Capitulo 4
Eu curtia meu último mês de férias na piscina da minha casa, com a
companhia de Melzinha e Flávia. O sol ardente deixava minha pele
vermelha. Eu sabia que aquilo arderia mais tarde, mas não me importava. A
preguiça era maior.
Nós três usávamos óculos gigantes e chapéus com
grandes abas. Flávia com um maiô ultima coleção da Dior, desenhado
especialmente para ela. A garota fez questão de deixar isso claro. E eu
estava com um biquíni branco e meu chapéu clássico.
Meredith havia
nos trazido chá-gelado, e bebíamos enquanto conversávamos empolgadas
sobre a volta às aulas. Eu nem tanto, já que previa como esse ano letivo
seria extremamente cansativo graças à pressão de passar em uma
faculdade. Acho que minhas amigas não se preocupavam muito com isso.
“Luinha,
é essa semana que você sairá com Ben?” não sei como, mas o assunto caiu
em mim. Melzinha me encarava por trás do imenso óculos. Dei um grande
gole no meu chá, tentando evitar aquela conversa. Não sei bem o motivo,
mas era inevitável eu me sentir tímida ao falar sobre esse assunto.
“Sim...”
respondi vagamente, com o intuito de que minha amiga não fizesse mais
perguntas. Às vezes sua curiosidade não tinha limites. Ela soltou um
grunhido empolgado, seguido de pequenas palmas. Dava a impressão de que
aquele seria o meu primeiro encontro. Certo, talvez realmente fosse, mas
não vinha ao caso.
“Vocês são o casal mais lindo de Bolton. Depois
de mim e Chay, é claro” Melzinha disse convencida, com um enorme sorriso
em seus lábios. Rolei os olhos.
“Não somos um casal, Mel. Pare de
ficar falando besteiras” virei meu rosto para encarar a piscina, rezando
mentalmente que minha amiga parasse com seus comentários infelizes.
Mas
é claro que ela continuou a tagarelar. Então resolvi moldar uma
barreira invisível à prova de sons, impedindo que qualquer palavra de
Melzinha entrasse em meus ouvidos. Ela já estava acostumada a conversar
sozinha de qualquer maneira, não faria diferença.
As meninas
apenas foram embora quando o sol já não estava mais nos iluminando.
Quando ele começou a se pôr, fomos para o meu quarto fazer nada de útil,
o que era o usual.
Tomei um banho com a água dolorosamente fria.
Cada respingo que tocava em minha pele me fazia soltar um gemido de dor.
Eu me esqueci que preguiça é um pecado, e pecados geram conseqüências.
Duvidava de que conseguiria colocar uma peça de roupa em meu corpo, mas
Meredith me convenceu a colocar uma camisola de seda.
Deitei-me com
muita dificuldade, e agradeci pelos lençóis serem igualmente de seda, o
que fazia minha pele relaxar ao toque frio do tecido.
“Luinha?”
escutei alguém sussurrar em tom desesperado, e eu sabia de onde aquele
som vinha. De alguém que se encontrava abaixo da minha janela. Aquilo só
podia ser brincadeira! Eu nem de castigo estava para precisar de algum
dos meus amigos para me seqüestrar!
“Luinha?” o individuo insistiu.
Desejei não ter escutado, e deixar a pessoa se esgoelando até cansar.
Entretanto, pensei na possibilidade de ser algo importante. Chay não
apareceria a essa hora em minha casa se fosse algo sem importância,
afinal, haviam inventado algo chamado telefone.
Com a mesma
dificuldade que me deitei, me levantei. Parecia que minhas juntas haviam
sito queimadas assim como minha pele. Devo me lembrar de ir com roupas
para um banho de piscina da próxima vez.
Arrastei-me como uma lesma
até a imensa janela, enquanto a pessoa insistia em gritar pelo meu nome.
Ele nunca fora tão irritante.
