos indo rápido demais...” o que não era mentira. Se
continuássemos daquele ritmo, não sabia quando pararíamos mais e como
aquilo acabaria... Na verdade, sabia sim.
Fernando fechou os olhos e suspirou pesadamente. Encostou a testa em meu peito descoberto, tentando ceder ao meu pedido.
Sorri e comecei a acariciar seus cabelos suados.
“Às
vezes é difícil, Luinha...” ele sussurrou abafadamente. “Digo... Me
controlar perto de você” concluiu e eu abri ainda mais meu sorriso
devido ao desabafo. Fernando levantou a cabeça e me encarou.
Levei uma mão até seu rosto, alisando sua bochecha carinhosamente, vendo seus olhos se fecharem.
“Vamos.
Ainda temos que achar um hotel...” empurrei-o de cima de mim com
cuidado e lhe dei um selinho antes de me dirigir até a porta do carro.
Fernando
permaneceu estático por alguns segundos, como se ainda tentasse
restabelecer seu autocontrole. Eu não podia deixar de rir daquela
situação.
Bagunçou nervosamente os cabelos e finalmente entrou no carro.
“Você ainda vai me matar, Lua” ele disse, balançando a cabeça negativamente e dando partida no carro.
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Vamos comentar LuCáticas?