Capítulo 17
“Bom dia...” eu disse ainda sonolenta assim que vi Fernando atrás do balcão com uma frigideira em mãos.
“Bom
dia” ele respondeu todo sorridente. Não pude deixar de reparar em seu
físico semi-nu, de boxers e sem camisa, com apenas um avental tampando
seu tórax. Um barulho do lado de fora me despertou do transe, e pela
porta aberta, vi o senhor Roncato gritar e correr atrás de uma galinha.
“Não
se assuste. Ele está correndo atrás do nosso almoço” o garoto sussurrou
perto de mim, e eu nem havia percebido sua proximidade. Beijou minha
bochecha e fez aquele local formigar de uma maneira intensa. Assim como
meu estomago e minhas mãos.
“Dormiu bem?” me perguntou. Muito bem, na verdade, pensei.
“Aham”
falei simplesmente. Ele não podia saber que eu demorei duas horas para
conseguir dormir. Rolava e rolava na cama, pois não conseguia afastá-lo
dos meus pensamentos e poder dormir em paz. E quando finalmente peguei
no sono, foi ele quem me perseguiu em meus sonhos. Seria ridículo. Ele
pensaria que eu era uma criança de dez anos. Ou menos.
“Qual vai ser
a programação de hoje?” me arrisquei a perguntar, seguindo-o até a
cozinha e recostando meus ombros na bancada que separava este cômodo da
sala.
“Os garotos estavam pensando em ir para Dover acampar...” Fernando disse, concentrado nos bacons que fritava.
Fazia
tempos que não acampávamos nas praias de Dover. Era quase que um
ritual, ou uma parada obrigatória nem que fosse uma vez ao ano.
Eu ia vez ou outra, quando conseguia convencer Marry a me deixar dormir na casa de Mel.
“Mas que galinha danada!” tio Lewis entrou na sala, totalmente descabelado e com a ave se debatendo em suas mãos.
Não
contive minha gargalhada ao ver aquela cena. O pai de Fernando era a
pessoa mais louca e divertida que eu já havia conhecido.
“I’M A
LITTLE SHOOK UP BUT I FEEL FINE” gritávamos dentro do fusca vermelho de
Micael. Estávamos todos apertados, Fernando estava quase em meu colo.
Mas tudo estava bem. Espaço nunca foi um problema para a gente, de
qualquer maneira.
Micael batucava o volante do fusca de acordo com as
batidas da musica e Arthur ora colocava a cabeça para fora do automóvel
e cantava para o nada ora dava um trago em um baseado que estava
passando de mãos em mãos.
Estávamos em plena estrada, com nada exceto o asfalto à nossa frente.
Nossas
mochilas estavam amontoadas no porta-malas, entretanto não levávamos
nada mais que o necessário. Duas barracas, lanternas, repelentes, blusas
de frio e roupa de banho. Não precisávamos de nada mais que isso.
Eu
estava um pouco tonta, e tomei isso como desculpa para recostar minha
cabeça no ombro de Fernando. Não havíamos, ainda, comentado sobre o dia
anterior. Ou feito nada como no dia anterior. Mas aquele clima
constrangedor não pairava sobre nós. Quando fosse a hora, tocaríamos no
assunto, naquele instante simplesmente não víamos necessidade nisso.
Parecia que um podia ler isso no outro. Eu não precisava perguntá-lo ou
olhá-lo para saber que ele me entendia. E aquilo me assustava.
Ele
fazia um leve cafuné em meu ombro descoberto – já que eu usava um tomara
que caia florido – e eu senti que poderia adormecer ali a qualquer
instante.
“Senti que seremos os candelabros dessa viagem, Micael”
Arthur disse fingindo disfarce, e nos olhando pelo canto do olho. Micael
olhou para trás pelo retrovisor e gargalhou alto.
“Quero ser a vela
do Fernando e da Luinha. Chay e Melzinha são chatos demais, só beijam e
não conversam. ODEIO CASAIS ASSIM” gritou bem alto, fazendo Chay, que
por acaso beijava Mel, mostrar o dedo do meio ao garoto.