Fiquei inevitavelmente surpresa ao
ver a figura de Borges parada em frente à minha janela. Ele parecia
muito abatido, percebi que seus olhos estavam inchados e vermelhos
apesar do escuro.
“O que aconteceu, Micael?” perguntei preocupada.
Ele encarou os próprios pés, talvez não quisesse que eu o visse naquele
estado deprimente.
“Você poderia descer aqui?” ele pediu em um tom
choroso. Olhei para o relógio enorme pendurado na parede atrás de mim.
Oito e meia. Acho que Mary não teria um ataque cardíaco se eu fosse
ajudar um amigo desesperado.
“Espere um instante” murmurei antes de adentrar meu quarto novamente para pegar um penhoar.
Saí
do quarto rapidamente, desci a interminável escada, até chegar ao
escritório de meu pai, onde eu tinha certeza de que ele estaria, lendo
algum livro de sua biblioteca pessoal.
“Pai?” o chamei, e vi o mais velho tirar o charuto de sua boca.
“Sim, querida” ele respondeu carinhoso. Aproximei-me dele, até ficar de frente à mesa onde estava sentado.
“Lembra
de Micael Borges?” perguntei, e John assentiu. “Bom, acho que ele está
com problemas e ele está na frente de nossa casa... Eu poderia chamá-lo
para entrar, assim poderíamos conversar?” supliquei no melhor tom de voz
que eu possuía. Era impossível me recusar qualquer coisa quando eu
usava aquele tom. Meu pai franziu o cenho e eu aumentei minha expressão
de suplica.
“Não acha muito tarde, filha?” ele perguntou olhando no relógio, mas com o mesmo tom carinhoso de antes.
“Sim
papai, mas eu não lhe pediria se não fosse realmente importante...”
falei apreensiva. Papai alisou seu bigode, ainda com uma expressão
incerta, mas no final relaxou sua feição.
“Tudo bem, convide-o para
entrar e vão para a sala. Mas não se demorem” ele concluiu e eu sorri,
indo em sua direção a fim de dar-lhe um beijo estalado na bochecha.
O
mordomo, Noel, foi em direção à porta principal e abriu-a para que eu
passasse. Senti-me absurdamente aliviada quando senti um vento gélido
soprar a minha face, fazendo com que a ardência desaparecesse por alguns
instantes. Procurei por Borges no jardim, até o ver sentado no gramado
em frente ao meu quarto.
“Hey!” gritei e Micael desprendeu sua
atenção das roseiras ao seu lado e me olhou. Fiz um gesto com a mão para
que ele viesse ao meu encontro, e assim o fez.
Micael mantinha suas
mãos nos bolsos de sua calça jeans, e vestia uma jaqueta bege para
proteger da ventania. Ele realmente estava abatido e triste, e percebi
que seus olhos estavam inchados por, definitivamente, chorar.
“Tem algum problema?” ele sussurrou antes de entrar pela grande porta.
“Nenhum”
sorri e coloquei a mão em seu ombro, incentivando-o. Ao passar pelo
salão de entrada, Micael olhou em direção ao meu pai e acenou, me
seguindo até o sofá que ali tinha. Noel se ofereceu à fazer um chá, e
foi em direção à cozinha.
“O que aconteceu, Micael?” perguntei assim que nos sentamos um do lado do outro. O garoto fungou antes de responder.
“É
a Flávia... Luinha, você sabe o que está acontecendo?” ele mantinha o
tom desesperado e percebi que ele estava prestes a chorar. Não entendi
muito bem sua pergunta.
Quero dizer, eu não sabia o que estava
acontecendo com Flávia. Eu havia a visto hoje e não percebi nada de
diferente para falar a verdade.
“Porque pergunta?” indaguei curiosa. Micael fungou novamente.
“Ela
está estranha, Luinha. Fui à sua casa antes de vir aqui, e ela foi tão
fria que estava irreconhecível! E no final, ela ainda mandou eu sumir e
parar de infernizar a vida dela!” ele já não segurava mais suas
lagrimas, e tinha o rosto escondido entre suas mãos. Noel chegou à sala
com uma bandeja e a depositou na mesinha redonda de centro. Servi-nos.
