Capítulo 10
Melzinha e eu já havíamos arrumado nosso piquenique, farto de comida.
Todos os garotos haviam trago bobagens também. E como eu havia dito, a
pobre comida de Melzinha nem foi tocada. A não ser por ela claro.
"Ew,
Suede, coma com a boca fechada!" dei um tapa no ombro do garoto ao meu
lado, que toda hora insistia em mostrar o que comia. Só que dentro de
sua boca. "Mel, dê um jeito nesse seu namorado nojento!" fiz cara da
nojo e vi Melzinha dar um peteleco na orelha de Chay.
"Vocês são uns
ingratos e vão morrer por tanto colesterol!" Melzinha disse indignada.
"Ninguém sequer tocou nas frutas! Olhe só quanta maçã bonita! Porque
ninguém come?" indagou ela irritada.
"Bom, eu até comeria a maçã, mas
barra de cereal sabor gengibre? Você só pode estar brincando, né,
Melzinha?" Fernando disse debochado, fazendo os demais garotos rirem e
Melzinha se frustrar mais ainda.
Os esfomeados acabaram com a
comida em minutos e foram correr um atrás do outro como um bando de
gazelas. Gazelas, de verdade. Corriam saltitantes, dando empurrões uns
nos outros. Meus amigos são gazelas.
"Às vezes acho que meu namorado
tem tendências gays... Você sabe como isso está na moda, acho que ele tá
entrando nessa..." Melzinha cochichou discreta no meu ouvido, e vi que
Chay era o mais saltitante e... Alegre entre os demais. "Se ele já não
tivesse me provado o quão homem é, eu duvidaria..." disse ela
normalmente.
"MEL! Me poupe dos detalhes sórdidos!" dei um tapa em
sua coxa, fazendo-a rir. De repente, vimos os quatro garotos se juntarem
e cochicharem olhando para nós. Eu me intriguei com isso, odeio que
cochichem e deixem na cara que falem sobre mim.
"HEY, OTÁRIOS, O QUE
ESTÃO FALANDO?" gritei, atraindo a atenção dos idiotas, que se
aproximaram com sorrisos marotos nos rostos. "Ei, por que esses sorrisos
idiotas no rosto?" falei desesperada enquanto eles se aproximaram cada
vez mais. Micael arqueou as sobrancelhas, dando-o uma expressão
maléfica.
"SAIAM DAQUI!" Mel gritou quando eles chegavam cada vez mais perto.
"MUAHAHAHA" Arthur gritou antes de correr em nossa direção.
"AAAAAAAAAH!"
gritamos juntas e desatamos a correr, vendo os quatro marmanjos, com o
dobro do tamanho de nós duas, correrem atrás de nós. Eu não sabia se
ria, corria ou gritava, acho que teria um ataque a qualquer momento.
De
repente senti alguém me derrubar pelos joelhos, me colocar em seu ombro
e começar a correr. Pelos cabelos castanhos que tampavam minha visão,
percebi que era Fernando.
"RONCATO, ME PONHA NO CHÃO AGORA!"
esperneei por cima do garoto, escutando suas risadas de fundo e suas
mãos apertarem minhas pernas firmemente. "ONDE VOCÊ ESTÁ ME LEVANDO?"
"Sossega
ai, Luinha" vi Micael passar por nós correndo, e desaparecendo de vista
por entre as árvores à nossa frente. Olhei para trás e vi que estávamos
descendo a montanha, e Melzinha estava sendo carregada por Chay e
Arthur, enquanto esperneava e gritava como eu.
Alcançamos a floresta, e a essa altura eu já havia cansado e resistido por ser carregada por Fernando.
"Regime
é bom às vezes, Luinha" disse ele antes de me colocar delicadamente no
chão. Antes de batê-lo, olhei à nossa volta e vi o rio Stahl bem à nossa
frente. Não era como o riacho que havíamos ido nas férias, este não era
totalmente rodeado por árvores, era em total espaço aberto.
"Vá se
danar, Fernando" falei alheia, vendo-o se afastar. Micael já estava
dentro da água, fazendo gracinhas e jogando água para cima. Fernando
tirou sua camisa, jogou em minha direção e pude escutá-lo caindo dentro
d'água. Sua camisa foi parar em minha cabeça, tampando totalmente minha
visão.
Fiquei desnorteada a partir do momento em que senti o cheiro
do garoto invadir minhas narinas. Eu não estava me entendendo. Antes de
tirá-la do meu rosto, escutei os três restantes passarem correndo por
mim e pularem na água também. Assim que tirei a camisa, pude vê-los
todos dentro do rio, gargalhando e jogando água um no outro.
"Vamos, entre, Luinha!" Arthur gritou de longe.
"Vocês
escolheram um péssimo dia para nadar. Sabem, problemas femininos..."
rolei os olhos e implorei para que eles entendessem. Não estava a fim de
explicar o que seriam problemas femininos.
Tirei o chapéu do
colégio da minha cabeça e me sentei de uma forma relaxada, observando os
cinco se divertindo. Claro que me amaldiçoei mentalmente por ser
mulher. Tem milhões de desvantagens.
"Vou dar uma volta!" gritei, mas acho que ninguém me escutou. Me levantei assim mesmo e rumei mata adentro.
