terça-feira, 30 de abril de 2013

Web Doce Amor

                                 Capítulo 25

 


Just pretend I'm holding you love...
O cheiro de frango assado invadiu todo o apartamento em segundos.
Meu tempo livre – quando não estava preocupada com algo da faculdade ou arrumando as bagunças dos meninos – agora era dedicado à culinária. Era uma sensação extraordinária a de cozinhar. Uns pintavam, outros cantavam – como os McFLY – eu, cozinhava.
Uma maré de calmaria me atingia enquanto eu picava uma cebola ou fazia um molho branco.
Se eu não fosse apaixonada por palavras e poemas, procuraria um restaurante para trabalhar; Era um bom segundo plano.

A campainha despertou-me dos pensamentos mirabolantes. Abaixei a temperatura do forno – se meu frango queimasse, eu provavelmente teria um ataque de nervos. Tirei as luvas protetoras e fui até a porta de entrada do apartamento. Deparei-me com um Chay completamente abatido no batente. Antes de analisar sua feição com cuidado, meus olhos se prenderam na mala ao lado de suas pernas. Arqueei as sobrancelhas e indaguei mentalmente o que aquilo significava.
“Acho que entendo por que você fugiu de casa...” ele começou, com o olhar perdido. “Eu não podia mais conviver com a hipocrisia da minha família e todo aquele cinismo de Benjamin...” Chay agora me encarou nos olhos; Eles tinham uma dor imensurável, eu pude perceber. Abaixo deles, olheiras fundas e escuras. Vi sua agonia e quis abraçá-lo, a fim de tentar consolá-lo.
Deixei-o terminar, no entanto.
“E... Não consegui pensar em ninguém mais para me ajudar a não ser você...”
“Vamos, entre!” o interrompi antes que ele pudesse falar algo mais.
“Me desculpe, Luinha... Prometo que procurarei um lugar para morar assim que arranjar um emprego... Não quero incomodar!”
“Chay, do que você ‘tá falando?” intercedi novamente, incrédula com suas palavras. Me incomodar? “Desde quando você me incomoda?” toquei seus ombros com as mãos. “Você pode ficar aqui o quando quiser, sem se importar! Pode ficar no quarto azul. Só tem um colchão no chão, mas...”
“Perfeito, Luinha” ouvi o tom de gratidão em sua voz. Seus olhos agora tinham um brilho que até então não possuíam, e um singelo – quase imperceptível – sorriso brotou em seus lábios.

E o abraço que antes quisera eu lhe dar, agora havia acontecido. Chay envolveu-me com seus braços, apertando-me contra seu peito. Tentei retribuir o obrigado subliminar que continha naquele gesto, apertando-o com toda minha força. Suede me soltou, já com seu velho sorriso feliz e contagiante no rosto, e fez uma careta faminta. O cheio do frango era abundante em todo o lugar.
“Eu previ inconscientemente que você viria e preparei um banquete” brinquei, deixando Chay na sala enquanto me dirigia à cozinha. Vi pelo canto do olho que ele foi par ao quarto azul cantarolando.

Quando você menos espera, a vida te reviravolta e te surpreende até com pequenos acontecimentos.
Eu sabia que, a partir dali, minha rotina seria completamente mudada. E, em uma nova perspectiva, para melhor.
A água fria batia em minha pele como mil navalhas. Escorria por toda extensão do meu corpo, arrepiando-me, e precisou de mais alguns segundos até que eu me acostumasse.
Agora a água me relaxava.
Meu pensamento constante naquele momento – e em todos os outros – era Cambridge. Minha ansiosidade era visível à todos, e eu não me atrevia a escondê-la. John e eu já havíamos ido até Cambridge olhar os dormitórios da Universidade, acertamos a matricula e tudo estava pronto.
Só não sabia se eu estava pronta.

Conscientemente, aquele era meu sonho. Não havia – nem nunca houve – algo que eu mais quisesse do que ingressar na faculdade. Comparecer àquelas paletras de especialistas em Shakespeare ou Miguel Cervante Saavedra, e poder escrever teses sobre os mesmos. Afundar-me em livros e, no final, dizer com orgulho que e, Lua Blanco, havia cursado a Universidade de Cambridge; Algo que ainda era raro entre as mulheres da minha sociedade.
Seria a maior conquista da minha vida.