“Eu
realmente não sei o que dizer Micael... Quero dizer, hoje ela estava
normal aqui em casa... Tirano o fato de que não estava conversando
muito. Mas isso é normal em TPM, por exemplo!” falei pensativa. “SIM! É
TMP, Micael!” disse com uma certeza na voz, mas no fundo eu estava
incerta.
“Não estou muito certo sobre isso...” começou ele
cabisbaixo. “Dessa vez foi diferente, Luinha. Ela realmente queria isso.
Eu pude perceber...” Micael bagunçou seus cabelos nervosamente.
“Eu
vou conversar com ela por você, Micael...” prometi e logo o abracei,
sentindo a manda do meu penhoar se molhar com as lagrimas do meu amigo.
Ele fez um movimento com a cabeça, concordando, e me apertou fortemente,
o que me fez contrair já que eu era a nova torrada humana .
“E eu
preciso dizer... Você está um charme assim... Parecendo um pimentão...”
ele ironizou em meio de lagrimas. Ri e dei um tapinha em sua cabeça.
Agora
eu precisava descobrir o que acontecia com Flávia. Nunca pensei que ela
pudesse agir dessa maneira com relação a Borges, já que parecia ser tão
apaixonada pelo mesmo. Algo sério estava acontecendo...
xxxx
Era a milésima vez que eu trocava de roupa. Estava em frente ao espelho do meu guarda-roupa há duas horas.
Eu não conseguia me decidir entre as peças jogadas em cima da minha cama, parecia que nenhuma ficava bem o suficiente.
Para
piorar minha situação, aquele era o meu primeiro encontro. Como agir? O
que falar? Eu tinha a absoluta certeza de que eu acabaria falando
alguma bobagem, ou pior, não falar nada. Provavelmente eu deixaria Ben
falando com as paredes por estar nervosa demais.
Gritei por Meredith a fim de ajuda, e ela veio correndo imediatamente.
“Que
roupa usar no primeiro encontro, Mere?” perguntei enquanto ainda me
analisava, com um vestido rosa e tomara-que-caia em frente ao meu corpo.
“Acho que devia usar o azul com a faixa branca. Você vai ficar
esplendida” ela respondeu em um tom sonhador. Foi em direção à cama e
pegou o tal vestido, entregando-me. Peguei de sua mão e coloquei em
minha frente, imaginando mentalmente como eu ficaria. Parecendo uma
pamonha enrolada, como todos os outros.
“Vamos, vista!” Meredith exigiu, me empurrando ao banheiro para que eu experimentasse o Chanel.
Abri
o zíper de traz, e passei as pernas pelo vestido, indo em direção à
Meredith novamente, para que ela me ajudasse. Ela subiu o zíper, arrumou
o cinto em meu corpo, pegou um sapato branco de verniz, com um pequeno
salto.
Admito, caiu bem, milagrosamente. Mere prendeu meus cabelos
em um rabo torto para o lado e me virou para que pudesse me observar.
“Não
disse? Está maravilhosa!” ela disse triunfante entre palmas. “Agora
vamos dar um acabamento final...” foi em direção ao meu banheiro,
pegando a maletinha rosa com minhas maquiagens.
Passou um blush rosado em minhas maçãs do rosto, delineador nas pálpebras superiores e para finalizar, o rimel.
“Senhorita?”
Noel bateu na porta do meu quarto. “O Sr. Suede a aguarda na sala...”
disse formalmente e minhas mãos começaram a suar.
“OH MEU DEUS, MEREDITH!” comecei a dar pulos ridículos e a andar de um lado para o outro.
“Lua,
se acalme! Você vai ficar toda suada e seu perfume irá embora! Vocês só
vão à sorveteria!” ela pareceu uma amiga. Com certeza seria o que Mel
diria. Para mim não era uma simples sorveteria... Quero dizer, era a
sorveteria com o garoto que sonho em casar!