Pouca
luz chegava ali devido às densas copas das enormes árvores. Além dos
gritos dos meus amigos, eu podia escutar o pio de pássaros e o bater de
suas asas ao se assustar com a minha presença ali.
Andei mais um
pouco até sair da floresta e estar novamente na montanha. Tive que
correr um pouco até chegar em seu topo e ficar aonde antes estavam todos
os seis.
Comecei a pensar nas tantas coisas que vinham acontecendo.
Todas as mudanças, emoções que eu vinha sentindo e principalmente, todo o
quebra-cabeça que havia sendo montado no meu coração. Eu só esperava
que alguém tivesse a capacidade de montá-lo do jeito certo e desfazer
aquele nó enorme que estava em meu estômago.
Eu odeio mudanças. Era
por esse motivo que eu sempre tive minha rotina perfeitamente calculada,
assim nenhum deslize era cometido da minha parte. Mas ultimamente,
todas as regras que haviam sido ditadas à mim, estavam sendo quebradas
aos poucos por uma só pessoa: Fernando Roncato.
"God bless the
day I found you... I want to stay around you and so I beg you, let it be
me" escutei uma voz soar por trás de mim, uma voz que fez meus olhos se
fecharem e meu coração acelerar. "Don't take this heaven from one if
you must cling to someone. Now and forever, let it be me" senti suas
mãos envolverem cada meus cotovelos e movendo-se lentamente até minhas
próprias mãos. "Each time we meet love, I find complete love. Without
your sweet love what would life be. So never leave me lonely, tell me
you love me only and that you'll always. Let it be me" ele apoiou seu
queixo em meu ombro e inspirou uma grande quantidade de ar perto do meu
pescoço, me fazendo arrepiar dos pés à cabeça.
Fernando entrelaçou seus dedos nos meus, e abriu meus braços lentamente até que eles ficassem abertos como se fossem asas.
Eu
mantinha meus olhos fechados, e meus arrepios agora eram causados pelo
vento frio que passava por nós e a respiração quente de Fernando em meu
pescoço.
"Let it me be... " ele repetiu em um sussurro, depositando um leve beijo no local onde antes eu sentia seu nariz.
Abri meus olhos e dei de cara com o vale extremamente verde abaixo de nós, e em momento algum o medo passou perto de mim.
Fechei
meus braços lentamente, trazendo os de Fernando juntos, e depositei
nossas mãos sobre a minha barriga. Fernando ainda tinha o queixo apoiado
em mim, então quando eu virei suavemente meu rosto, senti meu nariz
encostar em sua bochecha e desse jeito fiquei. Ele foi levado levemente
para trás quando a bochecha de Fernando se moveu para abrir um sorriso
nos lábios, fazendo um se abrir nos meus.
Movimentei meu nariz
suavemente, acariciando a pele macia do garoto. Soltei uma das mãos e a
levei no outro lado do rosto angelical de Roncato. Minhas unhas tocaram
de leve seu maxilar, trilhando caminhos até sua boca. Subitamente,
soltei-me totalmente dele e me virei para ficar à sua frente. O garoto
envolveu minha cintura com suas mãos e as minhas estavam espalmadas em
seu tórax bem definido. Nossos narizes estavam colados e nossas bocas
estavam a milímetros de distância uma da outra. Eu sabia que aquilo era
errado, sabia que era muito errado. Mas então por que meu coração
palpitava tanto contra meu peito e dizia repetidamente que era tão
certo? Porque parecia tão certo, sendo que era errado? Não fazia
sentido... Nada tinha sentido... Eu os havia perdido há muito tempo. Eu
sentia calafrios percorrerem toda a minha espinha e minhas mãos
começarem a suar compulsivamente. Eu não poderia ir contra meu coração.
Eu não poderia assassinar o jardim de borboletas que zanzavam no meu
estômago. Era simplesmente desumano.
Vi Fernando fechar seus olhos e
abrir um singelo sorriso no canto de seus lábios. O vi, também, se
aproximar lentamente a ponto de quase acabar com toda a distância que
havia entre nós. Ele iria me beijar. Fernando Roncato iria me beijar. O
que estava acontecendo? Eu não podia resistir. Eu iria cometer uma
atrocidade.
Então pude sentir a ponta de seus lábios macios e úmidos tocarem os meus. Eu estava no paraíso e ninguém me avisou.
Antes
de podermos seguir em frente como em um sonho, escutei um barulho vindo
da floresta. Automaticamente me afastei de Fernando em um pulo, e vi
Chay e Arthur saírem por entre as árvores.
"Ai estão vocês!" Chay
gritou, vindo correndo em nossa direção. Sacudi a cabeça negativamente,
caindo finalmente em sã consciência e analisando o que eu estava prestes
a fazer. Além de quase ter beijado um dos meus melhores amigos, eu
estava prestes a trair o irmão do meu melhor amigo! O meu namorado!
"Me desculpe, não posso fazer isso" falei nervosa, e fui correndo em direção ao Fusca vermelho parado à alguns metros dali.
O que havia de errado com a minha pessoa? O que esse garoto estava fazendo comigo?
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Vamos comentar LuCáticas?