Por outro lado, meu coração era comprimido por alguns segundos, e eu indagava se aquilo era mesmo o que eu queria.
Não, obviamente era o que eu queria; Mas eu teria que abrir mão das coisas mais preciosas da minha vida: meus amigos e minha família. Pode parecer dramático, e talvez realmente seja, mas centenas de milhas importavam. No fundo importavam...
Eu não teria Chay resmungando sobre qualquer coisa, Micael embebedado, as mulheres de Arthur destruindo meu apartamento, Mel brigando com Arthur ... Mas principalmente, eu não teria Fernando sempre comigo.
Ele dissera que me visitaria sempre que pudesse; Mas ele não poderia abandonar seu pai a torto e a direita. Ele era tudo o que o Sr. Lewis tinha, e o mais velho precisava da ajuda do garoto em suas plantações e no pub.
E, apesar de Fernando insistir que nada mudaria em nossa relação, eu sabia que muita coisa mudaria. Ainda que todos me garantirem que distancia nada atrapalhava, eu não me dava por vencida. Tudo mudava.
Conversaríamos raramente por telefone, somente quando ele fosse para o centro de Bolton procurar um telefone público. As cartas demorariam até dias para chegarem, e nos veríamos – no máximo – uma vez por mês.
E então perderíamos o contato e a relação esfriaria. Era uma lógica plausível!
Mel certa vez perguntara se eu não confiava em nosso amor o suficiente para não deixar aquilo acontecer.
Eu não soube responder.
Não por ter duvidas sobre o meu amor, mas exatamente por não saber se ele era o suficiente para tantas mudanças.

E analisando as argumentações, parecia-me tolice desistir da faculdade por um amor... Não parecia?
Ia contra todos os meus princípios sobre liberdade e independência...
Todas aquelas indagações deixavam-me enlouquecida. Algo que antes parecia tão certo, agora era um amontoado de pontos de interrogação.

A fumaça de duvida que pairava sobre mim se dissolveu quando escutei a porta do banheiro se abrir.
Assustada, enrolei-me no cortinado que separava o chuveiro da privada e da pia.

“CHAY?!” gritei ao ver o garoto entrar descabelado e parar em frente à pia. Nem sequer pareceu notar minha presemça.
O garoto se virou moribundamente para mim, e então pude ver suas feições claramente: ele havia acabado de acordar.
O garoto estava morando comigo há duas semanas, e muita coisa havia mudado em minha rotina, como previra.
Ainda em aulas, eu o acordava e o levava para a escola – somente porque eu sempre passava na padaria que era no caminho. Quando as aulas acabavam, Chay passava no mercado do centro e trazia ingredientes para o almoço.
No quesito limpeza, ele lavava a louça e os banheiros, e eu ficava com o resto.
De tardezinha jogávamos cartas ou algum jogo de tabuleiro até que Mel ou Fernando chegassem para que jantássemos ou jogássemos papo fora.

Mel havia amado o fato de Chay estar morando comigo. De acordo com ela, a casa dos Suede era assustadora, e ela tinha vontade de assassinar Benjamin toda vez que o via. Eu não sentiria a mínima falta se ela tivesse o feito.
“Chay, não vê que estou tomando banho?” usei meu tom mais agressivo para tentar expulsá-lo; Em vão, entretanto.
“Não há nada que eu possa ver que vai me fazer sentir... Tesão por você, Luinha...” o menino disse sonolento, e começou a Escobar os dentes. Arregaleu os olhos. Então eu não era atraente?
“Quero dizer, você é a mulher do Fernando. E mulher de amigo meu... Bom, se tornam um...” ele rolou os olhos, pensativo. “Sei lá, um dragão?”
“Quer dizer que eu sou horrorosa?” gritei, ainda atrás do cortinado.
Chay bufou impaciente.
“O que eu quis dizer, sua maluca, é que eu não consigo te olhar com esses olhos, por você ser do Fernando, entende?” ele tirou a escova dos dentes, me encarando com inquietude. “Além de ser minha melhor amiga!” deu de ombros. “Seria nojento...”
“Agora sou nojenta?” protestei, agora entrando novamente debaixo do chuveiro. Para falar a verdade, eu estava rindo escandalosamente por dentro.
“Você é impossível...” disse Suede por fim, num tom derrotado.