Tola. Estúpida.
Meredith me segurou pelos ombros e me forçou a olhá-la.
“Vai
dar tudo certo, querida! Acalme-se! Respire...” ela inspirou
profundamente, me induzindo a fazê-lo também. Contei mentalmente até
dez, e finalmente me relaxei. Não no modo literal da palavra, apenas
superficialmente.
“Certo. Estou calma” inspirei novamente. “Vamos”
agarrei a mão da minha criada, e fomos correndo corredor e escadas
abaixo. Meredith reclamando que não tinha mais forma para aquilo.
Quando
cheguei no grande salão lá estava ele. Perfeito como eu me lembrava,
com o sorriso mais encantador do mundo. Conversava animadamente com a
minha mãe, que ria de cada palavra que saía daquela linda boca.
Desci
os últimos degraus timidamente, já que nessa hora, os olhos de Benjamin
pararam sobre mim. Ele veio ao meu encontro, pegou minha mão e
depositou um beijo delicado na mesma.
Minha mãe (e Meredith)
assistiam a cena admiradas, como se estivéssemos participando de um
lindo filme de romance. O que para mim, era.
Entrelacei o braço no dele, e voltamos ao sofá onde estavam sentados. Sentei-me ao seu lado.
“Então,
Benjamin, sei que minha querida está em boas mãos” começou Mary, como
se eu fosse o orgulho de sua vida. “Mas preciso que a traga antes das
dez. Toque de recolher, você entende, não querido?” ela disse com um
imenso sorriso. Falsa.
“Claro, senhora Blanco. Luinha estará aqui
nesse horário, eu prometo” ouvir aquela voz era melhor do que qualquer
música clássica. Ele me olhou e sorriu, pegando em minha mão logo em
seguida. Não consegui conter minha mandíbula, que se contraiu sem que eu
mandasse estímulos para meu cérebro.
“Vamos?” Ben me perguntou.
“Claro...”
respondi baixinho, sendo levantada pela mão por ele. Despedi-me de
mamãe, que sussurrou algo como ‘Divirta-se’ seguido de um ‘Comporte-se’.
Previsível. Relaxe mamãe, tentarei ao máximo não manchar o precioso
sobrenome de sua família.
Seguimos de mãos dadas pelo enorme gramado, já fora de casa, até os portões de ferro serem abertos para nossa passagem.
“Você está linda” Ben disse sorridente antes de abrir a porta do carro para mim.
“Você também” falei ao reparar finalmente em sua roupa. O normal.
Calça jeans, uma camiseta com sua jaqueta preta por cima. Era marca registrada de Benjamin Suede. Perfeito.
Ele gargalhou e sentou no banco do motorista, dando partida no carro logo em seguida.
Colocou
o radio na Power Hit, onde tocava alguma música do Johnny Cash, a qual
Ben começou a cantar de um jeito hilário, me fazendo rir histericamente.
“Mas me diga, vamos para a Nonna’s?” me sentei de lado para
encará-lo após a crise de riso. Nonna’s era a sorveteria mais popular de
Bolton, onde todas as turmas, dos colégios mais populares da cidade, se
encontravam.
“Sim. Mas nossa parada por lá vai ser curta. Há um
outro lugar onde quero te levar...” respondeu ele misterioso. Nem
preciso dizer que a curiosidade corroeu meus órgãos internos.
“E que lugar seria esse?” fiz uma feição angelical, tentando arrancar a informação dele, apesar de saber que não me contaria.
“Eu já lhe disse para deixar de ser curiosa?” ele indagou rindo e eu soltei um ruído chocado, fingindo-me ofendida.
“Já lhe disse para não responder uma pergunta com outra?” intimidei.
“Percebeu que você acabou de fazer isso?” Ben continuou rindo. Rolei os olhos.
“Você é um chato” voltei à posição normal no banco, cruzando meus braços e fingindo estar emburrada.
