domingo, 19 de maio de 2013

Web Doce Amor

                                  Capítulo 32




Bolton, 21 de Janeiro de 1965

Sua carta não poderia ter chegado em um momento mais perfeito. Não sei como te contar o que estou prestes a contar. Não sei qual vai ser sua reação, e ter que contar através de uma carta faz tudo ser mais difícil do que já é. Nunca quis tanto você do meu lado, quero tanto, tanto, tanto que chega a ser insuportável. Ponderei a possibilidade de não te contar pelo medo da sua reação – apesar de saber que ela vai ser extremamente positiva – mas tenho medo do que você possa fazer aí. Sei como você é louco, sei que tentaria fugir e sei que seria até capaz de matar seus oficiais, e não quero que você se meta em alguma confusão que possa alongar nosso tempo separados. Quero que saiba que estou bem, e que não tem nenhum motivo para se preocupar. Vou te contar, porque quero que saiba que agora existem milhões de motivos para você voltar, e que estarei esperando ansiosamente.
Estou esperando um filho seu, Fernando. Nem preciso te dizer o choque que foi descobrir isso, e admito que foi muito difícil cair na realidade. Mas hora nenhuma duvidei de que a escolha certa era tê-lo, porque ele é a prova viva de que você sempre estará comigo. De acordo com o médico, estou grávida de dois meses e você não tem noção da sensação de ter alguém crescendo dentro de si. Agora que o choque e o desespero passaram, é maravilhoso. Mel, Arthur e Micael já sabem e já me deram os presentes mais lindos do mundo. Já temos algumas roupinhas – algumas que foram minhas, inclusive – e alguns brinquedinhos. Micael está super empolgado e comprou uma guitarrinha de plástico, dizendo que nosso filho será uma estrela do rock assim que nascer. Mary está sendo incrível, pode acreditar, ela até admitiu que quer que esta guerra acabe logo para que você volte. Sim, ela disse isso, eu também não acreditaria se não tivesse escutado com meus próprios ouvidos. Ah, diga ao Suede que ele será padrinho, ok?
E o seu pai está radiante. Implorei para que ele não mandasse uma carta antes de mim, porque sabia que ele não aguentaria esconder a surpresa. Ele está amando a ideia de ser avô e já está até construindo um berço especial para o nosso filho. É ainda meio estranho falar nosso filho. Talvez minha ficha ainda não tenha caído completamente, mas acho que aquele brilho de grávida que todos alegam existir já esteja em mim. É claro que todos da cidade já sabem, afinal, moramos em Bolton e você sabe muito bem como uma fofoca não demora a circular por aqui. Como se o povo daqui já não me olhassem torto o suficiente, agora é quase impossível entrar em algum lugar sem ser notada. Mas não me importo, de verdade. Sei que é muito para você assimilar tudo isso que estou te contando, sei que o que você deve estar vivendo aí já é suficientemente difícil, então espero que essa notícia não torne as coisas ainda mais complicadas para você. Por favor, me prometa que não vai fazer nada estúpido. Nós estaremos esperando por você, não importa o tempo que passe. Sei que essa guerra acabará tão rápida quanto começou.
Se cuide.


Para sempre sua,
Luinha.