“Vamos
deixar os dois excluídos e formar um verdadeiro lustre para Fernando e
Luinha” Arthur disse finalmente, batendo na minha perna e me fazendo rir
de leve devido a sonolência.
Alguma musica da radio tomou-lhes a atenção, mas naquela altura do campeonato, eu já não prestava atenção. Adormeci.
Senti
leves beijos tocarem minha testa e me perguntei se aquilo era um sonho.
Como era bom sentir o toque dos lábios de Fernando sobre a minha pele.
“Acorda,
linda. Chegamos” o escutei sussurrar em meu ouvido, e só então percebi
ser tudo realidade. Não reclamei, aquilo era ainda melhor que um sono.
Sorri
sutilmente e me levantei de seu ombro, me espreguiçando logo após.
Micael e Arthur já saiam do carro, assim como Chay e Mel. Olhei pelo
vidro e percebi que estávamos na praia, e eu a reconhecia completamente.
O farol de Chadwick estava lá adiante como eu me lembrava, com aquelas
largas listras vermelhas.
Levantei o banco da frente e sai do
veiculo, sendo seguida por Fernando. Tínhamos que descer uma ladeira por
entre as falésias da praia, até que chegássemos a uma escada e
descêssemos. Era um caminho cansativo, mas que valia totalmente a pena.
Os
garotos já corriam feito loucos pelas pedras da praia quase deserta,
tirando as camisas pelo caminho e jogando-as pelo ar. Ri da cena e
involuntariamente comecei a correr, agarrando a mão de Fernando e
arrastando-o comigo. Os garotos jogavam água em Mel, a qual chiava e ria
ao mesmo tempo. Chay pegou-a pelas pernas e a jogou no mar logo em
seguida, despertando risadas de todos.
Eu via a cena de longe, e à medida que eu me aproximava do mar, meu sorriso ia alargando.
Assim
que meus pés tocaram as águas gélidas do mar, uma onda de calmaria me
dominou e uma felicidade ainda maior me contagiou ao ver que minha mão
ainda estava grudada à de Fernando. O garoto havia tirado a camisa –
fato que não posso deixar de citar – e corríamos com dificuldade até o
resto da turma.
Parecíamos um bando de crianças, já que jogávamos
água para cima ou uns nos outros. A alegria era visível ali, e tenho
certeza que, até mesmo quem assistia a cena de longe, era contagiado com
nossa infantilidade.
Vi Fernando afundar a cabeça de Arthur dentro
d’água e os dois começarem uma batalha sobre quem afogava mais o outro.
Micael havia me colocado em suas costas, assim como Chay fizera com Mel,
e agora começávamos a brincar de briga de galo. Quando Fernando e
Arthur terminaram sua batalha, começaram a torcer por cada casal.
Fernando obviamente – ou não – gritava para que eu derrubasse Mel, e
Arthur fora obrigado a gritar pela outra amiga.
“VOU TE POR NO CHÃO,
VADIA!” eu gritei, forçando minhas mãos contra as de Melzinha,
fazendo-a rir das caras e bocas que eu fazia.
“VAMOS LÁ, LUINHA!” escutei a voz de Fernando ao meu lado, o que me estimulava cada vez mais.
“AAAAAAAAAH!” gritei assim que coloquei todas minhas forças na mão para, finalmente, derrubar minha amiga e Chay.
“YEAAAAAAAAAAAH!”
Micael gritava animado. “SOMOS OS MELHORES NA BRIGA DE GALO!” ele
berrava para a praia inteira ouvir, inclusive apontava para algumas
pessoas que observavam.
“O MICAEL ROUBOU!” um Chay totalmente furioso e engasgado acabara de levantar debaixo d’água.
“Oh,
vamos lá, Chay, aceite a derrota! Não seja tão maricas!” Micael
contrapôs, rindo debochadamente do outro garoto que tossia
constantemente. Mel não estava diferente.
“Você me paga” Chay forçou uma cara ameaçadora, nos fazendo gargalhar ainda mais da situação.
