Capítulo 3
I'm what you make me, you've only to take me, and in your arms I will stay
Eu
estava de castigo havia três dias. A única coisa que minha mãe permitia
que eu comesse era bolachas com chá. Mas John sempre dizia a Meredith
levar-me algo mais para eu me sustentar ao longo do dia. Mary sempre
entrava em meu quarto e perguntava se eu tinha algo para lhe dizer.
Obviamente eu não tinha, muito menos ia ter. Ela já estava desistindo de
mim.
Chay me mandava cartas, contando sobre suas excitantes férias,
de como ele e Mel estavam quase namorando, contava novidades de Arthur ,
Micael, Fernando...
Nunca mencionava Ben, seu irmão. Esse também
não me procurou. Não sei por que estava tão preocupada, afinal, foi só
um beijo. Para mim, não fora somente isso. Mas eu não tinha a mínima
idéia do que se passava na cabeça de alguém com 23 anos. Se fosse alguém
como meus amigos, facilitaria.
Meus pensamentos foram dispersos assim que escutei alguém bater sobre a madeira da porta do meu quarto.
“Entre” falei distraída.
Mary
deslizou elegantemente para dentro, impressionante como, apesar de seus
quarenta e tantos anos, ela continuava tão jovial. Seus cabelos
castanhos batiam um pouco abaixo dos ombros, e combinavam perfeitamente
com seu tom cor de neve de pele. Seus olhos eram incrivelmente azuis e
suas maçãs do rosto eram levemente rosadas. Eu estava sentada em minha
cama, com um novo livro em mãos, e minha vitrola invadia o quarto com a
linda voz de Presley.
“Vejo que sua rebeldia não cessou...” Mary disse secamente, olhando-me severamente.
“Não
sou rebelde, mãe...” bufei e fechei meu livro. Ela começou a andar de
um lado para o outro. Seus saltos ecoando no chão de mármore, e sua saia
esvoaçava ao longo de seus movimentos.
“Percebi que de nada adianta
mantê-la aqui” aquele barulho de seus sapatos me irritava. “Resolvi
libertá-la por enquanto. Entretanto, você terá que ir à festa de Charles
Suede hoje à noite” Mary falava com calma cada palavra. Ela sabia como
eu não suportava sair com ela, já que eu era obrigada a fingir ser a
filha perfeita da família perfeita. Fiz uma careta e fui repreendida.
“A não ser que queira continuar trancada durante todos os dias das férias de verão...” ela continuou com seu tom severo.
“Eu irei, mãe” falei irritada.
“Ótimo.
Coloque seu Channel preto que comprei semana passada. Ficará
esplendida” disse ela por fim, e deixou o quarto rapidamente, não me
dando chance de protestar. Encostei minha cabeça atrás da cama e desejei
que o tempo passasse muito devagar.
Eram sete da noite e Mary
fazia maquiagem em mim. Eu estava mais irritada após ela ter quase
esmagado meus órgãos vitais tentando fechar o zíper do vestido. Eu me
mexia na cadeira, enquanto ela me dava tapas no braço.
Assim que
terminou, levantei-me e fui em direção ao espelho embutido no
guarda-roupa. Eu estava... apresentável. Meu vestido era de seda preto
até os joelhos, uma faixa abaixo dos seios verde, e tomara-que-caia.
Mary havia feito um elegante coque em meus cabelos, e a maquiagem era igualmente bonita.
“Você
está linda...” até me elogiando ela parecia grosseira. Minha mãe estava
atrás de mim, e eu podia vê-la através do espelho. Sorri tímida, e ela
logo desfez sua feição materna. “Estou te esperando no andar de baixo” e
saiu do quarto.
Fiquei me encarando por alguns instantes, pontuando os defeitos até ficar deprimida, e desci.
Meus pais estavam sentados no sofá da sala de entrada.
“Você está deslumbrante, minha filha...” papai disse com um brilho diferente nos olhos. Corei. “Vamos.”
Seguimos até o carro onde o motorista nos aguardava.
