terça-feira, 9 de abril de 2013

Web Doce Amor

                                                Capítulo 3

 
I'm what you make me, you've only to take me, and in your arms I will stay
Eu estava de castigo havia três dias. A única coisa que minha mãe permitia que eu comesse era bolachas com chá. Mas John sempre dizia a Meredith levar-me algo mais para eu me sustentar ao longo do dia. Mary sempre entrava em meu quarto e perguntava se eu tinha algo para lhe dizer. Obviamente eu não tinha, muito menos ia ter. Ela já estava desistindo de mim.
Chay me mandava cartas, contando sobre suas excitantes férias, de como ele e Mel estavam quase namorando, contava novidades de Arthur , Micael, Fernando...
Nunca mencionava Ben, seu irmão. Esse também não me procurou. Não sei por que estava tão preocupada, afinal, foi só um beijo. Para mim, não fora somente isso. Mas eu não tinha a mínima idéia do que se passava na cabeça de alguém com 23 anos. Se fosse alguém como meus amigos, facilitaria.

Meus pensamentos foram dispersos assim que escutei alguém bater sobre a madeira da porta do meu quarto.
“Entre” falei distraída.
Mary deslizou elegantemente para dentro, impressionante como, apesar de seus quarenta e tantos anos, ela continuava tão jovial. Seus cabelos castanhos batiam um pouco abaixo dos ombros, e combinavam perfeitamente com seu tom cor de neve de pele. Seus olhos eram incrivelmente azuis e suas maçãs do rosto eram levemente rosadas. Eu estava sentada em minha cama, com um novo livro em mãos, e minha vitrola invadia o quarto com a linda voz de Presley.

“Vejo que sua rebeldia não cessou...” Mary disse secamente, olhando-me severamente.
“Não sou rebelde, mãe...” bufei e fechei meu livro. Ela começou a andar de um lado para o outro. Seus saltos ecoando no chão de mármore, e sua saia esvoaçava ao longo de seus movimentos.
“Percebi que de nada adianta mantê-la aqui” aquele barulho de seus sapatos me irritava. “Resolvi libertá-la por enquanto. Entretanto, você terá que ir à festa de Charles Suede hoje à noite” Mary falava com calma cada palavra. Ela sabia como eu não suportava sair com ela, já que eu era obrigada a fingir ser a filha perfeita da família perfeita. Fiz uma careta e fui repreendida.
“A não ser que queira continuar trancada durante todos os dias das férias de verão...” ela continuou com seu tom severo.
“Eu irei, mãe” falei irritada.
“Ótimo. Coloque seu Channel preto que comprei semana passada. Ficará esplendida” disse ela por fim, e deixou o quarto rapidamente, não me dando chance de protestar. Encostei minha cabeça atrás da cama e desejei que o tempo passasse muito devagar.

Eram sete da noite e Mary fazia maquiagem em mim. Eu estava mais irritada após ela ter quase esmagado meus órgãos vitais tentando fechar o zíper do vestido. Eu me mexia na cadeira, enquanto ela me dava tapas no braço.
Assim que terminou, levantei-me e fui em direção ao espelho embutido no guarda-roupa. Eu estava... apresentável. Meu vestido era de seda preto até os joelhos, uma faixa abaixo dos seios verde, e tomara-que-caia.
Mary havia feito um elegante coque em meus cabelos, e a maquiagem era igualmente bonita.
“Você está linda...” até me elogiando ela parecia grosseira. Minha mãe estava atrás de mim, e eu podia vê-la através do espelho. Sorri tímida, e ela logo desfez sua feição materna. “Estou te esperando no andar de baixo” e saiu do quarto.
Fiquei me encarando por alguns instantes, pontuando os defeitos até ficar deprimida, e desci.
Meus pais estavam sentados no sofá da sala de entrada.
“Você está deslumbrante, minha filha...” papai disse com um brilho diferente nos olhos. Corei. “Vamos.”
Seguimos até o carro onde o motorista nos aguardava.