O
sol já se punha e as pessoas da praia começavam a ficar cada vez mais
escassas. Vez ou outra um casal caminhava à nossa frente, ou velhinhas
passeavam com seus cães.
Estávamos sentados eu, Mel, Arthur e Chay,
enquanto Micael e Fernando tinham ido comprar bebidas num boteco do
outro lado da falésia. Conversávamos alheios sobre assunto nenhum, já
que nossos papos – na maioria das vezes – nunca fazia sentido.
“Luinha,
por que você não pega os violões?” Arthur sugeriu, apontando com a
cabeça para os cases que estavam à dez metros de distância.
“Por que você nunca os pega e sempre sugere para eu pegar?” falei meio brava.
“Ah,
vamos lá, você é a mais gordinha da turma, logo tem que pegar as
atividades mais pesadas” ele respondeu, dando de ombros. Não me contive e
dei um murro relativamente forte em seu ombro. “Outch!” se encolheu.
Ri
e me levantei indo em direção às nossas coisas e recolhi os dois cases
dos violões dos garotos. Luau sem musica ao redor de uma fogueira não é
luau. Entreguei-os aos meninos, enquanto via Fernando se aproximar com
engradados de cerveja em cada uma das mãos.
Não pude deixar de observá-lo.
Sorria
abertamente de alguma (bobagem) coisa que Micael havia dito. Como seu
sorriso era perfeito... Era aquele tipo que você vê e não consegue não
rir junto. Os fracos feixes de luz que ainda persistiam batiam em seu
rosto, fazendo com que ele fechasse sutilmente os olhos, a fim de
protegê-los.
Ainda estava sem camisa e, só de olhar para seu tórax, me faltava ar nos pulmões.
Presumo
que o garoto percebeu que estava a observá-lo, já que direcionou seus
lindos olhos à mim. Percebi um sorriso bem singelo brotar no canto de
seus lábios, o que fez meu estômago revirar – como se isso fosse uma
novidade – e virar o rosto para qualquer outra direção. Ele me pegou
observando seu físico! Vergonhoso...
Colocaram as cervejas em uma
caixa de isopor cheia de gelo, e claro, cada um já pegou a sua. O sol
já quase não dava sinais de vida, tudo que se podia ver era um pequeno
riso laranja ao fundo do oceano.
Era a hora de montar as barracas.
Fora uma verdadeira bagunça, já que Mel não tinha a mínima noção de como
montar uma e derrubava os ferros dela toda hora que tentava fazer algo
direito. Até que cansamos de remontá-la e mandamos a garota sentar.
Depois de – no mínimo – uma hora, muitas risadas e sacrifícios, as duas
barracas estavam perfeitamente montadas. Já haviam feito uma fogueira, e
agora estávamos sentados em torno da mesma, escutando Chay e Fernando
afinarem os violões.
“Certo, a gente vai tocar uma música que o
Fernando compôs há uns dias atrás...” Chay anunciou e começaram a tocar
os primeiros acordes da canção. Eu estava totalmente entusiasmada para
escutar a nova musica de Fernando. Não só por ser dele, mas eu
simplesmente ficava toda animada quando envolvia os garotos tocando.
“Well I met this girl, just the other day,
I hope I don't regret, the things that I said now
And when we're laughing and joking with each other now,
I’m glad I met this girl, She didn't walk away,
I think she was impressed and was having a good time,
And when we're laughing joking with each other,
Spending all our time together...”
Mel
me cutucava ao longo da musica, mas eu não precisava dela para ficar
atônita diante dela. Fernando não me olhava, mantinha sua atenção nas
cordas, mas eu encarava os movimentos de sua boca ao longo da canção,
sentindo o mundo todo sumir de repente, e restar apenas nós dois.
“When she walks in the room my heart goes boom!
Ba ba ba ba ba da ba,
I tried to take her home but she said,
You're no good for me...”
