quarta-feira, 10 de abril de 2013

Web Doce Amor

                                  Capítulo 6



Eu ainda não tinha uma explicação lógica para tudo que vinha acontecendo. A revolta de Flávia, as coisas que ela havia dito sobre Fernando, sua frase final ‘Pergunte ao seu namorado’. Foi algo tão... insinuante e atormentador.
Eu estava no meu quarto, encarando o teto cor pêssego. Reparei em suas rachaduras, em algumas partes descascadas dele... Tentava me distrair de todos aqueles pensamentos absortos que me consumiam, e que definitivamente não me levariam a nada.
Afinal, era sábado, e sábado é um dia para se ter a cabeça fria e apenas curtir os pequenos momentos sem ter que calcular nada ou qualquer outra coisa que envolva escola. E neste sábado eu teria um encontro com Benjamin. Eu não estava nervosa como antes, na verdade não via a hora de encontrá-lo e fazer o que Flávia havia dito. Ouvi algumas batidas na porta de madeira do meu quarto e vi Meredith se aproximar com uma bandeja. Ela a depositou sobre minha cama e foi abrir as cortinas das persianas. Sentei-me e puxei a bandeja para mais perto, pegando as torradas e passando geléia de amora sobre elas.
“Rise and shine, Luinha” Meredith disse incrivelmente animada, e eu fiquei me perguntando como alguém pode ser tão bem humorada de manhã. Não disse nada, só continuei concentrada em meu café da manhã. Os únicos momentos do dia em que minha cabeça fica completamente vazia é quando estou comendo, algo muito estranho para falar a verdade.v “Termine seu café e vista-se. Você tem treino de tênis hoje com seu pai, e Mel ligou dizendo que também irá” Mere anunciou e saiu do quarto. Terminei de comer calmamente e me levantei da cama com muito desgosto, indo em direção ao meu closet pegando meu uniforme de tênis e o vestindo.
Era rotina, todo sábado eu e meu pai íamos ao clube local praticar tênis por diversão. Eu particularmente adorava, meus problemas desapareciam e minha raiva esvaziava toda hora que aquela pequena bola amarela batia contra minha raquete.

O motorista no levou até o clube, onde eu e meu pai fomos direto às quadras de tênis, conversando sobre novas técnicas de aprimoramento no esporte. Melzinha já estava à nossa espera, eu jogaria com ela e meu pai jogaria com seus amigos multimilionários. Cumprimentei minha amiga com um abraço e começamos a nos preparar. Eu estava com o saque inicial, entao não tardei a lançar a bola em direção à Melzinha. O som de Ray Charles invadiu todos os campos, como sempre a musica no tênis do clube Itacolomy era indispensável.
Melzinha rebateu a bola para meu campo, e a imagem de Flávia veio em minha cabeça, me dando um impulso a rebater fortemente a bola contra o campo adversário.
“FORA!” gritou o juiz do nosso jogo, e eu limpei uma gota de suor que escorreu sobre minha face.
“Isso tudo é raiva, Luinha?” Melzinha gritou do outro lado do campo e eu saquei novamente.
“Não é raiva” rebati. “Na verdade não sei o que é. Eu só não consegui entender o comportamento ridículo de Flávia” rebati novamente.
“Já te disse, ela deve estar se drogando com essas coisas novas que andam aparecendo” ela rebateu.
“Isso realmente não justifica, Melzinha” rebati fortemente.
“FORA!” o juiz gritou novamente e tive vontade de jogar a bola em sua cara. “Ponto para Mel” anunciou. Melzinha levantou a raquete assim como a bola e sacou.
“E hoje vou sair com Suede. Espero que ele tenha uma resposta para isso tudo. Apesar de eu não ver conexão entre os fatos” rebati.
“Você vai me machucar, Lua” Melzinha reclamou com a força que eu estava mandando a bola. Meu pai já era acostumado com os meus acessos de raiva, Melzinha teria que acostumar também. Era isso, ou ter que agüentar murros e chutes. Acho que ela iria preferir o tênis.
“Desculpa...” balancei minha cabeça tentando espantar aquela raiva que me perseguia.
“Olha Luinha, o único jeito de você ter respostas é falando com Benjamin. Remoer isso não vai adiantar de nada!” disse Mel, a sabia. Concordei e tentei não pensar em mais nada e me concentrar no meu esporte favorito, o único jeito que realmente me relaxava e me fazia esquecer do mundo à minha volta.