A casa dos Suede era tão grande quanto a nossa. Charles Suede era o prefeito de Bolton, o que justificava seu tamanho. A fachada estava decorada com balões e faixas com números e um slogan “Vote Suede!” Era a festa da nova campanha de reeleição do pai de Chay.
Uma musica clássica era tocada a fundo por uma orquestra e haviam garçons zanzando com bandejas de champanhe e comidas estranhas.
“Luinha!” alguém gritou e antes que eu pudesse perceber que era, vi um chumaço de cabelos tampando minha visão. “Como eu estava com saudades!” Melzinha me soltou e eu ajeitei o vestido em meu corpo.
“Eu também estava, Melzinha” falei meio desanimada, já que não estava com o mínimo de humor para festas. Ela cumprimentou meus pais e depois ignorou meu desanimo, me puxando pelo braço festa adentro. Ela tagarelava sobre seu romance com Chay, contava que fora apresentada a seus pais e coisas do tipo.
Como sempre, ela estava linda. Melzinha pegou duas taças de champanhe, sem se importar com o fato de que nossos pais estavam ali.

Minha cabeça virava para os lados a procura de alguém em especial. Eu o veria, era inevitável.
Minha amiga me levou para frente do palco improvisado, onde vi meus amigos sorridentes. Chay foi o primeiro a correr em minha direção e me dar um abraço de urso. Ele me tirou do chão enquanto eu me debatia em seu colo.
“Oi boneca” ele disse animado, dando um beijo estalado em minha bochecha.
“Você é um brega, Suede” rolei os olhos e me soltei de seus braços. Micael também veio em minha direção e me abraçou. Roncato acenou.
“Sentimos sua falta, Luinha. Ninguém consegue ser mais retardado que você... Nem mesmo o Chay” Arthur apareceu atrás de mim, passando um braço em meus ombros e o outro em Melzinha.
“Te odeio, Arthur ” me livrei de seu braço e fingi-me emburrada. Os garotos embalaram uma conversa inútil, apenas para não perder o costume e eu fiquei totalmente distraída. Até o ponto em que eu o vi.
Ele conversava com meus pais, com aquele sorriso lindo estampado em seu rosto. Ele estava vestido de um jeito tão sério e responsável, e mesmo assim ficava perfeito.

Ben gargalhava e dava tapinhas no ombro do meu pai. Hora e outra, percebi que elogiava minha mãe também. Corei quando me realizei do motivo para toda aquela bajulação. De repente, seu olhar rodou o enorme salão até parar sobre mim. Seu sorriso foi aberto novamente, e eu fiquei tão desnorteada que esqueci de sorrir de volta.
Ben pediu licença aos meus pais e veio caminhando a meu encontro. Seu andar era perfeito, o modo como suas pernas se moviam de um modo sincronizado era perfeito. Ele tinha o olhar fixo em mim e um pequeno sorriso nos lábios.
Assim que estava relativamente próximo, pegou minha mão e depositou um beijo de leve na mesma. O toque de seus lábios macios e quentes me fez tremer as pernas.
“Boa noite, princesa” se fosse Chay dizendo, eu provavelmente diria novamente o quanto ele era brega, mas não era Chay. Tudo naquela voz perfeita era lindo.
Era incrível como eu ficava sem ação diante de Ben. Talvez ele tivesse um poder hipnotizante ou algo assim.
“Noite...” sussurrei num tom distraído. Escutei alguém reclamar algo atrás de nós, mas eu estava despreocupada demais para saber quem era.
“Dançaria comigo?” ele sugeriu com um enorme sorriso e sobrancelhas arqueadas. Balancei a cabeça como um sim, me sentindo a patética dos patéticos.
Ben me conduziu ate o meio do salão, e senti dezenas de pares de olhos sobre nós. Não me importava, já que os meus estavam concentrados em apenas um.
Uma musica lenta e melosamente romântica tocava, e Ben continuava me conduzindo pelo emaranhado de pessoas. Paramos.
Suas mãos deslizaram do começo da minha nuca até minha cintura, e cada fio de pêlo do meu corpo se arrepiou. Sua outra mão tocou delicadamente a minha.
Graças às minhas aulas de dança no verão passado, eu não cometi nenhuma atrocidade. Nos movimentávamos de modo sincronizado, sua cabeça encostada na minha, e hora ou outra eu sentia seus lábios quentes sobre minha pele.
“Você está uma princesa, Luinha” ele disse num tom suave e doce, bem perto do meu ouvido. Senti meu sangue queimar em minhas maçãs do rosto.
“Obrigada” sussurrei. Qualquer um ficaria sem palavras (e fôlego).