Eu
estava totalmente sem palavras. Eu não poderia ser tão egocêntrica a
ponto de pensar que aquela musica era direcionada a mim, mas em
decorrência dos recentes acontecimentos, tudo me fazia acreditar que
sim. Eu queria acreditar que sim.
“She's got a pretty face, such a lovely name,
I don't want my friends to see, they might take her away from me,
She's one I won't forget, in a long long long time,
Now I really want the world to see,
That she is the one for me”
Ele
era perfeito até cantando. Queria descobrir um jeito que ele não era
tão indefectível... Chegava a ser irritante. Eu me pegava a pensar o que
diabos ele encontrou em mim, enquanto ele poderia ter a garota que
quisesse com aquela perfeição.
“The first time that I saw her she stole my heart,
And if we were together, nothing could tear us apart”
Nothing
could tear us apart, repeti aquele verso na minha mente. Eu concordava.
Algo dentro de mim gritava, dizendo que nada seria capaz de nos
separar. Quero dizer, todo aquele bombardeio de sentimentos por Fernando
eram tão recentes, mas ao mesmo tempo, tão intensos, de uma forma que
nunca havia sentido igual. A cada instante, cada sorriso, cada palavra,
uma nova onda de emoções me acertava, me deixando ainda mais confusa. Eu
não entendia tudo o que estava sentindo, justamente por nunca tê-los
sentido antes, e isso me assustava muito. Eu, às vezes, pensava que tudo
aquilo era um exagero, que eu não poderia sentir tudo o que eu sentia
por uma pessoa em tão pouco tempo. Não era racional. Não era possível.
Alguns
fios da franja de Fernando caiam sobre seus olhos concentrados,
dando-lhe uma feição angelical. Seus dedos ágeis continuavam a tocar, e
sua boca a cantar. Sua voz era tão linda que eu poderia escutá-la para
sempre.
“When she walks in the room my heart goes boom,
Ba ba ba ba ba da ba
I tried to take her home but she said you're no good for me
Ba ba ba ba ba da ba”
Fui
a primeira a bater palmas, assim que eles terminaram os acordes da
canção. Fernando olhou-me meio cabisbaixo, como se esperasse pela minha
aprovação. Sorri abertamente e vi suas bochechas corarem, o que era algo
totalmente novo. Eu nunca – ou talvez quase nunca – vira Fernando
envergonhado, ou sem graça por algum motivo. Achei uma graça.
“Agora
vou tocar uma para o meu moranguinho” Chay disse com um biquinho,
fazendo Melzinha suspirar ao meu lado. Começou os acordes de I’ve Got
You, a musica que ele sempre tocava para a namorada, a qual nunca
enjoava de escutá-la. E sempre tinha as mesmas reações de euforia,
detalhe.
Fernando agora tocava olhando para mim, com aquele
conhecido ‘pequeno-sorriso’ nos lábios, o qual me fazia delirar. Hora e
outra olhava para as cordas do violão, voltando a me encarar no mesmo
instante.
Eu bebia minha cerveja tranquilamente – quando me lembrava
– e os garotos ao meu lado (Micael e Arthur) fumavam um baseado, para
variar. Davam a desculpa que esse mundo era muito repressor e que
precisavam de uma válvula de escape. Diziam também que lhes inspiravam
mais... Fernando já confirmara essa afirmação.
Vez ou outra eu tragava, apenas para relaxar e entrar no clima retardado dos meus amigos.
Confesso
que já nem prestava atenção na musica que cantavam. Eu estava mais
preocupada em reparar nos movimentos que a boca de Fernando fazia a
escutar I’ve Got You pela milésima vez. Eu já a sabia de cor e salteado,
de qualquer maneira.
Cantaram mais algumas musicas, de Elvis à
Little Richard, enquanto os loucos (digo, Micael e Arthur) pulavam e
dançavam. Mel, ainda encantada pelo namorado, mexia-se lentamente de um
lado para o outro. Eu queria tirar Fernando dali e levá-lo para algum
lugar onde pudéssemos ficar a sós.
