sábado, 13 de abril de 2013

Web Doce Amor

                                Capítulo 10




Melzinha e eu já havíamos arrumado nosso piquenique, farto de comida. Todos os garotos haviam trago bobagens também. E como eu havia dito, a pobre comida de Melzinha nem foi tocada. A não ser por ela claro.
"Ew, Suede, coma com a boca fechada!" dei um tapa no ombro do garoto ao meu lado, que toda hora insistia em mostrar o que comia. Só que dentro de sua boca. "Mel, dê um jeito nesse seu namorado nojento!" fiz cara da nojo e vi Melzinha dar um peteleco na orelha de Chay.
"Vocês são uns ingratos e vão morrer por tanto colesterol!" Melzinha disse indignada. "Ninguém sequer tocou nas frutas! Olhe só quanta maçã bonita! Porque ninguém come?" indagou ela irritada.
"Bom, eu até comeria a maçã, mas barra de cereal sabor gengibre? Você só pode estar brincando, né, Melzinha?" Fernando disse debochado, fazendo os demais garotos rirem e Melzinha se frustrar mais ainda.

Os esfomeados acabaram com a comida em minutos e foram correr um atrás do outro como um bando de gazelas. Gazelas, de verdade. Corriam saltitantes, dando empurrões uns nos outros. Meus amigos são gazelas.
"Às vezes acho que meu namorado tem tendências gays... Você sabe como isso está na moda, acho que ele tá entrando nessa..." Melzinha cochichou discreta no meu ouvido, e vi que Chay era o mais saltitante e... Alegre entre os demais. "Se ele já não tivesse me provado o quão homem é, eu duvidaria..." disse ela normalmente.
"MEL! Me poupe dos detalhes sórdidos!" dei um tapa em sua coxa, fazendo-a rir. De repente, vimos os quatro garotos se juntarem e cochicharem olhando para nós. Eu me intriguei com isso, odeio que cochichem e deixem na cara que falem sobre mim.
"HEY, OTÁRIOS, O QUE ESTÃO FALANDO?" gritei, atraindo a atenção dos idiotas, que se aproximaram com sorrisos marotos nos rostos. "Ei, por que esses sorrisos idiotas no rosto?" falei desesperada enquanto eles se aproximaram cada vez mais. Micael arqueou as sobrancelhas, dando-o uma expressão maléfica.
"SAIAM DAQUI!" Mel gritou quando eles chegavam cada vez mais perto.
"MUAHAHAHA" Arthur gritou antes de correr em nossa direção.
"AAAAAAAAAH!" gritamos juntas e desatamos a correr, vendo os quatro marmanjos, com o dobro do tamanho de nós duas, correrem atrás de nós. Eu não sabia se ria, corria ou gritava, acho que teria um ataque a qualquer momento.
De repente senti alguém me derrubar pelos joelhos, me colocar em seu ombro e começar a correr. Pelos cabelos castanhos que tampavam minha visão, percebi que era Fernando.
"RONCATO, ME PONHA NO CHÃO AGORA!" esperneei por cima do garoto, escutando suas risadas de fundo e suas mãos apertarem minhas pernas firmemente. "ONDE VOCÊ ESTÁ ME LEVANDO?"
"Sossega ai, Luinha" vi Micael passar por nós correndo, e desaparecendo de vista por entre as árvores à nossa frente. Olhei para trás e vi que estávamos descendo a montanha, e Melzinha estava sendo carregada por Chay e Arthur, enquanto esperneava e gritava como eu.
Alcançamos a floresta, e a essa altura eu já havia cansado e resistido por ser carregada por Fernando.
"Regime é bom às vezes, Luinha" disse ele antes de me colocar delicadamente no chão. Antes de batê-lo, olhei à nossa volta e vi o rio Stahl bem à nossa frente. Não era como o riacho que havíamos ido nas férias, este não era totalmente rodeado por árvores, era em total espaço aberto.
"Vá se danar, Fernando" falei alheia, vendo-o se afastar. Micael já estava dentro da água, fazendo gracinhas e jogando água para cima. Fernando tirou sua camisa, jogou em minha direção e pude escutá-lo caindo dentro d'água. Sua camisa foi parar em minha cabeça, tampando totalmente minha visão.
Fiquei desnorteada a partir do momento em que senti o cheiro do garoto invadir minhas narinas. Eu não estava me entendendo. Antes de tirá-la do meu rosto, escutei os três restantes passarem correndo por mim e pularem na água também. Assim que tirei a camisa, pude vê-los todos dentro do rio, gargalhando e jogando água um no outro.
"Vamos, entre, Luinha!" Arthur gritou de longe.
"Vocês escolheram um péssimo dia para nadar. Sabem, problemas femininos..." rolei os olhos e implorei para que eles entendessem. Não estava a fim de explicar o que seriam problemas femininos.
Tirei o chapéu do colégio da minha cabeça e me sentei de uma forma relaxada, observando os cinco se divertindo. Claro que me amaldiçoei mentalmente por ser mulher. Tem milhões de desvantagens.
"Vou dar uma volta!" gritei, mas acho que ninguém me escutou. Me levantei assim mesmo e rumei mata adentro.
Pouca luz chegava ali devido às densas copas das enormes árvores. Além dos gritos dos meus amigos, eu podia escutar o pio de pássaros e o bater de suas asas ao se assustar com a minha presença ali.
Andei mais um pouco até sair da floresta e estar novamente na montanha. Tive que correr um pouco até chegar em seu topo e ficar aonde antes estavam todos os seis.
Comecei a pensar nas tantas coisas que vinham acontecendo. Todas as mudanças, emoções que eu vinha sentindo e principalmente, todo o quebra-cabeça que havia sendo montado no meu coração. Eu só esperava que alguém tivesse a capacidade de montá-lo do jeito certo e desfazer aquele nó enorme que estava em meu estômago.
Eu odeio mudanças. Era por esse motivo que eu sempre tive minha rotina perfeitamente calculada, assim nenhum deslize era cometido da minha parte. Mas ultimamente, todas as regras que haviam sido ditadas à mim, estavam sendo quebradas aos poucos por uma só pessoa: Fernando Roncato.