Para todo lugar que eu ia, levava as duas cartas de Fernando comigo. Poderia parecer besteira, mas tê-las ali dentro do meu bolso me fazia sentir como se ele estivesse andando bem do meu lado, com suas mãos entrelaçadas na minha, me dando aquela sensação de que nada poderia me atingir. Noel, o mordomo da mansão, agora dirigia meu carro por ordens de Mary. Não sei o que se passava em sua cabeça, mas ela achava que agora que eu estava grávida, eu não era capaz de dirigir.
Noel me levava para o sítio do tio Lewis. Eu fazia questão de visitá-lo praticamente todos os dias, e quando eu não estava lá, o senhor Roncato ia até a mansão me visitar. Ele agia como sei que John agiria. Me tratava como se eu fosse de porcelana e pudesse quebrar a qualquer momento. Às vezes aquela superproteção me incomodava, já que ela não vinha apenas de Lewis Roncato, mas também de Mary, Meredith, Mel, Micael e Arthur. O bom de tudo isso era que tudo o que eu pedia, eu conseguia, quase como se eu fosse uma Rainha. Ri do meu pensamento enquanto Noel saia do carro para abrir a porta para mim e eu era recepcionada pelas dezenas de cachorros do sítio. Bradock veio ao meu encontro todo saltitante e quando pulou sobre mim, o cachorro ficou praticamente da minha altura. Fiz um carinho atrás de sua orelha e avistei tio Lewis de longe, correndo em minha direção com um sorriso enorme.
“Sai pra lá, Bradock!” ele empurrou o cachorro com cuidado e me abraçou. “Como está minha nora e meu netinho?”
“Estamos bem” sorri com carinho, retribuindo seu abraço com força. Tudo naquele sítio me lembrava Fernando, e a sensação de estar próxima a ele era reconfortante. Noel nos acompanhou até dentro da casa e tio Lewis arrastou as cadeiras da mesinha da cozinha para que nos sentássemos.
“Fiz seu bolo de chocolate favorito, Luinha” Roncato disse animado indo até o forno e o abrindo, deixando com que aquele cheiro maravilhoso do bolo empesteasse o ar. Minha barriga roncou e achei engraçado, já que antes eu nem ao menos estava com fome. “Luinha devorava um tabuleiro disso aqui quando ainda morava aqui no sítio!” tio Lewis comentou com Noel alegremente, colocando o tabuleiro na nossa frente. Ele fez questão de cortar um enorme pedaço pra mim e raspou a calda de chocolate das beiradas, do modo que eu sempre fazia. Em menos de um minuto eu já tinha devorado o bolo com poucas dentadas.
Visitar tio Lewis era sempre maravilhoso. Não só pelo modo paternal como ele me tratava, mas porque podíamos dividir a saudade de Fernando; eu sabia que ele sentia falta do filho tanto – ou até mais – quanto eu. Ele era solitário, uma vez que era viúvo e seu único amigo restante era John, que também se fora. E agora sem o filho presente eu jamais o deixaria sozinho. Tinha até pedido para que ele se mudasse para a mansão – com o alvará de Mary – mas ele insistia que aquele sítio era a vida dele, e que ele jamais seria capaz de sair dali. Ainda tinha o bar que o fazia companhia todas as noites, então eu presumia que ele não ficaria tão sozinho assim. E afinal de contas, agora com um neto a caminho, ele jamais se sentiria sozinho novamente.

Fui embora do sítio quando o sol começava a se pôr, deixando a paisagem à beira da estrada num tom dourado maravilhoso. Quando passeávamos pelas ruas principais de Bolton até a mansão, passamos em frente ao meu antigo colégio e deixei com que um sorriso escapasse dos meus lábios com todas as memorias que vieram à minha cabeça. Desde as brigas com Flávia até as risadas que Mel sempre arrancava de mim com comentários maldosos sobre as garotas que estudavam conosco. Depois de dirigir mais um pouco, Noel passou em frente ao Nonna’s e um pouco mais a frente tinha o Block Dancing Pub, onde eu antigamente ia para dançar com Benjamin. Tudo agora parecia um passado muito distante, e a lembrança de estar com Benjamin era muito remota, quase completamente apagada na minha mente. Parecia, na verdade, que eu nunca estivera com alguém antes de Fernando. Que existia somente ele na minha vida, e sempre seria assim. Talvez pudesse ser um pensamento romântico e surreal demais, mas era como eu me sentia. Agora mais do que nunca.
Passei a mão em minha barriga e quando passamos em frente à Universidade de Bolton, um novo pensamento clareou minha mente. Pedi para que Noel voltasse e parasse ali em frente, e atravessei o saguão enorme da faculdade rapidamente, antes que sua secretaria se fechasse. A balconista era uma garota que havia estudado comigo no Ladywood, e ela olhou curiosa e descaradamente para minha barriga. Seu nome era Alison, se eu me lembrava bem era uma garota tímida e gentil, talvez pudesse me ajudar com o que eu queria fazer. Eu ainda estava surpresa comigo, já que o pensamento de entrar em uma faculdade já era remoto antes mesmo de Fernando partir para a guerra, e seria uma das últimas coisas que uma pessoa normal – e grávida – teria vontade de fazer. Mas a gravidez em si estava causando todas aquelas confusões em mim, então resolvi simplesmente abraçar o momento.
- Oi Alison, se lembra de mim? – perguntei retoricamente, é claro que ela se lembrava; sabia até mesmo que eu estava grávida.
- Claro, Lua – sorriu gentilmente. – Em que posso te ajudar?
- Eu sei que as inscrições da faculdade já estão fechadas... Eu havia sido aceita em Literatura em Cambridge, mas... – passei a mão com carinho em minha barriga ainda inexistente – Por razões óbvias, não posso me mudar para Cambridge.
- As aulas começaram têm dois meses, Luinha... – ela disse com pesar, se envergonhando depois por ter me chamado pelo meu apelido.
- Não tem problema! Eu consigo acompanhar! Literatura é minha grande paixão, Alison, eu não teria dificuldades em acompanhar... – falei convincente, ainda vendo a expressão indecisa no rosto de Alison. – Tente pelo menos falar com seus superiores. Só isso que te peço.
- Tudo bem. – ela se deu por vencida, entregando-me uma prancheta. – Preencha seus dados aí e verei o que posso fazer.
Sorri agradecida e preenchi o formulário de adesão da Universidade de Bolton. Entreguei-o a Alison antes que pudesse me arrepender daquilo que estava fazendo, agradeci e corri de volta para o carro, e Noel me levou de volta a mansão.