Tive vontade de perguntar-lhe por onde esteve nos últimos dias, o porquê de não ter me procurado, ligado ou ate mesmo mandado um bilhete pelo Chay, mas minha garganta simplesmente se fechava, impossibilitando a saída de uma palavra sequer. Para piorar, suas mãos deslizavam carinhosamente pelas minhas costas.
“O que você fez essa semana?” arrisquei. Meu corpo agora estava mais próximo do de Ben, e eu já sentia correntes elétricas eletrocutarem meus ossos. Ele sorriu e seus lábios aproximaram do meu ouvido, e ele sussurrou;
“Pensei em você... Todos os dias” acho dispensável quaisquer comentário. Minhas bochechas queimaram, obviamente, e eu olhei para o chão em forma de timidez.
Continuamos movimentando em silencio. Eu esperava que ele não pudesse ouvir minha respiração descompassada.
“Posso te ver essa semana?” Ben pediu delicadamente. Era impossível recusar tal oferta. Bufei depois de lembrar do castigo estúpido em que me encontrava.
“Não posso. Estou de castigo” rolei os olhos.
“Esse não é mais um problema. Falei com seus pais e me responsabilizei pelo que aconteceu” ele mostrou todos seus dentes num sorriso impecável. “E pedi permissão para sair com você. Temos um passe livre...” continuou ele. Tive vontade de saltitar como uma criança, mas me contive com um sorriso.
“Como você conseguiu?” perguntei abobada, afinal, aquilo era uma proeza que eu nunca consegui em dezessete anos.
“Digamos que tenho meus charmes...” eu não poderia discordar.
Continuamos nos balançando, eu sentia seu perfume bagunçar os meus sentidos, e aquilo já me irritava. Ate que vi alguém cutucar Ben, mas por ele ser o dobro do meu tamanho, não pude saber quem era.