“Okay, te ligo mais tarde...” despedi-me de Melzinha, que havia ligado para que seu motorista a pegasse, já que ela tinha um importante jantar de família comemorando o aniversário de 95 anos de sua bisavó.
Resolvi ficar por ali mais um tempo, aquele clube me acalmava. Papai ainda jogava, e se eu estivesse com ele, provavelmente também estaria, mas Melzinha não tem o mesmo pique que nós dois. Então resolvi nadar na piscina gigante que tinha ali. Eu também gostava de prticar natação, peguei habito desde quando tive uma crise asmática nos meus 5 ou 6 anos…
Fui até o vestiário, coloquei minha roupa de banho e rumei às piscinas gigantes. Sem rodeios, pulei de ponta, sentindo a água fria como um choque em contato à minha pele quente. Comecei a nadar e nadar, ignorando a presença de qualquer pessoa ao meu redor. Piscina me faz lembrar de minha infância, quando eu, Melzinha e Flávia costumávamos brincar, imaginando que éramos sereias, e cada uma tinha o direito de escolher a cor da cauda, top e cabelos. Eu e Flávia sempre brigávamos para ter a cauda rosa. Fui mergulhando até a borda lateral da piscina e fui nadando lentamente até a superfície, apoiando meus braços na borda para subir.
Assim que minha cabeça saiu da água, vi alguém sentado com as pernas para dentro da piscina, ali, bem perto de mim. Levei um susto ao ver que essa pessoa era Fernando, e que ele estava me encarando descaradamente.
“H-Hey...” cumprimentei-o nervosa antes de dar um impulso para sair da piscina.
“Oi Luinha...” ele sorriu e me acompanhou com o olhar até eu pegar minha toalha na espreguiçadeira ali perto. Resolvi me sentar ali ao lado de Fernando, também com as pernas dentro da água.
Houve um silencio meio incomodo entre nós, eu olhava para o movimento das pessoas ali por perto, as crianças brincando animadamente na parte mais rasa da piscina, enquanto eu sentia os olhos de Fernando sobre mim. Eu tentava puxar minha saia mais para baixo, envergonhada. Eu tinha a absoluta certeza de que minhas bochechas estavam coradas de um jeito ridículo. Era estranho, eu me sentia estranha perto do garoto ao meu lado. Não estranha de um jeito ruim, mas de um jeito bom, se é que isso existe. Olhei-o pelo canto do olho, e foi só ai que reparei em seus trajes, ou a falta deles. Fernando usava apenas um calção que ia um pouco acima do joelho, e vi que seus cabelos estavam molhados e totalmente desarrumados, alguns fios estavam grudados em sua testa, respingando água pelo seu rosto. Meus olhos ficaram um pouco hipnotizados demais com a cena, até que vi um sorriso brotar nos lábios do garoto, e eu cair na realidade novamente, sentindo mais uma vez, minhas maçãs do rosto queimarem. “E-Então...” falei totalmente sem jeito, contraindo meu corpo de vergonha e tentando olhar para qualquer canto que não fosse os olhos (ou o corpo definido) do Roncato. Me senti extremamente promiscua com todos os pensamentos que rondavam meu cérebro.
“Então...” ele repetiu e jogou o peso de seu corpo para trás, apoiando-o sobre as mãos, tendo uma visão das minhas costas, o que novamente me deixou extremamente sem graça. Eu comecei a ficar realmente incomodada comigo mesma, pelo fato de não conseguir fazer o sangue concentrado nas minhas bochechas descer. Era uma vergonha constante e que não e deixava em paz. Acho que eu nunca havia ficado assim na presença de Fernando... Quero dizer... Ele é o Fernando! Porque diabos eu tinha que ficar envergonhada perto dele?
“O que está fazendo por aqui?” perguntei, quebrando aquele silencio extremamente constrangedor. Vi Fernando se espreguiçar e bocejar antes de me responder.
“Lá em casa tava um tédio, e nenhum dos meninos queria treinar hoje, entao resolvi vim jogar uma sinuca... Nadar...” ele respondeu distraído, olhando para as pessoas por ali, com seus olhos apertados a fim de protegê-los do sol. Ele ficou ainda mais... Lindo. Balancei minha cabeça, tentando espantar novamente os pensamentos nada amigáveis que insistiam em me perseguir.
“Andam escrevendo muitas musicas?” puxei mais assunto, a fim de me distrair.
“Oh sim. Eu ‘to começando a escrever essa, Get Over You... Mas ela ainda tá picada, só tenho o refrão...” Fernando disse casualmente.
“Canta ela pra mim!” falei normalmente, encarando-o. Ele me olhou assustado e negou com a cabeça freneticamente.
“De jeito nenhum!” ele se adiantou, agora fazendo gestos exagerados com a mão.
“Hey, por que não? Vergonha é? Como você pretende cantar na frente de milhares de pessoas quando ficar famoso?” fingi-me de brava.
“Não é vergonha é que...” ele parou subitamente de falar e encarou as mãos. “Okay, eu canto. Mas só a parte que escrevi!” concordei com a cabeça e ele fechou os olhos.