- Você acha que isso é uma loucura? – perguntei à Mel, ainda confusa com a escolha que acabara de fazer. Três dias depois que fui até a Universidade, Alison me ligara animada dizendo que o Conselho da faculdade concordara em me aceitar. O fato crucial talvez fosse que John sempre doara grandes quantidades de dinheiro para mantê-la, e Mary continuara fazendo mesmo depois da morte de papai. Eu não duvidava que ela mesma tivesse ligado lá e pressionado os diretores a me aceitarem. Ela achava que era uma ótima ideia eu voltar para os estudos, mesmo estando naquelas condições. Ocuparia minha cabeça e eu não pensaria tanto com o paradeiro de Fernando.
Todos os dias eu passava metade do meu tempo em frente a uma televisão, louca por notícias da guerra. A Inglaterra e a Irlanda do Norte caíam em peso sobre o Eire, e a ultima vez que tive noticias de Fernando, ele ainda estava em Belfast. Teria ele já partido para Dublin, na luta sangrenta que lá tomava lugar? Eu rezava que não.
Eu tentava ser positiva a maior parte do tempo, mas não conseguia evitar o medo que me afligia toda vez que via um bombardeio na TV. Eu deveria – agora mais do que nunca – participar das passeatas que ocorriam por todas as ruas de Bolton, mas Mary e até mesmo Julian, que depois de ficar sabendo da notícia, me visitava de tempos tem tempos, me convenceram de que aquela não era uma boa ideia para a minha segurança.
- Eu acho sensacional! – Mel respondeu com animação enquanto eu tomava um gole do maravilhoso chá gelado que Meredith havia nos preparado. Estávamos estiradas sob o sol na beirada da minha piscina, pois meu médico aconselhara a pegar o solzinho de manhã para a minha saúde e a do bebê. Mel estava cursando a Universidade de Bolton, fazia psicologia, então ela saberia me aconselhar. – A Universidade é fantástica. Claro que não é nenhuma Cambridge, mas você vai se dar bem. Não pode desistir assim tão fácil dos seus sonhos.
Ela tinha razão. Não era só porque Fernando estava fora – e eu agora estava grávida – que eu deveria parar a minha vida. No momento em que desisti de Direito, ideia de minha mãe na época, a minha maior vontade era cursar Literatura. Aquela vontade voltara com tudo, e eu estava certa de que aquilo seria o melhor para mim. Afinal, eu teria que arrumar um emprego, já que não poderia viver pra sempre da herança de John e muito menos iria tomar conta dos negócios do John, então eu tinha que arranjar algo para fazer e sustentar a mim e àquela criança, algo que eu amasse – de preferência.
Eu me sentia iluminada, de verdade. Às vezes me sentia um pouco mal, já que Fernando estava em uma guerra, mas... Eu tinha o direito de me sentir feliz. Não tinha a mínima ideia de como eu estaria se não tivesse aquele bebê para restaurar as forças em mim. As reviravoltas foram tantas que às vezes eu tinha dificuldades em acreditar que tudo aquilo estava acontecendo de verdade. Parecia um sonho muito surreal. Tudo tinha saído dos trilhos que eu havia planejado, nada mais era como eu pensava que seria. Mas minha vida tinha tomado um rumo que eu agora gostava, e mesmo achando que jamais poderia ser inteiramente feliz com a ausência de Fernando, a parte dele que crescia dentro de mim me completava de uma maneira incrível.
Não pude deixar de imaginar a reação de Fernando. Eu sei que ele agiria exatamente o contrario de tudo o que pedi, mas aquele era ele. Impulsivo, sempre preparado para fazer o que era certo na cabeça dele. No fundo, eu queria que ele fizesse tudo o que fosse possível para voltar à Inglaterra, mas eu sabia que as chances eram mínimas, para não dizer nulas. Na cabeça de seus superiores, a guerra era mais importante que qualquer coisa que seus soldados tivessem deixado para trás. Talvez fosse verdade, mas eu queria mais que tudo que ele estivesse ao meu lado. Entretanto, eu sentia que ele estaria, logo, logo.
- Eu serei uma madrinha fantástica... – Mel disse, me despertando dos devaneios, e tinha certeza que ela o fez de propósito. Eu sei que ela também pensava em Chay tanto quando eu pensava em Fernando, e era bom saber que eu a tinha do meu lado. Senti sua mão tocar minha barriga e sorri.
- A melhor do mundo inteiro. – concordei, sobrepondo minha mão na dela.
- Já pensou em um nome? – ela perguntou curiosa.
Eu já tinha pensado sim. Passava horas e horas na minha cama pensando no nome perfeito. Eu queria que Fernando me ajudasse a escolher, mas tinha certeza que o nome que eu havia pensado o agradaria tanto quanto agradava a mim.
- Joanna se for uma garota. John se for garoto.
Mel não precisava que eu a explicasse os nomes. Queria que, independente do sexo, o nome do meu filho fosse uma homenagem ao meu pai. Talvez eu pensasse mais nele do que em Fernando. A tristeza não mais me abatia quando eu o fazia, agora tudo o que eu sentia era uma saudade enorme, mas saudável. Eu o sentia perto de mim, por mais louco que aquilo parecesse. Sabia o quão feliz ficaria com a notícia de ser avô, e aquilo fazia meu coração apertar de uma saudade quase insuportável. Mas eu me sentia incrivelmente sortuda por tê-lo tido em minha vida e por ter passado momentos fantásticos ao seu lado. Na verdade, meu bebê seria incrivelmente sortudo por ter tantas pessoas maravilhosas ao seu redor.