“Obrigada,
querida” ele disse sem olhar para mim, esticando o braço e começando a
fazer cócegas em mim. Eu me contorcia no banco de couro do Pontiac, e
implorava para que ele parasse.
“NÃO, BEN, PARE!” eu gritava em meio de risos.
“Fala que eu sou lindo” ele exigiu convencido.
“VOCÊ É LINDO!” continuei a gritar, enquanto ele não cansava o braço para minha infelicidade.
“Fala que está adorando sair comigo” ele continuou com seu joguinho, rindo histericamente do meu sufoco.
“EU...ESTOU...ODIANDO
SAIR COM VOCÊ!” falei rindo, entrando em seu jogo. Claro que era
mentira, como alguém odiaria um encontro com Benjamin? Não alguém
normal... E minha sanidade mental é ótima.
“Menina má” ele parou o
carro e se curvou para fazer mais cócegas. Meus pés se debatiam sobre o
porta-luva, eu gritava por socorro para as pessoas que passavam na
calçada. Esses com certeza não concordavam sobre minha sanidade mental
estar tão bem assim...
“OKAY, OKAY!” gritei e Ben afastou suas mãos
de mim. Ficou me encarando apreensivo, segurando o riso. “Estou amando
sair com você, Suede!” falei num tom sarcástico e rolei os olhos. Ele
segurou meu queixo e me fez olhar em seus olhos. Concentre-se, Lua...
“Eu sabia...” ele falou com o tom mais convencido possível, se contraindo depois que comecei a estapeá-lo.
Ele
roubou um selinho antes de sair do carro e ir em direção à minha porta,
o que fez todo o sangue do meu corpo se concentrar em minhas bochechas.
Ben abriu a porta e segurou minha mão para que eu saísse, e não a
largou enquanto andávamos em direção à entrada da Nonna’s. Como
habitual, estava lotado de carros na porta. De todos tipos, cores e
marcas.
De fora do recinto era possível escutar a música que tocava. Eu reconheci imediatamente, como a fanática por Elvis que sou.
A
fachada da sorveteria era muito moderna, mais do que muitos
restaurantes em Bolton. Era rosa, rodeada por vidros onde era possível
ver o movimento lá dentro. Haviam mesinhas do lado de fora também, onde
ficavam a maioria dos casais apaixonados. Mesinhas azul-piscina, o que
combinava com o grande letreiro no telhado, com um reluzente ‘Nonna’s’.
Ben
parecia conhecer cada pessoa ali, já que acenava constantemente para
alguns que eu jamais havia visto. Eu andava meio cabisbaixa, sempre tive
algo como preguiça para cumprimentar as pessoas. Ato anti-social,
admito.
Suede abriu a grande porta de vidro cheia de anúncios para mim, e já pude sentir a animação ali dentro.
Era a ultima semana de férias, então todos pensavam em curtir o máximo.
As
mesas da sorveteria ficavam entre dois estofados que a contornava, e
havia milhares assim espalhados ao logo do recinto. As paredes eram
amarelas, com quadros que iam de pin-ups à cardápios de sorvetes. Era
tudo muito colorido. Apenas o chão, que eram azulejos brancos e pretos,
variava.
Vi muitos rostos familiares ali, os rostos usuais, que eu sempre via quando resolvia sair.
Como uma escola, o Nonna’s também era dividido em grupos.
Em
um canto, o grupo das garotas populares e promiscuas do meu colégio,
Ladywood School. Em outro, os garotos que cobiçavam essas garotas. Bem
poético.
Em outro canto, ficavam os roqueiros e revoltados da
cidade. Andando mais um pouco, você via as puritanas, os estudiosos, os
modernos, alternativos, e uma interminável lista de estilos.
Vi meus amigos em uma mesa no fundo, e assim que entramos, pude ouvir Chay se esgoelado.