“Cuz you’ve got all the things that I want
and I just can’t explain so
Help me baby I gotta get over you
And now and then she looks in my direction,
Im hoping for a sign of her affection but shes in denile and,
Shes got some worries today
But I think if she'd give me a chance,
I'll pleasantly surprize but,
Help me babe I gotta get over you…”

A voz de Fernando era tão perfeita que eu viajava enquanto ele cantava. Era algo de outro mundo escutá-lo cantar. Se eu pudesse, passaria o dia escutando qualquer porcaria que ele quisesse cantar. Qualquer porcaria se tornaria perfeição.
“Bom... É isso!” ele disse sem graça, dando de ombros. Eu ainda estava estática, sem palavras para expressar o que eu sentia. Quero dizer, aquela letra me tocou de alguma forma que eu não podia explicar, e eu simplesmente não poderia dizer o quão magnífico era escutá-lo cantar, afinal, aquilo soaria estranho.
“Está ficando muito boa! Quero escutá-la completa depois...” falei sorrindo sem graça e voltando minha atenção às crianças barulhentas ali. Senti seus olhos pousarem sobre mim, e pelo canto do olho vi que ele sorria.
Olhei-o novamente, disfarçando o máximo possível, apesar de não ser boa nisso. Ele continuava a me encarar.
“O que foi?” perguntei incomodada. Talvez eu estivesse com uma sujeira em algum lugar, ou meu cabelo estava ridicularmente estranho... Fernando soltou um risinho e voltou a se sentar normalmente.
“Não é nada... É só que lembrei de algo” ele disse ainda rindo, o que me fez ficar mais intrigada.
“Anda, fala logo!” comecei a rir também, mas só pelo fato de estar escutando a risada dele.
“Você nada de um jeito engraçado...” Fernando disse rindo explosivamente. Fiz uma cara de choque e minha mão foi em direção ao seu ombro em um tapa.
“Não tem nada de engraçado, okay Roncato? Eu nado desde os cinco anos, sou quase uma profissional!” falei brava, e nada fazia aquele garoto parar de rir.
“Você parece um sapo, ou algo do tipo...” ele disse, já se contraindo pois sabia que eu iria o estapear. E foi o que eu fiz. “HEY, HEY, EU NÃO TENHO CULPA, OKAY?” continuou ele, rindo. Bufei e decidi ignorá-lo, colocando minhas pernas novamente na água e olhando para frente.
“Engraçado não é sinônimo de feio...” Fernando veio em minha direção, também colocando os pés dentro da piscina. Continuei a ignorá-lo. “Porque isso seria totalmente impossível...” ele disse mais baixinho, mas eu pude ouvir e virei para encará-lo. Ele parecia envergonhado, já que começou a bagunçar os cabelos freneticamente. “Quero dizer... Nada em você é... Você sabe... Feio...” Fernando já não olhava para mim. Brincava com o cordão de seu calção, e eu vi o quão nervoso ele estava. Um sorriso involuntário apareceu no meu rosto. “Nada que você faz... Enfim... Er... Nada.. terminou ele com pressa. ‘Como alguém pode gostar de você? Só algum idiota como o Roncato’
“Obrigada...” falei tão sem graça quanto Fernando e comecei a encarar meus pés desfigurados na água.
“Lua?” escutei alguém me chamar de longe, e eu e Fernando nos viramos para ver quem era.