Mais tarde, Meredith preparara um jantar especial. Micael, Arthur e Julian, juntamente com Mel que continuava lá, jantariam na minha casa. Ela fez um pouco de tudo: lasanha que era meu prato favorito e não mais me fazia enjoar, batata assada com bacon que era o prato favorito de Micael, pão de alho que era a obsessão de Arthur e torta de limão que era a sobremesa favorita de Mel. Eu ainda não sabia qual era a comida favorita de Julian, então esperaria até a noite para descobrir.
Mary recebeu meus amigos com um sorriso alegre, fazendo com que eles me encarassem com uma cara assustada. Eles ainda não estavam acostumados com aquele lado agradável de Mary. Ri histericamente da feição de choque de Arthur para mim.
Sentamo-nos na enorme mesa de jantar, e Arthur já foi direto para a bandeja de pãezinhos. Conversávamos animadamente, sendo o tópico principal o bebê. Eu já sabia que o pobrezinho seria o mascote da turma antes mesmo de nascer.
- Eu acho um absurdo você não dar o nome do seu filho de Micael. Acho inaceitável. John que me desculpe – Micael olhou para o teto, como se conversasse com John lá no céu, me fazendo rir. – Mas Micael é um nome muito mais bonito.
- Ah, cala a sua boca. Se tem um nome bonito aqui, esse nome é Arthur – o outro rebateu, como se o que Micael tivesse acabado de falar fosse o maior absurdo do mundo.
- Pelo amor de Deus, seus nomes não são nada perto do meu. Julian... Sente só o poder! – Julian disse, entrando na brincadeira.
- Todos os nomes são lindos, garotos, mas continuo com John. Tenho certeza que Fernando não iria querer o nome de nenhum destrambelhado no filho dele... – rebati divertida, e então os três entraram numa discussão interminável sobre por que seu nome era mais bonito que o outro.
Fazia tempo que não nos reuníamos como antes. Com festas regadas a álcool, quero dizer. Na verdade, nem me lembrava de qual fora a última. Os meninos continuavam a frequentar festas, isso era óbvio, mas agora nossas reuniões se resumiam a filmes, pipoca e muita conversa jogada fora. Estávamos levando a sério a ideia de não nos afastarmos porque dois membros da nossa gangue estavam temporariamente ausentes.
Nos víamos toda a semana, geralmente nos finais de semana, e era ótimo saber que ainda éramos os mesmos e ainda sabíamos como nos divertir, apesar dos pesares. Julian havia se tornado um membro oficial da turma, apesar de não ser tão atoa como éramos e dedicar a maior parte do seu tempo ao Comitê. Na verdade, a maioria das noticias que eu tinha sobre a guerra, vinham dele. E ele também era uma das pessoas que mais me fazia sentir tranquila, sempre me dizendo que aquela guerra iria acabar logo, sempre me colocando a par das negociações do governo. Micael começaria a trabalhar no consultório do pai e Arthur trabalhava agora com tio Lewis, ajudando-o com o bar, principalmente no que dizia respeito ao som do lugar. Ele era praticamente um roadie das bandas que tocavam lá. Pensando bem, não éramos tão atoas assim.
Eu começaria a estudar na próxima segunda-feira e estava com aquele típico frio na barriga antes do início das aulas. Todos meus amigos consideraram a ideia ótima e já diziam que eu seria uma autora famosa futuramente. Não que eu tivesse a mínima intenção de escrever profissionalmente. Na verdade, não tinha a mínima ideia do que faria quando me formasse.
Eu tinha que viver um dia de cada vez. Minha vida mudaria o suficiente daqui sete meses.