Eu iria encontrar Fernando hoje à tarde, e eu estava levemente ansiosa. Por quê?
Essa ansiedade e as borboletas no estômago já deveriam ter passado a tempos!
Elas passavam, não?
Pelo menos eu pensava que sim.
Eu já deveria ter me acostumado com todas aquelas sensações, e então tudo pareceria normal, como se fossem parte do pacote quando se apaixonava.

Mas elas estavam longe de serem normais. Eu sentia uma coisa diferente a cada beijo, a cada toque, cada palavra...
Todas elas tinham algo em comum: todas me entorpeciam, me hipnotizavam como mágica... Faziam-me querer mais: mais beijos, mais toques, mais palavras. As borboletas eram incansáveis.

Coloquei uma calça jeans e uma regata branca qualquer e me olhei no espelho uma ultima vez. Era impossível não notar o sorriso que escapava dos meus lábios sem eu perceber. Era um desses pequenos atos que me faziam analisar toda aquela situação.
Analisar como tudo mudou desde que percebera que estava apaixonada por Fernando Roncato.
Eu era feliz antes, reconhecia isso. Mas assim que ele declarou todos seus sentimentos e demos o primeiro beijo no sítio, minha vida virou-se de cabeça para baixo. No sentido literal.
Nada mais fora o mesmo.
Eu precisava de seus olhos procurando pelos meus, precisava de seus braços me envolvendo, precisava de sua boca tocando a minha...
Queria, pelo menos um segundo do dia, saber o que se passava em sua mente. Se eu não era a única maluca a sentir todos aqueles estardalhaços.

Mas, sobre todos os pensamentos, o que prevalecia era aquele que me fazia perceber que meu coração se acalmava perto dele. Meu coração disparava como se aquela vez que nos víamos, fosse a primeira vez em anos.
Assustava-me não ter o controle sobre meus próprios sentimentos, sobre meu próprio coração. Pensava eu que, se Fernando não fosse a pessoa integra que era, teria picado-lhe em mil pedacinhos minúsculos.
Mas não, ele continuava cultivando meu amor diariamente, fazendo-me amá-lo e desejá-lo mais e mais a cada dia que passava.

Mas que culpa eu tenho se quando tento fugir desse sentimento é para os braços dele que eu quero correr? Se ninguém me faz sentir do jeito que eu sinto quando estou com ele? Se eu preciso de seu carinho, de seu toque? Se ele tem uma maneira só dele de me surpreender e encantar a cada instante? Se nada mais me importa quando sei que ele está ao meu lado?
Poderiam ser indagações extremamente adolescentes e passageiras, mas era aquilo que eu me perguntava a cada dia. Não podia ser normal, podia?
No final das contas, fiquei satisfeita do jeito que estava e deixei o quarto.
Mel e Chay emaranhavam-se nos pufes coloridos e riam escandalosamente.
Pigarreei para chamar a atenção.
“Estou indo me encontrar com Fernando” expliquei, olhando para o teto. A imagem de Chay e Mel se amassando não era a que eu queria assistir. Chay murmurou algo que não dei importância, e simplesmente dei as costas.
Esbarrei com Julian quando esperava o elevador chegar e apenas o cumprimentei formalmente. Estava louca para encontrar Fernando e matar aquela saudade repentina que eu sentia.

Engatei o carro e sai do estacionamento do prédio, pegando a via principal para a saída da cidade. Eu o pegaria no sítio e então andaríamos de bicicleta pelo campo. Fernando me mostraria o resto do sítio que eu ainda não conhecia e faríamos qualquer coisa que nos viesse à cabeça. Provavelmente deitaríamos em alguma clareira, nos beijaríamos e...
Bom, resolvi prestar atenção à estrada. My Babe tocava no ultimo volume da rádio e eu deixava o vento bagunçar meus cabelos em uma alegria repentina.
Era aquela felicidade que te atinge sem razão, trazendo um sorriso sem explicações. Eu não precisava de motivos quando o assunto era Fernando Roncato.