“Esse
louco não faz parte da minha família...” Ben sussurrou divertido em meu
ouvido. Ri enquanto vi o pequeno Suede se aproximar. A diferença entre
ele e seu irmão mais velho era visível. Não tanto na aparência, mas Chay
era muito desengonçado, enquanto seu irmão tinha uma silhueta perfeita.
O estilo de roupas era totalmente diferente, Chay era mais casual. Mas
cada um com seu jeito especial de ser.
“Cunhada!” o garoto me
abraçou animado, talvez com a idéia de eu ser sua melhor amiga e estar
com seu irmão. Ele deu um murro fraco no ombro de Ben, que bagunçou o
cabelo do mais novo.
Cumprimentei o resto do pessoal pelo ombro de
Chay, que não percebeu que me tampava, e muito menos se incomodou.
Melzinha tinha uma feição curiosa, provavelmente me ligaria de madrugada
para saber os detalhes. Flávia encarava as próprias unhas tediosas,
Micael a encarava triste e Arthur estava conversando com uma garota que
nunca havia visto na vida. Fernando me encarava inexpressivo, com o
rosto apoiado em uma das mãos. Assim que nossos olhos se encontraram,
ele fez questão de olhar para outro canto, antes que eu pudesse o
cumprimentar. A educação mandou lembranças, Roncato.
“Parece que o clima ali está pesado...” comentei como que não quer nada.
“E está. Fiquei feliz que chegaram, assim...” Chay começou empolgado, mas foi cortado pelo irmão.
“Não
pense que vai sentar conosco, pirralho. Pode voltar para o seus
amiguinhos, hoje é somente eu e Luinha” Ben se adiantou, cortando a
felicidade de Chay em mil pedaços. Tive vontade de rir de sua cara
tristemente forjada. Ben piscou para o irmão, e fomos em direção à uma
mesa vazia, na direção contraria da que meus amigos estavam.
Acenei uma ultima vez à Melzinha, que sorriu tão empolgada quanto Chay anteriormente.
Sentamos lado a lado, Ben passou um braço em meus ombros, e uma garçonete veio nos atender.
Nunca
concordei particularmente com o uniforme de trabalho dessas garotas.
Tudo curto demais, sexy demais. Isso me fez sentir pouco a vontade, já
que a garota encarava Ben descaradamente, pouco se importando com a
minha humilde presença.
“O que você vai querer, linda?” ele voltou
sua atenção para mim, já que antes conversava animado alguma coisa sem
importância para mim, já que eu me menosprezava em pensamento.
“Um
milkshake de morango e creme, por favor...” falei ainda de cabeça baixa,
brincando com o porta-guardanapo. Benjamin repetiu meu pedido e fez o
dele, agradecendo educadamente à garçonete oferecida.
Assim que ela saiu, se virou para mim e deu um beijo em minha testa.
“Tem uma moeda?” perguntei vagamente, o vendo concordar e me entregar.
Levantei-me
e fui em direção à jukebox que ficava no fundo da sorveteria. Escutei
sussurros sobre mim ao longo do meu caminho até lá, mas fiz questão de
ignorar e me manter focada naquele objeto gigante e reluzente. Assim que
cheguei, observei o catálogo de músicas, e meus olhares foram diretos à
letra “e”. Coloquei a moeda no local indicado, apertei a tal letra, e o
número “4”, que indicava a música All Shook Up.
A voz perfeita de Presley invadiu o lugar, e as pessoas ali ficavam cada vez mais empolgadas ao longo da musica.
“Só
podia ser a Blanco!” escutei a voz de Chay gritar do outro lado da
sorveteria. Fiz uma careta e voltei à minha mesa com um humor melhor.
Era esse o efeito de Elvis sobre mim.
Fui dançando todo o caminho, vendo Ben rir enquanto eu fazia caras e bocas.
Nossos pedidos já haviam chegado, e meu milkshake esperava ansiosamente para ser ingerido por mim.
Ao
longo do nosso lanche, eu roubava pedaços de waffle de Ben, ele me
lambuzava de sorvete e calda de chocolate, e conversamos sobre
inutilidades aleatórias. Ele pediu a conta, pagou e nos levantamos para
ir embora.