Suede se virou, então vi que Roncato o encarava sem sorrir.
“Posso ter a mão da Luinha?” escutei sua voz soar friamente. Ben também o encarou com a mesma intensidade. Não sabia o motivo, mas podia ver faíscas entre eles.
“Como quiser...” o mais velho finalmente disse, quebrando aquele clima tenso. Ben se virou para mim e fez um gesto cortês antes de me deixar ali com Fernando . Eu estava entendendo absolutamente nada.
“O que foi isso, Fernando ?” perguntei enquanto ele colocava sua mão em minha cintura.
“O que foi o quê?” ele fez cara de desentendimento e pegou minha outra mão.
“Não responda uma pergunta com outra” falei seca. Coloquei uma mão em seu pescoço e o vi se contrair. Não pude deixar de rir.
“Só te chamei para dançar, oras. Não vejo o problema nisso...” continuou ele inocente. Sua feição era angelical, e seus cabelos castanhos ajudava em sua inocência. Rimos juntos, e não nego que sua risada era incrivelmente contagiante.
“Certo...” concordei depois de cessar o riso.
“Você quer dar uma volta?” ele sugeriu nervoso. Sua voz tremia, assim como suas mãos em minha cintura. Fernando estava estranho. Concordei acenando a cabeça e ele me puxou pela mão ate fora do salão.
O jardim da casa dos Suede era imenso. A mãe de Chay era viciada em plantas, pode-se dizer.
Fernando soltou minha mão e começamos a andar lado a lado, em silencio.
“Você está bem?” coloquei a mão em seu ombro. Ele parecia chateado com algo. Eu e Fernando nunca fomos melhores amigos como eu e Chay, mas não deixávamos de ser amigos, e eu me preocupava.
“Estou bem...” ele respondeu vagamente. Não olhava em meus olhos, encarava os próprios pés.
Estávamos no imenso gramado no fundo da mansão, onde grandes arvores e flores de todas as cores nos rodeavam. Mais à frente, havia uma ponte sobre um pequeno lago artificial. Paramos lá. Demorou um tempo ate que aquele silêncio constrangedor sumisse.
“Então...” falamos ao mesmo tempo.
“Você pode achar estranho, mas eu preciso te perguntar...” Fernando começou, e me olhou pelo canto do olho. Fiz um sinal com a cabeça para que ele continuasse. “Você está gostando do Benjamin?” Em sua voz, o dome de Ben soou grotesco, com um tom de raiva. Não entendi, já que até onde eu sabia, os dois eram amigos. Hesitei antes de responder.
“Sim...” respondi simplesmente. Ele agora me encarava de frente, me deixando sem graça.
“Muito?” insistiu ele. Eu estava um pouco incomodada com essa curiosidade instantânea de Fernando .
“Acho que sim...” falei olhando para qualquer canto do jardim, menos para o rosto do garoto à minha frente. “Mas por que tanta curiosidade, Roncato?”
“Bom... Só curiosidade, nada mais...” ele bagunçou seus cabelos. “Quero dizer... Somos amigos, não somos?” concordei com a cabeça. “Então... Queria ficar por dentro do seu novo relacionamento!” completou ele sorridente.
“Fernando ... Você nunca se interessou pela minha vida... Muito menos em meus relacionamentos! O eu está acontecendo de verdade?” perguntei desconfiada. Fernando ficava cada vez mais sem graça, e agora ele apoiava seus braços no suporte da ponte, encarando o lago.
“É só que... Eu não sei, Luinha, mas estou preocupado dessa vez...” ele respondeu brincando com os próprios dedos.
“Com o que, Fernando?” me pus ao seu lado, de modo que ele pudesse me olhar. Ele o fez.
“Digamos que Ben não seja o melhor cara com garotas...”
“Eu conheço a fama de Benjamin, Roncato” o interrompi.
“Então... Você pode se machucar... Ele pode te machucar...” ele me encarou profundamente.
“Mas o que te faz pensar que eu seja igual às outras garotas com que ele já saiu?” indaguei incrédula. Digamos que normalmente Ben não saia com meninas de melhores índoles de Bolton.
“Você não é igual à elas! Nunca! Esse é o problema, Luinha!” Fernando se adiantou, frenético.
“Pois eu não vejo problema algum, Roncato. Benjamin me trata extremamente bem, não há motivos para você estar o julgando dessa forma” me afastei, e comecei a andar em direção à casa novamente.
Escutei os passos de Fernando atrás de mim. Logo após, senti suas mãos envolverem meu braço, e ele me virar para si. Ficamos bastante próximos, para não dizer fundidos. Eu senti sua respiração bater furiosa contra meu rosto, e seus olhos me encaravam com uma expressão que confundi por sendo como raiva ou preocupação. Ou quem sabe os dois.
“Só me prometa que tomará cuidado” ele disse calmamente cada palavra. Eu fiquei um pouco confusa por conta de toda aquela proximidade, mas voltei a mim em segundos, me soltando de seu braço.
“Não preciso de seus conselhos, Fernando. Você é tão igual ao Ben. Para não dizer que é pior. Guarde-os para você” falei friamente, voltando a andar novamente, deixando o garoto ali, parado e sem ação.


Continua...

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