Virei na estrada de terra à quarenta milhas de Bolton e continuei o caminho até ver a natureza me acolher. Em menos de dez minutos eu avistaria a casinha do sítio dos Roncato e saltaria alegremente do carro.
Quando vi tio Lewis sentado na escadaria que dava à pequena varanda, parei o carro e fui imediatamente em sua direção.
“Boa tarde, Sr. Roncato!” expressei minha alegria em minha voz e vi que o mais velho não me encarei. Arqueei uma sobrancelha, abismada diante daquele fato.
Lewis era sempre a primeira pessoa a me dar boas vindas quando eu chegava no sítio. Sempre espalhando seu sorriso pelos cantos.
“Está tudo bem, tio Lewis?” perguntei apreensiva, vendo-o me encarar finalmente. Sua expressão era preocupada.
Mantinha uma mão no queixo e o cenho franzido.
Suspirou e voltou a encarar a grama sobre meus pés.
“Sr. Roncato... Está tudo bem?” insistir, já sentindo meu coração bater mais forte contra meu peito. O que estava acontecendo? Por que ele não me lançara aquele sorriso contagiante de sempre? Por que não me abraçara e me dera boa tarde como sempre fazia?
O homem de cabelos grisalhos balançou a cabeça. Negativamente.
Suspirei pesadamente, tentando manter a calma para continuar aquela conversa.
Onde estava Fernando? Por que ele não viera me cumprimentar quando ouvira o barulho do meu carro?
“Sr. Roncato...” continuei mais desesperada que antes. “ Sr. Roncato... O que aconteceu?” minha voz tentava ser firme, e eu quis atropelá-lo para poder passar pela escada que ele intercedia. Fernando estava lá dentro. Fernando estava lá dentro e algo acontecia com ele!
“Fernando...” ele pronunciou o nome com a voz abatida. Prendi a respiração. De olhos arregalados, eu tinha medo da próxima sentença. “ Fernando foi para o hospital, porque...”
“Fernando está no hospital?” o interrompi. Minha respiração estava falha e todo meu autocontrole já havia indo embora. Eu agora me abanava com as próprias mãos e meus joelhos cediam.
“John estava aqui, Luinha, e de repente...”
“John estava aqui?” a calma que Lewis Roncato tentava ter na voz, era perdida completamente quando eu começava a falar em meu tom desesperado.
Então meu pai esteve ali? Meu pai levara Fernando ao hospital? Mas que diabos estava acontecendo?
“Em que hospital ele o levou?” perguntei urgentemente.
“Luinha, não acho que seja o melhor você ir até lá agora...”
“Em que hospital, Sr. Roncato?” o interrompi pela milésima vez. Quando tudo estivesse bem, eu o pediria desculpas pela falta de educação. Se é que aquilo importava.
“Saint Gabriel’s Hospital” ele respondeu na mesma urgência.

Eu nem ao menos disse outra coisa. Corri para meu carro e o engatei com dificuldade.
Minhas mãos tremiam, minha cabeça girava.
Eu estava com a míninima condição para dirigir, mas não me importava naquele momento.
Forcei o máximo que meu acelerador podia agüentar e me irritei ao ver apenas cem quilômetros por hora.
Milhares de pensamentos passavam por minha cabeça como borrões.

O que havia acontecido com Fernando? Estaria ele machucado? Algo grave? Algo que ele escondia de mim? E por que John estava lá?
Eu sabia que John era amigo do Sr. Roncato, mas por que fora ele ao hospital e não Lewis?

Vamos lá!, eu implorava ao meu carro e ao pequeno transito na estrada. Aquela rodovia era sempre vazia, por que diabos estava tão movimentada justo hoje?
Buzinei para alguns carros que atrapalhavam minha passagem e forcei ainda mais o acelerador.
Aquela joça iria colaborar comigo.
Eu realmente não sabia como conseguia dirigir. Talvez fosse o excesso de adrenalina e nervosismo que conduziam o volante.

Quando cheguei à entrada da cidade, dei graças à Deus pelo hospital ser por ali perto e não dentro do centro da cidade.
Freei bruscamente assim que vi a placa indicando “Saint Gabriel’s Hospital” e ignorei os murmúrios raivosos sobre minha péssima baliza. Guinchassem meu carro, o que fosse!

Fiquei surpresa ao ver todos meus amigos na recepção do hospital. Aquilo fulminou uma raiva dentro de mim.
Por que todos sabiam do acontecimento previamente?
Talvez foi o tempo de eu sair do sítio e eles chegarem lá antes de mim. Claro.
“Alguém pode, pelo amor de Deus, me contar o que está acontecendo?” exigi furiosamente, antes que qualquer pessoa falasse algo sobre a minha presença.
Todos mantinham uma expressão séria e nada falaram.
Arthur tinha os lábios pressionados um no outro, Micael esfregava a testa com as mãos, Chay franzia o cenho em uma expressão de pesar.
Foi Mel que aproximou-se de mim.
“Luinha, prometa-me que não vai gritar, ou desabar aqui” ela começou apreensiva, colocando as mãos sobre meus ombros.