Acenei novamente para meus amigos, que continuavam com
suas feições de velório, exceto por Chay e Melzinha que riam
escandalosamente.
“Agora você pode me contar pra onde vamos?” continuei com minha curiosidade importuna.
“Meu Deus, como alguém tão pequeno pode ser tão irritante?” ele falou para si mesmo, dando partida no carro. [n/a: plágio, ooi]
“E
você continua me respondendo com perguntas” bufei e voltei minha
atenção às ruas, vendo o sol se pôr lentamente no horizonte.
Depois de vinte minutos dentro do Pontiac, Ben finalmente parou em uma rua que eu conhecia muito bem.
Ela era igualmente movimentada à Trafford Square, onde ficava a Nonna’s.
Lá
estava o Hewlet Bowl, onde nós vínhamos quase todos os sábados jogar
boliche, a maioria dos restaurantes da cidade, alguns bares noturnos bem
famosos. Normalmente, a Trafford Square era onde os colegiais se
encontravam, e na Packard Road concentrava pessoas da idade de Ben ou
mais adultos. Eu só a freqüentava com meus pais, ou para o boliche à
tarde. Eu era proibida à ir lá, de acordo com Mary, era um lugar
inapropriado para a minha idade.
Olhei insegura para Ben, que sorriu
e me deu a mão para que eu saísse do carro. Hesitei por alguns
instantes, pensando no que poderia acontecer se minha mãe descobrisse.
‘Tudo que é proibido é mais prazeroso’, minha mente esclareceu.
Aceitei a mão de Benjamin, e ele começou a me guiar pela movimentada calçada.
Eu
não tinha noção de que uma rua poderia ser tão movimentada, ainda mais
às nove da noite (e em um subúrbio como Bolton), já que eu sempre estava
acostumada a dormir antes deste horário, o que justificava a minha
falta de noção.
Eu olhava maravilhada as vitrines dos pubs e restaurantes, as pessoas mais velhas que eu se divertindo horrores.
O
fato de eu ser mais nova (e muito) me incomodou no começo, mas aos
poucos, Suede me relaxava com suas conversas distraídas. Andamos um
pouco até chegar no final da rua, onde na esquina havia este imenso e
chamativo lugar. Sua placa escrito ‘Block Dancing Pub’ piscava a cada
segundo, chamando a atenção de toda a rua.
Pessoas e mais pessoas lá entravam, as mulheres com suas saias rodadas, saltitando ao lado de seus belos parceiros.
A
cada passada, sentia que estávamos chegando cada vez mais perto ao tal
pub, e indagando se Ben tinha em mente o mesmo que eu pensava. Não que
eu quisesse, longe de mim.
“Voce não esta pensando em...”
“Sim, estou pensando nisso. Pensando não, nós vamos, Lua” ele me interrompeu, prevendo o que eu falaria.
“Benjamin,
eu...não sei...dançar!” falei pausadamente cada palavra, para ver se
conseguia colocar um mínimo de juízo em sua cabeça. Ele gargalhou, e
fiquei na duvida se era uma risada divertida ou sarcástica.
“Vamos
lá, Luinha, nós dois sabemos muito bem que você é ótima dançarina. Já
sugeri que você deveria participar do Dancing Days, e como o festival é
no final de fevereiro, pensei em começarmos a treinar” ele dizia
empolgado, enquanto eu escutava cada palavra em choque.
“Suede, eu
estava um pouco alterada o dia em que dancei na casa do Arthur, você não
pode usar isso como álibi!” protestei, parando de andar imediatamente.
“Eu não vou participar de festival nenhum! E muito menos dançar ai. Já
ouvi falar desse lugar, é onde os melhores dançarinos da cidade se
divertem. É muita humilhação para mim.”