A
casa dos Suede era tão grande quanto a nossa. Charles Suede era o
prefeito de Bolton, o que justificava seu tamanho. A fachada estava
decorada com balões e faixas com números e um slogan “Vote Suede!” Era a
festa da nova campanha de reeleição do pai de Chay.
Uma musica
clássica era tocada a fundo por uma orquestra e haviam garçons zanzando
com bandejas de champanhe e comidas estranhas.
“Luinha!” alguém
gritou e antes que eu pudesse perceber que era, vi um chumaço de cabelos
tampando minha visão. “Como eu estava com saudades!” Melzinha me soltou
e eu ajeitei o vestido em meu corpo.
“Eu também estava, Melzinha”
falei meio desanimada, já que não estava com o mínimo de humor para
festas. Ela cumprimentou meus pais e depois ignorou meu desanimo, me
puxando pelo braço festa adentro. Ela tagarelava sobre seu romance com
Chay, contava que fora apresentada a seus pais e coisas do tipo.
Como
sempre, ela estava linda. Melzinha pegou duas taças de champanhe, sem
se importar com o fato de que nossos pais estavam ali.
Minha cabeça virava para os lados a procura de alguém em especial. Eu o veria, era inevitável.
Minha
amiga me levou para frente do palco improvisado, onde vi meus amigos
sorridentes. Chay foi o primeiro a correr em minha direção e me dar um
abraço de urso. Ele me tirou do chão enquanto eu me debatia em seu colo.
“Oi boneca” ele disse animado, dando um beijo estalado em minha bochecha.
“Você
é um brega, Suede” rolei os olhos e me soltei de seus braços. Micael
também veio em minha direção e me abraçou. Roncato acenou.
“Sentimos
sua falta, Luinha. Ninguém consegue ser mais retardado que você... Nem
mesmo o Chay” Arthur apareceu atrás de mim, passando um braço em meus
ombros e o outro em Melzinha.
“Te odeio, Arthur ” me livrei de seu
braço e fingi-me emburrada. Os garotos embalaram uma conversa inútil,
apenas para não perder o costume e eu fiquei totalmente distraída. Até o
ponto em que eu o vi.
Ele conversava com meus pais, com aquele
sorriso lindo estampado em seu rosto. Ele estava vestido de um jeito tão
sério e responsável, e mesmo assim ficava perfeito.
Ben
gargalhava e dava tapinhas no ombro do meu pai. Hora e outra, percebi
que elogiava minha mãe também. Corei quando me realizei do motivo para
toda aquela bajulação. De repente, seu olhar rodou o enorme salão até
parar sobre mim. Seu sorriso foi aberto novamente, e eu fiquei tão
desnorteada que esqueci de sorrir de volta.
Ben pediu licença aos
meus pais e veio caminhando a meu encontro. Seu andar era perfeito, o
modo como suas pernas se moviam de um modo sincronizado era perfeito.
Ele tinha o olhar fixo em mim e um pequeno sorriso nos lábios.
Assim
que estava relativamente próximo, pegou minha mão e depositou um beijo
de leve na mesma. O toque de seus lábios macios e quentes me fez tremer
as pernas.
“Boa noite, princesa” se fosse Chay dizendo, eu
provavelmente diria novamente o quanto ele era brega, mas não era Chay.
Tudo naquela voz perfeita era lindo.
Era incrível como eu ficava sem ação diante de Ben. Talvez ele tivesse um poder hipnotizante ou algo assim.
“Noite...”
sussurrei num tom distraído. Escutei alguém reclamar algo atrás de nós,
mas eu estava despreocupada demais para saber quem era.
“Dançaria
comigo?” ele sugeriu com um enorme sorriso e sobrancelhas arqueadas.
Balancei a cabeça como um sim, me sentindo a patética dos patéticos.
Ben
me conduziu ate o meio do salão, e senti dezenas de pares de olhos
sobre nós. Não me importava, já que os meus estavam concentrados em
apenas um.
Uma musica lenta e melosamente romântica tocava, e Ben continuava me conduzindo pelo emaranhado de pessoas. Paramos.