“Sim, papai?” respondi John, que estava atrás de uma cerca que separava a piscina do resto do clube.
“Está ficando tarde, acho melhor irmos...” ele disse e eu o obedeci. Me levantei, enrolando a toalha no meu corpo e calçando meu par de chinelos que estava ali perto. Para minha surpresa, Fernando se levantou junto, e pegou minha bolsa (um tanto quanto grande, já que minhas roupas e outras coisas estavam lá dentro) e meu case da raquete na espreguiçadeira, e me acompanhou até onde meu pai estava.
“Senhor Blanco...” Fernando o cumprimentou com um aperto de mão, e meu pai abriu um sorriso.
“Hey pequeno Roncato, como está seu pai?” John perguntou e me lembrei que ele e o pai de Fernando eram grandes amigos. Meu pai sempre freqüentava o bar dele.
“Está bem, de vez em quando reclama que o senhor não anda mais indo lá no bar” Fernando respondeu e os dois começaram a conversar animadamente sobre o bar, e o pai de Fernando, e eu totalmente absorta no assunto. Deixei os dois ali e fui me trocar, colocando minha roupa suada que antes usei para jogar tênis.
“Bom te ver, Fernando. Mande um abraço para o velho Roncato e diga que amanhã darei uma passada lá!” meu pai deu alguns tapinhas nas costas do garoto e pegou minhas coisas com ele. Eu esqueci totalmente que ele as carregava e que só o case da minha raquete pesava no mínimo dois quilos. “Pode deixar, senhor Blanco!” Fernando sorriu e meu pai começou a andar na minha frente, me deixando sozinha com o ‘pequeno Roncato’.
Eu ainda estava envergonhada, não olhava diretamente para Fernando, e sim para os meus pés. Percebi entao, que o sol finalmente começava a se pôr, deixando o céu em um tom alaranjado, e os mínimos raios que ele ainda lançava, tocavam o rosto de Fernando realçando seus olhos de um jeito incrível. “Bom... Até mais então, Luinha...” ele disse com um sorriso lindo.
“Até...” falei distraída, olhando hipnotizada para seus olhos, que estavam ainda mais claros pela luz fraca que batia em seu rosto. Ele sustentou meu olhar, deixando cada vez mais difícil a minha partida. Balancei minha cabeça negativamente e me aproximei mais do garoto. Coloquei as duas mãos em seu ombro e me estiquei na ponta dos meus pés para alcançar sua bochecha, depositando ali um leve beijo. Não sei o que me levou a fazer isso, impulso... Não sei... Só sei que vi suas bochechas ficarem muito vermelhas, e as minhas não estavam diferentes. Olhei para os meus próprios pés, e comecei a mexer com os pés algumas pedrinhas ali no chão.
“Bom... Adeus...” falei baixinho, ainda sem olhar diretamente para Fernando.
“A-Adeus...” ele falou finalmente, com dificuldade.
Sorri envergonhada e dei as costas, correndo em direção ao meu pai que estava à alguns metros de distancia.



Continua...

2 comentários:

  1. Está web é simplesmente ÓTIMA.. Cada cap que passa ficando mais apaixonada.. Cara, vc escreve bem, muito bem por sinal! Simplesmente AMANDO cada cap.. Parabéns!!

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