Ela não queria que eu enlouquecesse? Então por que não foi direto ao assunto? Por que me afligia daquela maneira?
“O que aconteceu com Fernando?” perguntei, mantendo meu tom desesperado que me perseguia fazia longos minutos.
Não conseguia conter as lagrimas que antes não se manifestaram. Agora, no entanto, corriam pelo meu rosto com urgência.
Eu não continha o medo que apertava meu peito.
Por que, nem Sr. Lewis nem Mel me diziam o que acontecia?

Fernando... Fernando... O que está acontecendo?
Minha mente não parava de trabalhar um minuto, e eu sabia que podia desabar a qualquer instante.
Mas antes eu precisava saber se ele estava bem.

“Nada aconteceu comigo...” escutei aquela voz familiar. Meu coração – novamente – congelou.
Era aquela voz. A voz que eu estava familiarizada.
Aquilo era uma ilusão?
Quero dizer, ele estava no hospital, não estava?

Espere um minuto... Talvez ele não estava...
“Fernando?” procurei por seu rosto, até vê-lo perto do balcão.
Sua expressão estava tão pesarosa quanto a dos outros.
Ele não me encarava, como todos os outros.
“Fernando...” me aproximei lentamente, deixando todo o resto para trás.
Eu sabia que ele me responderia.
“Fernando, o que está acontecendo?” mantive meu tom desesperado, mas agora um pouco mais baixo que o normal. Um sussurro urgente, talvez... “Fernando, por que eu fui até o sítio e seu pai disse que você estava no hospital?” perguntei apreensiva.

Ele não me olhou. Continuou encarando o nada. Quis sacudi-lo. Quis pegar seu rosto entre as mãos e o fazer encarar meus olhos.
John estava aqui, Luinha, e de repente...
NÃO! Não! Não, aquilo não tinha absolutamente nada a ver com John.
“Fernando! Me fale o que aconteceu!” dessa vez eu gritei. Não contive a urgência da minha voz. Não contive o horror, o desespero constante...
“Luinha...” ele agora colocou as mãos em meus ombros. “Seu pai estava no sítio e de repente ficou branco como papel... No segundo seguinte seus joelhos cederam e ele caiu no chão, e não conseguia levantar!” Fernando tentava manter seu tom calmo, mas eu sabia que ele estava tão absorto quanto eu. “Eu tentei colocá-lo de pé, mas ele parecia uma pedra! Então meu pai e eu conseguimos levantá-lo e o colocar dentro do carro... Então eu o trouxe aqui e...”

Eu não escutava mais nada. John braço como papel? John caído como uma pedra?
As lagrimas pararam de repente de cair. Elas engataram a marcha um e caiam lentamente, quase imperceptíveis. Meus olhos estavam arregalados, absortos, apreensivos.
Eu já não mais escutava a voz de Fernando.
Era tudo um vazio.

John... John... Meu pai...
“Onde ele está?” perguntei urgentemente, tentando me livrar de seus braços.
Pela primeira vez, os braços de Fernando sufocavam-me, impediam-me de pensar, de correr, de me libertar.
“ONDE ELE ESTÁ?” gritei para todos que estavam lá.
Mel olhou para o chão.
Por que eles não me respondiam? Por que eles não me encaravam?

“Está na UTI, quarto quarenta” escutei uma voz distante.
Consegui me livrar dos braços que me seguravam e corri.
Corri.
Corri.

O ar faltava em meus pulmões, e apesar de eu inspirar o tanto que eu normalmente precisaria, não parecia suficiente. Eu precisava de mais. Ou não precisava de nada.
Eu escutava passos atrás de mim. Intuitivamente eu sabia de quem eram. Mas eu não ousaria olhar para trás. Eu não queria olhar para trás.
“RAFINHA!” o escutei gritar.
Minha vista estava embaçada.
Meu coração estava parando.

John... John... Por favor...
“RAFINHA!”
Quando cheguei ao quarto, uma dor totalmente nova afligia meu coração. Uma sensação de perda. Eu estava ali, vendo-o frágil, como se sua vida estivesse por um fio e pudesse se corromper a qualquer minuto. Se eu o perdesse, perderia junto o rumo.


Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Vamos comentar LuCáticas?