E, do nada, vi meus amigos
correndo em direção ao mar, tirando suas roupas – sim, inclusive as
partes de baixo – e adentrarem o mesmo aos gritos. Até mesmo Mel havia
entrado no meio da loucura.
“YEAAAAAAAAAAAAAAAH!” os escutava gritar
em liberdade, e pela escuridão, não era capaz de saber o que estavam
fazendo. Tive vontade de tirar as roupas e correr em direção ao oceano,
mas no momento seguinte vi que eu não estava sozinha. Pensei que aquele
seria o momento perfeito para ficar sozinha com Fernando.
O silencio predominava entre nós, sem ser algo que nos incomodava. Na verdade ele às vezes era muito bem vindo.
“Quer
dar uma volta?” o garoto disse calmo, e então encarei sua face. Não
havia luzes além da que vinha do farol e do luar, mas ainda sim podia
ver o brilho de seus olhos. Acenei com a cabeça e peguei a mão estendida
de Fernando. O menino me ajudou a subir as escadas, subindo logo em
seguida e então começamos a andar pela ladeira. Se eu olhasse para o
lado, me depararia com, além da linda paisagem do oceano, meus amigos
nus gritando feito loucos lá em baixo.
Chegamos ao topo da falésia onde se encontrava o farol. Devo admitir, aquela vista parecia muito mais bonita à noite.
As
ondas do mar estavam calmas e a lua era perfeitamente refletida nas
águas. Fernando me conduzia em direção ao farol, e rapidamente já
estávamos dentro do mesmo, subindo as escadas espirais.
O garoto
abriu uma porta, a qual deu em um quartinho vazio. Eu pude sentir o
cheiro de mofo, o que nos deixava chegar à conclusão de que ninguém
vinha ali há muito tempo. Havia uma cama empoeirada no canto de uma
parede, uma escrivaninha no canto de outra, com uma lamparina em cima da
mesma e vários papéis amarelados. Um banheiro podia ser visto também
mais a frente.
À medida que pisávamos no assoalho de madeira,
podíamos escutá-lo ranger, e um sentimento de que poderíamos cair a
qualquer momento me assombrou, me fazendo apertar ainda mais a mão de
Fernando.
Finalmente chegamos a uma sacada. Ela tinha a mesma vista
da falésia, só que ainda mais ampla. Lá em baixo, as ondas batiam fortes
contra o paredão de pedra, e eu podia sentir alguns respingos e um
forte cheiro de oceano nos abater. As grades da sacada foram
visivelmente corroídas pelo sal do mar, o que as tornava enferrujadas e
dava àquele local, um cenário ainda mais rústico e bonito.
“O que achou?” Fernando me perguntou apreensivo, encarando a imensidão a nossa frente.
“É
tudo muito lindo...” respondi sincera. Não tinha como tudo ficar mais
perfeito. Vi um sorriso abrir no rosto dele, e me perguntei quando eu
pararia de ficar hipnotizada por cada sorriso seu.
Fernando se
sentou e foi só ai que percebi que estava com um violão em mãos, o qual
ele recostou na parede. Sentei-me junto a ele.
O silêncio caiu sobre nós novamente, permitindo-nos escutar apenas as ondas se quebrarem e, de longe, nossos amigos gritarem.
Repentinamente,
senti a mão de Fernando pegar a minha, e colocá-las uma sobre a outra
como se estivesse as medindo. Se fosse isso, perceberia que minha mão
era duas vezes menor que a dele.
“Fernando?” chamei-o, tirando sua atenção de nossas mãos.
“Sim?” ele respondeu imediatamente. Respirei fundo.
“O
que você sente por mim?” tirei toda a coragem do meu ser ao fazer essa
pergunta. Eu precisava saber. Eu precisava saber se ele sentia o mesmo
que eu, precisava entender aquilo que sentia, inclusive.
Fernando riu baixinho e olhou para frente. Não entendi muito bem essa sua reação, mas continuei apreensiva por sua resposta.