Belfast, 06 de Março de 1965
Como eu deveria começar essa carta? Eu não consigo me expressar ainda nem verbalmente, imagina pôr essas palavras no papel? Você não tem nem noção de como eu fiquei, Luinha. Eu literalmente gritei durante uma hora, e até mesmo os soldados lá da Irlanda devem ter me escutado. Eu acho que nunca me senti tão feliz e tão frustrado em toda minha vinha vida. VOCÊ ESTÁ GRÁVIDA? Eu ainda não consigo acreditar. É a melhor notícia do mundo. Mas ao mesmo tempo, eu fico com uma raiva gigante de pensar que eu não estou aí. E você me conhece bem o suficiente para saber que eu fiz de tudo – do possível ao impossível, tipo tentar fugir – mas não consegui me livrar desse exército maldito. Meu superior me rebaixou durante uma semana, e tive que limpar latrinas, você pode imaginar que não foi nem um pouco agradável.
Você me perdoa por não estar aí? Não imagino como deve estar sendo carregar essa responsabilidade tão grande sozinha. QUE ÓDIO. Eu nunca vou me perdoar por não estar aí com você. Nós devíamos ter fugido no momento em que essa guerra estourou, do jeito que você falou. Eu sei que não depende de mim, mas vou fazer de tudo para que essa merda acabe antes do nosso bebê nascer.
Nosso bebê. Não dá pra acreditar. Eu estou rindo histérico aqui, e meus companheiros já sabem que eu sou louco. Todos me deram parabéns e me abraçaram quando eu saí espalhando a notícia aos sete ventos. Vocês dois já são um sucesso por aqui. Já quase bati em três aqui – de brincadeira, claro – que falaram que vão tentar roubar você de mim quando voltarmos para Londres. Eu jamais deixaria, mas agora vai ser mais impossível ainda.
Sonho todas as noites com você e com o nosso bebê. Não sei por que, mas sinto que é uma menina. Sei que é você que tem que sentir essas coisas, então acho que estou meio grávido também. Isso fez com que Chay me chamasse de louco. Ah, acho que ele está mais animado que eu com a notícia. Disse que será o padrinho mais legal de todos os tempos. Que se for um garoto, ele vai ensiná-lo a tocar guitarra, e que se for garota, era bater em todos os garotinhos que tentarem se aproximar dela. Como se eu já não fosse fazer isso.
Mas então, voltado aos sonhos. Eu digo que acho que é uma garota, porque todos os sonhos que eu tive, vi uma pequena garotinha correndo pelo jardim do sítio. É doido, não é? Ela era linda, como você. Ela tinha seus olhos e não parecia nada comigo, graças a Deus.
Você também já pensou em todos os nomes, aposto. Já até sei que irá colocar John se ele for homem – o que tenho minhas dúvidas –, e apoio totalmente.
Três dias depois da sua carta, chegou a do meu pai contando a notícia. Acho que se sua carta atrasasse, seria ele quem teria me contado. Pode brigar com ele, eu deixo. Ele me contou que você o visita todos os dias, e eu só tenho a te agradecer por isso. Não é sua obrigação cuidar dele, e saber que você faz isso por livre e espontânea vontade só confirma ainda mais o quão maravilhosa você é.
Eu te amo mais e mais cada dia que passa e saber o que me espera quando eu voltar me faz o cara mais feliz do planeta. Quero estar aí para ver sua barriga crescer, quero ver nossa filhinha nascer e crescer em uma pessoa maravilhosa como você.
 

Te amo, te amo, te amo.

Sempre seu,
Fernando.



Continua...

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