"God bless the day I found you... I want to stay around you and so I beg you, let it be me" escutei uma voz soar por trás de mim, uma voz que fez meus olhos se fecharem e meu coração acelerar. "Don't take this heaven from one if you must cling to someone. Now and forever, let it be me" senti suas mãos envolverem cada meus cotovelos e movendo-se lentamente até minhas próprias mãos. "Each time we meet love, I find complete love. Without your sweet love what would life be. So never leave me lonely, tell me you love me only and that you'll always. Let it be me" ele apoiou seu queixo em meu ombro e inspirou uma grande quantidade de ar perto do meu pescoço, me fazendo arrepiar dos pés à cabeça.
Fernando entrelaçou seus dedos nos meus, e abriu meus braços lentamente até que eles ficassem abertos como se fossem asas.
Eu mantinha meus olhos fechados, e meus arrepios agora eram causados pelo vento frio que passava por nós e a respiração quente de Fernando em meu pescoço.
"Let it me be... " ele repetiu em um sussurro, depositando um leve beijo no local onde antes eu sentia seu nariz.
Abri meus olhos e dei de cara com o vale extremamente verde abaixo de nós, e em momento algum o medo passou perto de mim.
Fechei meus braços lentamente, trazendo os de Fernando juntos, e depositei nossas mãos sobre a minha barriga. Fernando ainda tinha o queixo apoiado em mim, então quando eu virei suavemente meu rosto, senti meu nariz encostar em sua bochecha e desse jeito fiquei. Ele foi levado levemente para trás quando a bochecha de Fernando se moveu para abrir um sorriso nos lábios, fazendo um se abrir nos meus.
Movimentei meu nariz suavemente, acariciando a pele macia do garoto. Soltei uma das mãos e a levei no outro lado do rosto angelical de Roncato. Minhas unhas tocaram de leve seu maxilar, trilhando caminhos até sua boca. Subitamente, soltei-me totalmente dele e me virei para ficar à sua frente. O garoto envolveu minha cintura com suas mãos e as minhas estavam espalmadas em seu tórax bem definido. Nossos narizes estavam colados e nossas bocas estavam a milímetros de distância uma da outra. Eu sabia que aquilo era errado, sabia que era muito errado. Mas então por que meu coração palpitava tanto contra meu peito e dizia repetidamente que era tão certo? Porque parecia tão certo, sendo que era errado? Não fazia sentido... Nada tinha sentido... Eu os havia perdido há muito tempo. Eu sentia calafrios percorrerem toda a minha espinha e minhas mãos começarem a suar compulsivamente. Eu não poderia ir contra meu coração. Eu não poderia assassinar o jardim de borboletas que zanzavam no meu estômago. Era simplesmente desumano.
Vi Fernando fechar seus olhos e abrir um singelo sorriso no canto de seus lábios. O vi, também, se aproximar lentamente a ponto de quase acabar com toda a distância que havia entre nós. Ele iria me beijar. Fernando Roncato iria me beijar. O que estava acontecendo? Eu não podia resistir. Eu iria cometer uma atrocidade.
Então pude sentir a ponta de seus lábios macios e úmidos tocarem os meus. Eu estava no paraíso e ninguém me avisou.
Antes de podermos seguir em frente como em um sonho, escutei um barulho vindo da floresta. Automaticamente me afastei de Fernando em um pulo, e vi Chay e Arthur saírem por entre as árvores.

"Ai estão vocês!" Chay gritou, vindo correndo em nossa direção. Sacudi a cabeça negativamente, caindo finalmente em sã consciência e analisando o que eu estava prestes a fazer. Além de quase ter beijado um dos meus melhores amigos, eu estava prestes a trair o irmão do meu melhor amigo! O meu namorado!
"Me desculpe, não posso fazer isso" falei nervosa, e fui correndo em direção ao Fusca vermelho parado à alguns metros dali.
O que havia de errado com a minha pessoa? O que esse garoto estava fazendo comigo?



Continua...

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