“Você
acreditaria...” ele começou baixinho e depois respirou fundo. Olhei-o
curiosa. “Se eu dissesse que meu coração acelera só de ouvir seu nome?”
finalmente me encarou. Me encarou tão profundamente que me fez sentir um
pouco tonta. Era como se ele procurasse uma verdade em meus olhos.
Tremi quando meu cérebro digeriu suas palavras.
Como o efeito de
ação e reação, o meu coração acelerou. Se eu fosse taquicardia ou algo
assim, já estaria morta e poderiam prender Fernando como culpado.
“É
isso que eu sinto, Luinha. Não consigo te demonstrar de outro modo que
não seja esse” ele disse, diminuído seu tom de voz gradativamente, à
medida que se aproximava do meu rosto.
Colocou uma de suas mãos em
minha nuca, e a outra envolveu minha cintura. Só de sentir seu cheiro
tão perto de mim fez minha cabeça delirar.
Meus olhos se fecharam rapidamente, e eu esperava ansiosa para sentir seus lábios se chocarem contra os meus.
Entretanto, esperei em vão.
Primeiramente,
senti seu hálito quente em meu ombro, fazendo cada parte minha
arrepiar. Seus lábios úmidos me tocavam tão suavemente que me faziam
suspirar e meu peito subir e descer rapidamente devido a minha
respiração totalmente falha. Sua boca foi subindo em uma velocidade
vagarosa, passando demorada pelo meu pescoço e indo em direção à minha
orelha.
“I just can’t help believin’ when she smiles up soft and
gentle with a trace of misty morning and the promise of tomorrow in her
eyes” o escutei sussurrar com aquela voz esplêndida em meu ouvido,
enquanto suas mãos passeavam livremente por minhas costas.
Minha
boca estava entreaberta, esperando apenas o momento em que encontraria
com a de Fernando. Eu estava delirando. Aquela voz me fazia delirar.
Aquelas mãos me faziam delirar.
“I just can’t help believin’ when
she’s lying close beside me and my heart beats with the rhythm of her
sighs. This time the girl is gonna stay for more than just a day” minhas
mãos cravaram em seus cabelos, e como um ato de suplico, puxei seu
rosto para mais perto do meu, fazendo com que nossas bocas finalmente se
chocassem.
Aquela boca sim, me fazia delirar. Fazia todo o mundo
abaixo dos meus pés desaparecer. Fazia com que nada mais existisse além
de nós dois.
Fernando puxou-me mais para perto de si, de modo com
que nossos corpos se chocassem. Não era um beijo calmo. Era mais
tendencioso que o primeiro, entretanto, sem perder sua doçura. Sua
língua brincava com a minha, fazendo com que eu tivesse o desejo de
nunca mais separá-las por se darem tão bem.
Minhas mãos puxavam os
cabelos do garoto levemente, fazendo-o soltar sua respiração pesada pelo
nariz. Já as suas mãos apertavam minha cintura veemente, como se
quisesse juntar ainda mais nossos corpos se fosse possível.
Após
alguns minutos a minha necessidade por oxigênio irritante me forçou a
separar de Fernando. Estávamos ofegantes, pude perceber. Soltávamos o ar
de nossos pulmões de forma totalmente desajeitada .
Minhas mãos ainda estavam grudadas em seus cabelos, e as dele se mantinham firmes em minha cintura. Nossos narizes colados.
Peguei
sua mão livre e levei-a lentamente em direção ao lado esquerdo do meu
peito. Eu queria que ele sentisse o que era capaz de fazer comigo.
“Uau”
falou em um suspiro e não contive o riso falho. Meu coração batia
totalmente atrapalhado, e a culpa era toda e exclusivamente dele.
“Pois é...” debochei. Não me contive em selar nossos lábios em um beijo rápido.
“Por
que isso não aconteceu antes, Fernando?” quis saber. Abri meus olhos e
dei de cara com os dele, instigantes e curiosos. Suspirou.
“Porque
antes não era a hora, Luinha” ele respondeu simplesmente. “Porque talvez
antes não fosse tão certo como agora...” completou. Sorri.
Fernando estava certo. O agora nunca me pareceu tão certo antes...
Continua...
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