Suas
mãos deslizaram do começo da minha nuca até minha cintura, e cada fio
de pêlo do meu corpo se arrepiou. Sua outra mão tocou delicadamente a
minha.
Graças às minhas aulas de dança no verão passado, eu não
cometi nenhuma atrocidade. Nos movimentávamos de modo sincronizado, sua
cabeça encostada na minha, e hora ou outra eu sentia seus lábios quentes
sobre minha pele.
“Você está uma princesa, Luinha” ele disse num
tom suave e doce, bem perto do meu ouvido. Senti meu sangue queimar em
minhas maçãs do rosto.
“Obrigada” sussurrei. Qualquer um ficaria sem palavras (e fôlego).
Tive
vontade de perguntar-lhe por onde esteve nos últimos dias, o porquê de
não ter me procurado, ligado ou ate mesmo mandado um bilhete pelo Chay,
mas minha garganta simplesmente se fechava, impossibilitando a saída de
uma palavra sequer. Para piorar, suas mãos deslizavam carinhosamente
pelas minhas costas.
“O que você fez essa semana?” arrisquei. Meu
corpo agora estava mais próximo do de Ben, e eu já sentia correntes
elétricas eletrocutarem meus ossos. Ele sorriu e seus lábios aproximaram
do meu ouvido, e ele sussurrou;
“Pensei em você... Todos os dias”
acho dispensável quaisquer comentário. Minhas bochechas queimaram,
obviamente, e eu olhei para o chão em forma de timidez.
Continuamos movimentando em silencio. Eu esperava que ele não pudesse ouvir minha respiração descompassada.
“Posso
te ver essa semana?” Ben pediu delicadamente. Era impossível recusar
tal oferta. Bufei depois de lembrar do castigo estúpido em que me
encontrava.
“Não posso. Estou de castigo” rolei os olhos.
“Esse
não é mais um problema. Falei com seus pais e me responsabilizei pelo
que aconteceu” ele mostrou todos seus dentes num sorriso impecável. “E
pedi permissão para sair com você. Temos um passe livre...” continuou
ele. Tive vontade de saltitar como uma criança, mas me contive com um
sorriso.
“Como você conseguiu?” perguntei abobada, afinal, aquilo era uma proeza que eu nunca consegui em dezessete anos.
“Digamos que tenho meus charmes...” eu não poderia discordar.
Continuamos
nos balançando, eu sentia seu perfume bagunçar os meus sentidos, e
aquilo já me irritava. Ate que vi alguém cutucar Ben, mas por ele ser o
dobro do meu tamanho, não pude saber quem era.
Suede se virou, então vi que Roncato o encarava sem sorrir.
“Posso
ter a mão da Luinha?” escutei sua voz soar friamente. Ben também o
encarou com a mesma intensidade. Não sabia o motivo, mas podia ver
faíscas entre eles.
“Como quiser...” o mais velho finalmente disse,
quebrando aquele clima tenso. Ben se virou para mim e fez um gesto
cortês antes de me deixar ali com Fernando . Eu estava entendendo
absolutamente nada.
“O que foi isso, Fernando ?” perguntei enquanto ele colocava sua mão em minha cintura.
“O que foi o quê?” ele fez cara de desentendimento e pegou minha outra mão.
“Não responda uma pergunta com outra” falei seca. Coloquei uma mão em seu pescoço e o vi se contrair. Não pude deixar de rir.
“Só
te chamei para dançar, oras. Não vejo o problema nisso...” continuou
ele inocente. Sua feição era angelical, e seus cabelos castanhos ajudava
em sua inocência. Rimos juntos, e não nego que sua risada era
incrivelmente contagiante.
“Certo...” concordei depois de cessar o riso.
“Você
quer dar uma volta?” ele sugeriu nervoso. Sua voz tremia, assim como
suas mãos em minha cintura. Fernando estava estranho. Concordei acenando
a cabeça e ele me puxou pela mão ate fora do salão.