“Você é muito dramática,
Lua” ele disse rolando os olhos. “Se você não for por bem... Bom, vai
carregada” e antes que eu pudesse resmungar mais alguma coisa, eu estava
praticamente de cabeça para baixo, nos ombros de Benjamin, chamando a
atenção das pessoas mais do que a placa do Block Dancing.
“ME PÕE NO
CHÃO, SEU LOUCO!” eu me debatia e dava tapas nas costas de Ben,
enquanto ele se matava de rir. Patética. “Você está impossível hoje,
Benjamin Herick Suede!”
“Sua culpa, baby” silibou ele entre risos.
“Duas
entradas, por favor” estávamos na bilheteria, e Ben ainda me segurava
nos ombros, causando o choque entre as pessoas que passavam por nós.
“NÃO VENDA, MOÇA, POR FAVOR!” eu gritei por entre os ombros do garoto, sem ver a feição da vendedora por detrás do balcão.
Provavelmente ela pensava que Ben era um psicopata e eu, uma louca varrida. Mesmo assim, a mulher não me atendeu.
Ben só me colocou no chão, quando senti o vendo gélido do ar condicionado bater sobre mim.
Luzes
de todas as cores saiam do teto, fumaça saia do chão, e as pessoas
dançavam na pista à frente. Tocava algum jazz, que pela minha falta de
cultura não pude identificar.
Era lindo. Cada um dos casais tinham
suas próprias coreografias, dançavam em plena harmonia, com grandes
sorrisos estampados em suas faces. Blue Suede Shoes começou a tocar, e
imediatamente fui puxara para o meio da pista.
Ben dançava enquanto andava pelas pessoas, e como na sorveteria, ele parecia conhecer todos.
Paramos exatamente no meio da pista, o que tornou as possibilidades de eu dançar, ainda mais remotas.
Suede começou a dançar sozinho, perfeitamente, inventando passos e apontando para mim, me deixando ainda mais embaraçada.
Ele pegou a minha mão, e me rodou, puxando para si mesmo logo após.
“Vamos
Luinha, mostre à elas quem é que manda aqui” Ben disse apontando com a
cabeça às lindas mulheres que dançavam perfeitamente ao nosso redor. Era
obvio que qualquer uma delas mandava ali, exceto eu. Rolei os olhos e
não resisti à não dançar, isso era impossível, ainda mais com o parceiro
que eu tinha.
Começamos a dançar o rockabilly rítmico que tocava,
inventando passos tão espontâneos que chegavam a ser magnífico. Ele me
girava em alguns passos, nossos pés se moviam igualmente, indo de um
lado para outro o tempo todo. Com certeza éramos o casal mais empolgado
e, principalmente, o mais louco.
No final da música, Ben me levantou no ar, em um esplendido final.
“Yeah!”
ele gritava enquanto eu batia palmas e ria do garoto à minha frente,
que parecia ter ganhado algum premio. Depois de seu showzinho, veio em
minha direção e me beijou. Assim... de surpresa. Como era de se esperar,
minas pernas pareciam não obedecer aos estímulos nervosos que meu
cérebro mandava para que elas permanecessem rígidas. Seu beijo era doce e
suave... Sua boca se movimentava contra a minha delicadamente, e suas
mãos estavam rígidas em meu rosto. Quando ele partiu o beijo, para que
eu pudesse finalmente retomar o ar que faltava em meu sangue e pulmões,
Ben começou a me encarar.
Meu rosto ainda estava em suas mãos, então
nem a liberdade de olhar timidamente para outro lugar eu tinha. Seus
olhos azuis pareciam perfurar os meus, tamanha a intensidade de seu
olhar.
“Pare com isso...” pedi sem graça, sentindo minhas bochechas queimarem.
Ele abriu um pequeno sorriso antes de me dar um selinho e voltar a me encarar.
“Quer
namorar comigo, Lua Blanco?” sua voz aveludada nunca pareceu tão
perfeita ao dizer aquelas cinco palavras, com meu nome incluso.
Continua...
nossa, que legal!
ResponderExcluirGostei!
tbem kkkkkkkkkk
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