O jardim da casa dos Suede era imenso. A mãe de Chay era viciada em plantas, pode-se dizer.
Fernando soltou minha mão e começamos a andar lado a lado, em silencio.
“Você
está bem?” coloquei a mão em seu ombro. Ele parecia chateado com algo.
Eu e Fernando nunca fomos melhores amigos como eu e Chay, mas não
deixávamos de ser amigos, e eu me preocupava.
“Estou bem...” ele respondeu vagamente. Não olhava em meus olhos, encarava os próprios pés.
Estávamos
no imenso gramado no fundo da mansão, onde grandes arvores e flores de
todas as cores nos rodeavam. Mais à frente, havia uma ponte sobre um
pequeno lago artificial. Paramos lá. Demorou um tempo ate que aquele
silêncio constrangedor sumisse.
“Então...” falamos ao mesmo tempo.
“Você
pode achar estranho, mas eu preciso te perguntar...” Fernando começou, e
me olhou pelo canto do olho. Fiz um sinal com a cabeça para que ele
continuasse. “Você está gostando do Benjamin?” Em sua voz, o dome de Ben
soou grotesco, com um tom de raiva. Não entendi, já que até onde eu
sabia, os dois eram amigos. Hesitei antes de responder.
“Sim...” respondi simplesmente. Ele agora me encarava de frente, me deixando sem graça.
“Muito?” insistiu ele. Eu estava um pouco incomodada com essa curiosidade instantânea de Fernando .
“Acho
que sim...” falei olhando para qualquer canto do jardim, menos para o
rosto do garoto à minha frente. “Mas por que tanta curiosidade,
Roncato?”
“Bom... Só curiosidade, nada mais...” ele bagunçou seus
cabelos. “Quero dizer... Somos amigos, não somos?” concordei com a
cabeça. “Então... Queria ficar por dentro do seu novo relacionamento!”
completou ele sorridente.
“Fernando ... Você nunca se interessou
pela minha vida... Muito menos em meus relacionamentos! O eu está
acontecendo de verdade?” perguntei desconfiada. Fernando ficava cada vez
mais sem graça, e agora ele apoiava seus braços no suporte da ponte,
encarando o lago.
“É só que... Eu não sei, Luinha, mas estou preocupado dessa vez...” ele respondeu brincando com os próprios dedos.
“Com o que, Fernando?” me pus ao seu lado, de modo que ele pudesse me olhar. Ele o fez.
“Digamos que Ben não seja o melhor cara com garotas...”
“Eu conheço a fama de Benjamin, Roncato” o interrompi.
“Então... Você pode se machucar... Ele pode te machucar...” ele me encarou profundamente.
“Mas
o que te faz pensar que eu seja igual às outras garotas com que ele já
saiu?” indaguei incrédula. Digamos que normalmente Ben não saia com
meninas de melhores índoles de Bolton.
“Você não é igual à elas! Nunca! Esse é o problema, Luinha!” Fernando se adiantou, frenético.
“Pois
eu não vejo problema algum, Roncato. Benjamin me trata extremamente
bem, não há motivos para você estar o julgando dessa forma” me afastei, e
comecei a andar em direção à casa novamente.
Escutei os passos de
Fernando atrás de mim. Logo após, senti suas mãos envolverem meu braço, e
ele me virar para si. Ficamos bastante próximos, para não dizer
fundidos. Eu senti sua respiração bater furiosa contra meu rosto, e seus
olhos me encaravam com uma expressão que confundi por sendo como raiva
ou preocupação. Ou quem sabe os dois.
“Só me prometa que tomará
cuidado” ele disse calmamente cada palavra. Eu fiquei um pouco confusa
por conta de toda aquela proximidade, mas voltei a mim em segundos, me
soltando de seu braço.
“Não preciso de seus conselhos, Fernando.
Você é tão igual ao Ben. Para não dizer que é pior. Guarde-os para você”
falei friamente, voltando a andar novamente, deixando o garoto ali,
parado e sem ação.
Continua...
massa :))
ResponderExcluirmuito :)
Excluirgostei Samy
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